ZILDO GALLO
Garimpar imagens na imensidão da
internet e observá-las pode ser um bom exercício para compreender o mundo nos
dias de hoje. Muitas vezes as imagens falam por si mesmas, como nas fotografias
de Sebastião Salgado, mas elas podem (servem) para ilustrar crônicas e poemas
como é o caso do meu poema "Água: um Poema à Consciência", que fiz em
homenagem ao povo de semiárido brasileiro. As imagens podem ajudar na
compreensão de textos, podem? Elas podem falar mais que os textos. Às imagens e
ao poema!
TENHO SEDE,
MUITA SEDE.
É A ÁGUA QUE NOS
RESTA.
ÁGUA: UM POEMA À CONSCIÊNCIA
Zildo Gallo
Desapercebido
cidadão,
Anestesiado
cidadão,
Próspero
e pacato cidadão,
Com
que direito lanças nas águas
Os
teus restos intestinais,
Restos
de finas iguarias,
Sem
ao menos te incomodar
Com
que a tua urbe não as purifique
Para
que abaixo outros como tu,
Também
desapercebidos, anestesiados
E
pacatos cidadãos,
Possam
apanhá-las
E usá-las
como usas,
Incomoda-te
cidadão!
Despreocupado
cidadão,
Egocêntrico
cidadão,
Cuja
montanha de abundâncias te impede,
Como
um denso véu,
De
enxergar do outro lado
O menino
que escava o árido solo
À
procura do líquido escuro,
Fétido
E
salobro,
Única
via para saciar a secura
Da
sua sede miserável,
Enxerga
cidadão!
Sossegado
cidadão,
Acomodado
cidadão,
Que
ao girar da torneira
Enxerga
e ouve
O
doce jorrar do líquido,
Pequena
cascata transparente,
Inodora
E
sem sabor,
Nem
imaginas que muitos outros
Cidadãos
como tu
Caminham
léguas e léguas,
Em
rotineira saga,
Na
busca do diamante líquido,
A
maior riqueza da Terra,
Nosso
Planeta Água,
Condoa-te
cidadão!
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