sexta-feira, 31 de maio de 2019

DITOS DAQUI


Zildo Gallo


Pico a mula
Enquanto asnos zurram
E bodes berram

Assim eu revisito
O ladrar dos cães
No passar da caravana
Aqui em terras de pindorama

E assim a canoa vai
Ao seu rumo destinado
Daqui pra lá
De lá pra cá
Num bolero bem dançado

Inshallah! Oxalá!

SADHU


Zildo Gallo


Sozinho na selva humana
Como sadhu mendicante
Só peço aos transeuntes
Um punhado de certezas
Que apenas caibam
Na minha mão direita
E que a esquerda jamais deseje
Minha única verdade é aquela
Que consigo carregar
Andarilhando...
Andarilhando...
E recebendo daqueles
Que bem me olham
E nem me compreendem

sexta-feira, 17 de maio de 2019

VENDILHÕES


 Zildo Gallo


Quando a ignorância chegar,
Olhemo-la compassivos.
Quando a intolerância chegar,
Olhemo-la compassivos.
Quando a violência chegar,
Olhemo-la compassivos.
Como é difícil amar o agressor.
Não é fácil ser cristão,
Duro é dar a outra face.
Nas raias da impossibilidade,
Ainda corre o meu coração.
Irada, ainda me dói a consciência.
Ainda por demais dissociados,
Consciência e coração dançam,
Aos tropeços e aos pisões.
Todavia, é preciso expulsar
Os vendilhões dos nossos templos,
Nossos templos interiores,
Do meu templo interior.


sexta-feira, 10 de maio de 2019

Haicais de 4 (quatro) – baile de ontem

Zildo Gallo


1

No vai da valsa
Para lá e para cá
A velha banda

2

No vai da valsa
Para lá e para cá
A banda toca

3

No vai da valsa
Para lá e para cá
Segue o baile

4

No vai da valsa
Para lá e para cá
A vida segue

quinta-feira, 9 de maio de 2019

PICTOGRAFIA

Zildo Gallo


Haverá tempos mais calmos
Haverá tempos mais tensos
Haverá tempos iluminados
Haverá tempos cinzentos
Assim é a vida...
Paisagens aquareladas suaves
Paisagens oleadas brilhantes
A vida é jogo de luz e sombras
Na tela do solitário pintor
Assim anda a vida...
A paisagem se renova a cada dia
A tela se esmaece no correr dos dias
Exposta à inevitabilidade do tempo
Assim vai-se a vida...


TEMPO E ROUPA SUJA