sexta-feira, 24 de março de 2017

PORTAL DO CÉU (CORAÇÃO)

Zildo Gallo




Uma fresta para o infinito
É o que se abre
Ao se abrir uma trilha
No coração dos homens.

Estrada sinuosa
E com bifurcações
Que conduzem a armadilhas
Uma trilha que se pode seguir
Com o pulsar do próprio coração
Num ajuste do seu ritmo
Ao pulsar do caminho.

O bom caminho é aquele
Que pulsa como a artéria
Que carrega
Na sua correnteza
O sopro da vida.


Zildo Gallo, Piracicaba, SP, 04 de março de 2002

quinta-feira, 23 de março de 2017

Haicais de 4 (quatro) – futebol de meninos

Zildo Gallo


      1

Lá vão meninos
Aos espaços vazios
As bolas rolam...

      2

O tempo passa
Os meninos vão e vêm
Bolas jogadas...

      3

Há que se gritar
Louvar gols inocentes
Real pureza...

      4   

As bolas só são
Instrumentos sonhados
Sonhos pueris...


sexta-feira, 17 de março de 2017

UM NOVO MUNDO É POSSÍVEL. SERÁ POSSÍVEL? UM CHAMADO (GRITO) À REFLEXÃO

Zildo Gallo

Juntei neste artigo quatro textos escritos anteriormente ao dia de hoje, com o objetivo de estimular uma reflexão sobre o futuro da humanidade diante da imensa crise socioambiental que assola o planeta nesta segunda década do século XXI.
No primeiro, Breve manifesto das urgências urgentíssimas do século XXI, sugiro seis urgências que considero essenciais para o processo de mudanças que precisa acontecer: 1) construção de uma ética planetária; 2) construção de uma ética para a economia; 3) eliminação da pobreza; 4) transição para uma economia ecológica; 5) transição para um novo tipo de globalização e; 6) eliminação de todos os tipos de intolerância.
No segundo, Liberdade, Igualdade e Fraternidade em 2017, eu sugiro que sejam retomadas as bandeiras da Revolução Francesa e que tais ideais sejam retomados, rompendo o círculo vicioso do egoísmo e do individualismo.
No terceiro, Mandamentos para o cidadão politicamente correto no século XXI, eu elenquei 37 sugestões aleatórias, na forma de mandamentos, no sentido de que comecemos a produzir um mundo melhor para as gerações futuras.
No quarto, Explicando o bom caminho do desenvolvimento sustentável, partindo do "Modelo da Sustentabilidade", eu aprofundo a discussão do ponto de vista teórico, considerando que economia, meio ambiente e bem-estar-social são indissociáveis para a construção de um mundo melhor.
À leitura!

BREVE MANIFESTO DAS URGÊNCIAS URGENTÍSSIMAS DO SÉCULO XXI


A URGÊNCIA DE UMA ÉTICA PLANETÁRIA

É cada vez mais necessária e urgente a construção de uma ética planetária. É preciso fundar um novo ethos para garantir doravante o convívio entre os homens e destes com a natureza e todos os seres que nela vivem. O PLANETA TERRA NÃO É SÓ DOS HUMANOS e a almejada sustentabilidade deve abranger não só as gerações futuras dos humanos, mas também as de todos os demais seres que convivem com eles neste mundo (de imediato este aprendizado deve ser aceito e incorporado por todos).

A URGÊNCIA DE UMA ÉTICA PARA A ECONOMIA

A aproximação entre a ética e a economia é cada vez mais necessária, mais que necessária nestes tempos onde o capitalismo financeiro transformou-se num verdadeiro cassino (vide a crise de 2008). Nas profundezas de sua essência, o objetivo primordial do sistema econômico deveria ser ético: o bem-estar, O BEM-ESTAR DE TODOS QUE VIVEM E CONVIVEM NO PLANETA TERRA (o sistema econômico precisa ser mais solidário e menos competitivo, o ser humano precisa ser mais solidário e menos competitivo).

A URGÊNCIA DO FIM DA POBREZA

Como ainda tem muita pobreza no mundo, podemos concluir que, por muitos anos ainda, o crescimento da economia deve continuar necessário. Contudo, ele não pode se dar nos antigos moldes, concentrando renda e destruindo o meio ambiente. DESCONCENTRAR RENDA E ELIMINAR A MISÉRIA DEVE SER O OBJETIVO PRIMEIRO DA ECONOMIA MUNDIAL (a liberdade, este bem essencial aos seres humanos, só é possível com a inclusão social).

A URGÊNCIA DE UMA ECONOMIA ECOLÓGICA

O compromisso da economia como ciência e como prática também deve ir além do exclusivo bem-estar dos homens, devendo considerar todos os demais seres que vivem na Terra. OS HUMANOS DEVEM ABANDONAR A ANTIGA E ULTRAPASSADA CONDIÇÃO DE PREDADORES E DEVEM ASSUMIR A CONDIÇÃO DE CUIDADORES (o novo paradigma da sociedade humana deve deslocar-se da conquista para o cuidado, que deve abranger toda a humanidade e todos os demais seres).

A URGÊNCIA DE UM NOVO TIPO DE GLOBALIZAÇÃO

As crises ambientais, econômicas e sociais que abalam o planeta Terra hoje, com consequências ainda não tão previsíveis (será que não são mesmo?), levam-nos a concluir que a morada humana não pode mais se limitar ao estado-nação, ela deve se estender por toda a Terra. O mundo globalizou-se e com ele os problemas. Cada questão de cada canto da Terra virou um problema de cada um de nós, que pensa, produz e consome. Hoje, como em nenhuma outra época, nossa casa global exige que estejamos sempre atentos às consequências dos nossos atos ao produzirmos e consumirmos. A NOVA GLOBALIZAÇÃO DEVE SER INCLUSIVA E ECOLÓGICA E NÃO APENAS MERCADOLÓGICA (não tem outra possibilidade, pois a competição e o consumismo desenfreados, características do atual estágio do capitalismo, estão conduzindo a humanidade e o meio ambiente a situações de colapso).

A URGÊNCIA DO FIM DAS INTOLERÂNCIAS

A não aceitação das diferenças como as raciais, culturais, de gênero, de religião etc. tem produzido muita violência, inclusive guerras. Efetivamente, o mundo é multicultural, multirracial, multirreligioso e muitos outros “multi” e essa é a grande beleza da humanidade. A HUMANIDADE PRECISA GLOBALIZAR A TOLERÂNCIA (a marca principal da nova ética planetária deve ser a aceitação, pois, ao mesmo tempo em que somos todos iguais, também somos todos diferentes).

AS MUDANÇAS SÃO NECESSÁRIAS E, A CADA DIA QUE PASSA, MAIS URGENTES!


LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE EM 2017!

Para este ano de 2017, desejo a todos os meus leitores e leitoras o mesmo que desejei para 2016, a concretização dos ideais interrompidos (no meu modo de ver) da Revolução Francesa (1789-1799), que conseguiu resumir em apenas três palavras (liberdade, igualdade e fraternidade) as condições necessárias à realização de uma vida digna e próspera para todos os cidadãos do planeta, não só para os cidadãos franceses. Tratam-se de valores universais.


A LIBERDADE é essencial ao desenvolvimento do potencial de cada indivíduo, todos os seres humanos precisam de LIBERDADE, indistintamente. Se tem algo que limita a LIBERDADE, este algo é a pobreza; ela dificulta o aprendizado (escola e cultura), a saúde (alimentação e cuidados sanitários) e a locomoção (o direito de ir e vir), que são essenciais ao bem-estar e à realização do espírito. No atual momento da humanidade, a pobreza extrema é muito grande e, ao mesmo tempo, a riqueza concentra-se de forma nunca dantes vista. O fosso entre ricos e pobres alargou-se no pós-guerra e continua nesta mesma dinâmica nos dias de hoje.
Para que a LIBERDADE alargue os seus horizontes, é preciso desconcentrar a renda e eliminar a pobreza. É necessário diminuir as diferenças sociais e aumentar a IGUALDADE. Quanto mais igual mais livre é a sociedade, pois a LIBERDADE é necessária a todos e não só para os que controlam as riquezas. Todos os seres humanos são iguais, independente da raça, da classe social, do gênero, da religião etc. Assim, a IGUALDADE pressupõe a inexistência de qualquer tipo de segregação e preconceito, pois eles contribuem para diminuir a LIBERDADE e impedem a FRATERNIDADE.
Por sua vez, a FRATERNIDADE é essencial à LIBERDADE e à IGUALDADE, já que ela se assenta na compaixão que cada ser humano precisa ter para viver em grupo, para realizar no seu processo de humanização, pois os homens só são (tornam-se) humanos em sociedade (o homem é um animal social - Aristóteles). A FRATERNIDADE é um instrumento essencial para a diminuição da pobreza e das diferenças sociais e ela precisa fazer-se presente na política, pois o homem também é um animal político (Aristóteles). Então, cabe ao Estado enquanto instância organizada e organizadora da sociedade buscar a diminuição da pobreza e a inclusão social. A sua função não é apenas garantir o "bom" funcionamento do mercado, como desejam os liberais conservadores, que olham para o mundo exclusivamente a partir das suas gordas posses pessoais.
A FRATERNIDADE, a IGUALDADE e a LIBERDADE são interdependentes e iguais em valor. Não dá para pensá-las isoladamente e nem de forma particular, a partir do indivíduo, ainda que a individualidade (não confundir com individualismo) seja um valor que deve ser preservado/respeitado (a individualidade não é um valor absoluto para o cidadão, pois, quando extremada, ela pode ferir a individualidade alheia, aí ela vira individualismo), pois elas são valores coletivos, humanizantes, necessários à convivência pacífica e próspera da humanidade como um todo. Hoje, a humanidade passa por um momento de extremo individualismo, egoísmo mesmo, e os resultados disso estão à vista (pobreza, violência, drogas, poluição, guerras, preconceitos, intolerâncias etc. etc. etc.) de todos que queiram verdadeiramente ver. A individualidade tem seu limite e ele se localiza nas fronteiras do bem-estar coletivo.
LIBERTÉ * EGALITÉ * FRATERNITÉ - JÁ!!!!!!!


DEPOIS DE TANTOS ANOS, A HUMANIDADE JÁ ESTARIA (DEVERIA ESTAR) MADURA E CONSCIENTE O SUFICIENTE PARA REALIZAR (COMPLETAR) ESTA REVOLUÇÃO DE FORMA TOTALMENTE PACÍFICA, SEM A VIOLÊNCIA DE 1789, COMO ACONTECEU NA FRANÇA REVOLUCIONÁRIA. SERÁ QUE ESTÁ? ATÉ QUANDO A HUMANIDADE VAI PRESENCIAR TANTA TRAGÉDIA SEM SE MOVER? ELA AINDA NÃO SE CANSOU? PARECE QUE NÃO... TORÇAMOS PARA ISSO...

FELIZ 2017!

MANDAMENTOS PARA O CIDADÃO POLITICAMENTE CORRETO NO SÉCULO XXI


Abaixo eu elenquei 37 sugestões aleatórias no sentido de que possamos produzir um mundo melhor para as gerações futuras. Adiantando: não são nada fáceis e algumas implicam em grandes mudanças pessoais e coletivas. Sobre algumas eu acho que pode não haver consenso, mas, no meu ponto de vista, muitas delas são extremamente necessárias neste momento de crise da sociedade. A crise é geral: econômica, social, ambiental e de valores. Sugiro estes "mandamentos" (outros podem ser incluídos, à vontade de cada um) no sentido de que possamos pensar, a partir de cada um deles, sobre o que estamos fazendo ou não fazendo para melhorar as condições de vida da humanidade e de todos os demais seres que vivem no colo de Gaia, da nossa mãe Terra, que, neste momento, chora e reage às dores ante tanto sofrimento produzido por seu filho mais rebelde, o homem.
1) Consumir preferencialmente produtos orgânicos, pois eles são amigáveis ao meio ambiente e à saúde;
2) Não consumir e não estimular o consumo de alimentos transgênicos, pois eles podem fazer mal à saúde e ao meio ambiente;
3) Não consumir madeira que não seja certificada, pois ela pode provir de desmatamentos ilegais, como aqueles que acontecem na Amazônia ;
4) Não comprar roupas, calçados e outros produtos de empresas que utilizam mão de obra similar à escrava;
5) Não consumir desnecessariamente e não estimular o consumismo na sua família;
6) Ajudar na coleta seletiva de resíduos, separando os recicláveis dos orgânicos e destinando-os corretamente;
7) Não desperdiçar e não poluir a água no seu dia-a-dia;
8) Não fumar e não estimular o consumo de tabaco;
9)  Beber com moderação, muita moderação, e não estimular o consumo de bebidas alcoólicas;
10)  Não usar drogas ilícitas e desestimular o seu consumo;
11) Não ver e ouvir, nas TVs e nas rádios, programas que estimulem violência e o pessimismo, preconceitos raciais, culturais, de gênero, religiosos etc.;
12)  Não estimular o pessimismo, repassando sem pensar, sem questionar, ideias pessimistas veiculadas pela maioria dos meios de comunicação do mundo, pois a imprensa ainda acredita que o que vende jornais é a desgraça;
13)  Contribuir para a inclusão social, estimulando ONGs e governos (federal, estadual e municipal) que trabalham neste sentido;
14)  Diminuir o consumo de fast foods e desestimular o consumo na sua família, com o objetivo de melhorar a saúde das pessoas;
15) Frequentar restaurantes e lanchonetes que privilegiam produtos naturais (pouco processados pela indústria) e orgânicos;
16)   Consumir açúcar moderadamente e buscar a moderação do consumo familiar;
17)  Consumir menos carne, muito menos, em particular a bovina, que exerce pressão sobre as florestas, estimulando o desmatamento e expandindo a fronteira agrícola, como acontece hoje na Amazônia;
18)  Andar menos de veículos automotores particulares, dando preferência ao transporte coletivo e às bicicletas, diminuindo o congestionamento e a poluição do ar;
19)  Na limpeza doméstica, procurar produtos biodegradáveis, que não poluem os corpos d'água;
20)  Buscar uma espiritualidade desinteressada e desprovida de preconceitos em relação às diferentes religiões;
21)  Respeitar os que pensam diferente, mantendo um debate de alto nível e construtivo, não buscando desqualificar ou destruir os seus oponentes, como acontece hoje nas redes sociais;
22)  Respeitar as crianças e os adolescentes, que precisam se conduzidos por uma educação que estimule a criatividade e a liberdade e não por uma educação repressora do tipo "militar";
23)  Defender o direito a todos à educação e à saúde e estimular instituições e governos que trabalhem neste sentido (educação e saúde são muito mais direitos que negócios);
24)  Rejeitar toda forma de violência, desde a doméstica, passando pela policial, até a guerra, estimulando os movimentos pacifistas e os governos que atuam neste sentido;
25)  Estimular e/ou praticar a boa arte, aquela que introduz valores (paz, beleza, igualdade, liberdade, fraternidade etc.) humanos e aquelas que denunciam as desumanidades;
26)  Buscar o contato com a natureza e a prática de esportes saudáveis sempre e estimular isto na sua família;
27)  Combater a violência em relação aos animais, como touradas, rodeios, brigas de galo etc.;
28)  Festejar e celebrar mais e reunir mais os amigos;
29)  Cultivar jardins e hortas nas suas residências, até em apartamentos (é possível), como exercício de contato com a natureza para os que moram nas cidades, principalmente;
30)  Buscar fazer a sua própria comida, sempre que possível, evitando industrializados excessivamente processados, dando preferência aos produtos orgânicos;
31)  Participar da vida comunitária para contribuir com a solução das questões coletivas, como educação, saúde, lazer, segurança etc.;
32) Preocupar-se com os seres humanos que moram de formas inadequadas (favelas, cortiços, na rua etc.) e apoiar instituições e governos que buscam soluções para esse problema;
33)  Preocupar-se com as crianças e os idosos desamparados e apoiar instituições e governos que buscam ampará-los;
34)  Compreender que as drogas são uma questão de saúde pública e não de polícia e apoiar instituições e governos que buscam enfrentar esse problema;
35) Defender o reflorestamento amplo do planeta, inclusive plantando árvores, pois ele abrandará a crise hídrica, ajudará a diminuir os efeitos do aquecimento global e possibilitará a sobrevivência das outras espécies animais que conosco dividem o planeta Terra;
36) Viajar mais para conhecer pessoas e povos diferentes, de diferentes culturas, para alargar seus horizontes pessoais e culturais;
37)  Aceitar que a humanidade é multicultural e multirracial e que a beleza é caleidoscópica no seu sentido mais amplo.

Para tentar concluir: definitivamente, a beleza é caleidoscópica, pois ela se encontra em permanente movimento, em permanente transformação, como as pedrinhas brilhantes dentro do caleidoscópio (nele as possibilidades são infinitas) que formam, a cada movimento, imagens novas, que nunca se repetem e que não podem ser previamente pensadas; não há como bater-se contra isso, como desejam os conservadores, não há como barrar o movimento do universo; refinando: o ser humano é caleidoscópico, pois se encontra em permanente transformação e as possibilidades são infinitas, como as das pedrinhas coloridas no caleidoscópio.
A IDEIA É A SEGUINTE: AS MUDANÇAS SÃO NECESSÁRIAS; HÁ QUE SE COMEÇAR DE ALGUM LUGAR; INICIAR UMA RECONEXÃO COM A NATUREZA ATRAVÉS DA HORTA DOMÉSTICA É UM BOM INÍCIO, POR EXEMPLO; É SÓ COMEÇAR...

Explicando o bom caminho do desenvolvimento sustentável

Modelo da sustentabilidade
Social: social
Bearable: suportável
Equitable: equitativo
Environment: meio ambiente
Economic: econômico
Sustainable: sustentável
Viable: viável


Primeira afirmação: a atividade econômica real ocorre na natureza, a partir da natureza, naquilo que se convencionou chamar de meio ambiente, de onde se presume, de imediato, que a mera especulação financeira, por conta da sua clara autofagia e afastamento da economia real, está fora do modelo da sustentabilidade.
Segunda afirmação: o crescimento econômico por si só, envolvendo a atividade econômica e o meio ambiente (matérias primas, recursos energéticos etc.) não se justifica sem uma âncora social, uma função social abrangente.
Terceira afirmação: a sustentabilidade do ponto de vista ambiental implica em não ir além do ecologicamente suportável, o que significa não esgotamento dos recursos naturais e não produção de externalidades negativas com é o caso da poluição (águas, ar e solo) e da eliminação das áreas verdes; a capacidade de suporte varia de acordo com os diferentes meios naturais, existem ambientes mais frágeis e menos frágeis.
Quarta afirmação: o objetivo social do desenvolvimento deve ser a inclusão social, o que implica na busca incessante pela igualdade social; o crescimento econômico que não mira a igualdade e que concentra riquezas não pode se encaixar no modelo da sustentabilidade.
Quinta afirmação: os projetos e empreendimentos econômicos necessitam da sua viabilidade econômica para que evoluam no tempo e no espaço, caminhando no sentido da produção da riqueza, tanto material como cultural, para a geração de efeitos sociais benéficos a todos.
Sexta afirmação: para que o modelo da sustentabilidade se realize, economia, bem-estar social e preservação ambiental devem sempre ser inseparáveis.
Sétima afirmação: para que a sexta afirmação se confirme e a sustentabilidade se materialize, em todos os planos e projetos devem ser consideradas a capacidade de suporte (Bearable) de cada bioma, a viabilidade econômica (Viable), destacando a de longo prazo, e a satisfação social (Social) amplamente produzida e distribuída.
Considerações sintéticas
Do ponto de vista econômico, as sete afirmações acima chamam para a necessidade do planejamento, pelo motivo que segue: não é possível pensar a preservação do equilíbrio ambiental, o bem-estar social e a viabilidade econômica durável no curto prazo. O mercado enquanto alocador de recursos (capital e trabalho) atua no curto prazo, onde tem a sua eficiência, pois visa o retorno imediato dos investimentos individuais realizados e a imediata satisfação dos desejos dos consumidores. O Estado, por sua vez, tem que ir além dos retornos individuais e, assim, mirar os retornos coletivos de longo prazo, que são da sua verdadeira alçada. Então, pensar realmente a sustentabilidade do desenvolvimento econômico significa (implica em) recolocar a necessidade do PLANEJAMENTO. Só que doravante planejar tornou-se uma questão um pouco mais complexa, pois foi introduzida a variável ambiental. É preciso produzir riqueza (Economic), reparti-la (Social) e, ao mesmo tempo, garantir que a natureza (Environment) com um todo continue reproduzindo a vida no longuíssimo prazo com a qualidade adequada. Os resultados do planejamento só serão sustentáveis  (Sustainable) se ele for conduzido conforme o Modelo da Sustentabilidade aqui esmiuçado.
FUI CLARO?


sexta-feira, 10 de março de 2017

Haicais de 4 (quatro) – quânticos

Zildo Gallo

haikai.jpg (457×250)

      1

O macro vive
Dentro do menor micro
E vice-versa...

      2

Toda solidez
Um imenso vazio
(im)perscrutável?

      3

Podemos saltar
Com as varas quânticas
Reinos abismais.

      4   

Os microcosmos
Envolvem microcosmos
Formando o Tao.



quarta-feira, 8 de março de 2017

O DIA DAS MULHERES E DO SAGRADO FEMININO

Zildo Gallo

Hoje, dia 8 de março de 2017, comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Trata-se de um dia de homenagem à dimensão feminina do ser humano e também de uma efeméride que deve ser consagrada à mais profunda reflexão. Há muito para refletir, pois o estado da real condição das mulheres no nosso planeta, que carrega o nome de uma deusa, a deusa Terra (Gaia para os gregos e Terra para os latinos, a deusa que deu a luz a todos os deuses, deusas e à vida que se esparramou pelas águas, terra e ar, conforme ensina a mitologia greco-romana), não é nenhuma maravilha, mesmo...

A situação das mulheres já foi muito pior, mas ainda existem muitas situações de descabida inferioridade e de inaceitável violência. O patriarcado feriu, conspurcou e acabou rompendo a sacralidade feminina e ela precisa ser restabelecida. Trata-se de uma tarefa para toda a humanidade, em todos os cantos do mundo, pois o patriarcado precisa ser superado para que se restabeleça a igualdade primitiva que se perdeu com o avanço da civilização, que se dá após o fim do neolítico, com o surgimento das cidades.

A subjugação das mulheres e da energia feminina pelos homens é o verdadeiro pecado original da civilização, mas os homens, com destaque para o Ocidente, por mais incrível que pareça, mais particularmente após a expansão do judaico-cristianismo, conseguiram imputá-lo às mulheres; lembram-se do mito de Adão e Eva? Há que se pedir perdão a Eva e a todas as suas filhas. Assim, reproduzo aqui o artigo que publiquei no ano passado por considerá-lo muito claro e oportuno, com o fito de colocar mais uma pedra no edifício do arrependimento, que se transformará, quando enfim concluído, no monumento do verdadeiro perdão. Só depois disso a humanidade rumará no sentido da sua definitiva libertação, da sua transcendência. Ao artigo!




O Dia Internacional da Mulher e a necessidade de resgatar os valores femininos

Na sociedade estratificada do mundo civilizado, onde existem os muito ricos e os muito pobres, encontramos também vários outros tipos de estratificação, onde se repete a dicotomia entre "os de cima" e os "de baixo", que acaba dividindo os grupos sociais entre "incluídos" e "excluídos". Os de alta renda estão em cima e os de baixa renda estão em baixo; os brancos (caucasianos) estão em cima e os negros (afrodescendentes) e índios estão em baixo; os heterossexuais estão colocados acima e os homossexuais abaixo e, ainda; os seres humanos do sexo masculino continuam no "andar de cima" e os do sexo feminino no "andar debaixo". Além destas divisões encontramos outras: as ligadas às religiões; às nacionalidades; ao nível de escolaridade etc. Etc. mesmo, pois os seres humanos são mestres em produzir divisões, em criar grupinhos. É muita divisão para uma única humanidade.
A primeira e grande divisão da humanidade é a de caráter biológico, entre o sexo masculino e o sexo feminino. Trata-se de uma divisão natural, diferente das outras citadas acima que têm origens socioculturais. A bipolaridade que encontramos no universo material, que se expressa, inclusive, no nível atômico, com a divisão entre prótons (com carga positiva) e elétrons (com carga negativa), é encontrada na biologia, com a divisão entre macho e fêmea. Sem a combinação entre prótons e elétrons, que são antagônicos e também complementares não haveria a matéria como a conhecemos e, muito menos, o universo com as suas galáxias e seus sistemas solares. Sem a complementaridade entre masculino e feminino, a vida poderia ser composta majoritariamente por vírus, por muitos seres unicelulares e vários tipos de fungos. A vida superior, incluindo aí os seres humanos, não seria possível. Não existe uma hierarquia, neste caso, ambos, masculino e feminino são necessários, o que existe é uma condição de efetiva e necessária igualdade.
Diante do exposto até aqui, afirmo: pensar em superioridade e inferioridade entre os gêneros é, no mínimo, estupidez e, no máximo, alguma expressão impublicável (escolha a expressão, à vontade). Todavia, em relação aos seres humanos uma diferença foi criada; trata-se de uma criação sociocultural, apenas sociocultural. Entretanto, muitos ainda acreditam que, do ponto de vista biológico, os homens nasceram melhor aquinhoados. Muitos, raciocinando no limite inferior das suas capacidades, não enxergando além da sua própria massa corpórea, acreditam que a força física os diferenciam. No mundo de hoje, onde as máquinas há muito tempo substituíram a força física nas tarefas mais pesadas, pensar assim é minimamente ridículo, pois a força bruta, que foi valorizada em outros tempos, hoje significa muito pouco, muito pouco mesmo. É muita ignorância e o nosso planeta ainda está lotado de ignorância, infelizmente...
A partir da introdução um tanto azeda que fiz acima para o meu artigo em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, sigo na construção do mesmo, pretendendo lançar luzes sobre o porquê da brutal inferiorização e violência sofridas pelas mulheres durante milênios da trajetória humana no planeta Terra. É possível entender esta barbaridade, acreditem.
Entre 2011 e 2012, participei de um grupo de estudos sobre ecologia profunda, na UNIARA (Centro Universitário de Araraquara), onde leciono no curso de pós-graduação em Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente (Mestrado e Doutorado). Por conta das nossas ricas discussões, escrevi um texto para análise do grupo, onde falo sobre as três grandes sombras que acompanham a humanidade desde os primórdios da civilização, três elementos basilares do patriarcado: 1) a exploração do trabalho alheio (escravatura, jornadas abusivas, baixos salários, trabalho infantil, insalubre etc.); 2) a violência contra a mulher, nas suas mais diferentes manifestações (falta de liberdade, violência física, exploração sexual, exploração econômica etc.); 3) a concentração da propriedade e da renda por poucos em detrimento da maioria. Vou tratar aqui, com mais detalhe, o detalhe possível num artigo relativamente pequeno, da sombra que ainda paira sobre o mundo feminino.
Na pré-história (paleolítico e neolítico), os homens modernos (homo sapiens) tinham como preocupação central a luta pela sobrevivência num ambiente hostil. O uso das primeiras ferramentas e das primeiras armas possibilitou uma convivência mais tranquila com o meio e a introdução da agricultura sedentarizou os grupos humanos. Num primeiro momento, as relações sociais pareciam igualitárias, pois, nas tribos, ainda não havia a apropriação do trabalho alheio e nem a dominação das mulheres pelos homens. Nos primórdios das cidades, com o enfraquecimento das sociedades tribais, a situação se modificou. Surgiu o trabalho escravo, o patriarcado e o casamento monogâmico, com a consequente limitação dos papéis femininos, e, aos poucos, firmou-se a propriedade privada, os fragmentos de territórios apropriados e dominados pelos patriarcas. Instalou-se a partir daí a trindade trevosa que comanda a humanidade desde então.
Apesar de tudo, precisamos ser indulgentes com a humanidade: numa situação indefesa, com conhecimentos limitados sobre o seu entorno, é compreensível o surgimento da tríade obscura. Para sobreviver num ambiente hostil, os humanos precisaram arrojar-se, tornar-se fortes e agressivos. A batalha pela sobrevivência acontecia todos os dias. Os humanos tornaram-se hábeis caçadores e desenvolveram armas úteis tanto para a caça como para a defesa. Tiveram que aprender a conviver com os fenômenos naturais agressivos e sobrepujá-los. Com o fortalecimento da família monogâmica e patriarcal, nos primórdios da civilização, a questão central da luta humana passou a ser a sobrevivência das famílias nas cidades. Nas tribos importava mais acentuadamente a sobrevivência do coletivo dos seus membros, a sobrevivência da própria tribo. A civilização acabou estreitando a ideia de coletividade, entendendo-a como um conjunto de famílias, o que se trata de uma redução simplista, que serviu para justificar a exploração do homem pelo homem. O teólogo e filósofo Leonardo Boff denominou esse primeiro momento da trajetória da humanidade de paradigma conquista.
Contudo, com o passar do tempo, a humanidade aumentou a sua capacidade de sobreviver a partir da expansão crescente do conhecimento sobre a natureza e dos avanços da tecnologia. Ela tinha tudo para deixar de lado essa competição insana, mas acabou entrando num círculo vicioso, onde a oposição entre proprietários e não proprietários, entre homens e mulheres e entre as diversas nacionalidades tornou-se uma constante. A guerra, violenta ou subliminar, tornou-se a forma de ser da civilização, embalada na ideia de que nem tudo dava para todos, embalada no medo permanente de uma possível escassez. As mulheres foram as que mais perderam nessa trajetória, pois elas praticamente se transformaram em propriedade dos homens, alienando a sua liberdade e a sua criatividade. A partir da civilização o mundo tornou-se essencialmente masculino e isso se cristalizou, transformou-se num tipo de vício, um vício difícil de ser largado.
Hoje, no século XXI, a inferiorização da mulher ainda é muito presente e, em muitos países, ela chega à beira da irracionalidade. No oriente ela é mais visível e mais absoluta, abrangendo amplos aspectos da vida cotidiana. No ocidente ela é mais sutil e se encontra mais claramente no mundo do trabalho. A exploração do trabalho feminino é maior e a sua remuneração menor é a ponta do iceberg desta questão. Outra forma sutil de exploração da mulher no ocidente encontra-se no campo da sexualidade, onde o corpo feminino transformou-se em valiosa mercadoria. Só um exemplo, tem muitos: as revistas eróticas são um grande negócio e as suas modelos são regiamente remuneradas, o inverso do que acontece nas fábricas e nas fazendas. O mercado produziu uma grande façanha: transformou a liberdade sexual conquistada com muita luta a partir dos anos 60 do século passado, em mercadoria com alto valor agregado. A condição feminina e a sexualidade humana continuam, ainda hoje, envoltas por uma grande sombra.
Hoje a humanidade precisa e tem plenas condições de superar o paradigma conquista, em função das imensas conquistas no campo da ciência e da produtividade da economia. Entendo também que a necessidade de mudança paradigmática passa com maior ênfase pela questão de gênero e que esta questão é, em última instância, espiritual, pois se trata de uma mudança profunda na forma de ser dos indivíduos e da sociedade. Acredito mesmo que a centralidade das questões contemporâneas está nas disputas, que remontam a ancestralidade do homo sapiens, entre os sexos masculino e feminino, no sentido de que prevalece até os dias de hoje uma compreensão majoritariamente masculina da realidade.
Para facilitar a compreensão do que quero dizer, lanço mão da milenar filosofia chinesa. Os chineses enxergam o universo como uma relação, uma relação de duas forças antípodas e, ao mesmo tempo, complementares. Basta observarmos a natureza, esta é a sabedoria chinesa: para que exista o frio tem que haver o quente, para o molhado há o seco, para o mole tem o duro, para o claro tem o escuro, para o triste tem o alegre, para o bom tem o ruim etc. De forma bem simples, eles dividem tudo e todos os fenômenos em dois grandes blocos: YIN e YANG (veja a figura abaixo).


Na figura são visíveis dois peixinhos do mesmo tamanho, harmoniosamente encostados um no outro. Um é branco e representa o aspecto solar masculino e o outro é preto e representa o aspecto lunar feminino. Um detalhe importante: O peixe branco tem um olho preto e o preto tem um olho branco, significando que o masculino também possui elementos do feminino e que o feminino também contém elementos do masculino, sugerindo uma complementaridade perfeita, apesar de todo o antagonismo. As características de Yin e Yang são opostas e complementares, como se pode ver no quadro abaixo.

UNIVERSO BIPOLAR
YIN
YANG
FEMININO
MASCULINO
CONTRÁTIL
EXPANSIVO
CONSERVACIONISTA
EXIGENTE
RECEPTIVO
AGRESSIVO
COOPERATIVO
COMPETITIVO
INTUITIVO
RACIONAL
SINTÉTICO
ANALÍTICO

Pelo quadro vemos que Yin, que representa o feminino, tem atributos opostos a Yang, que representa o masculino. Na sua conturbada trajetória, com destaque para os tempos pretéritos, a humanidade lançou mão com mais vigor dos atributos masculinos por conta do paradigma conquista, focando mais a necessidade de sobrevivência, e acabou obliterando os femininos, inclusive com a própria inferiorização da mulher, guardiã das energias Yin. A humanidade tornou-se majoritariamente Yang: agressiva, competitiva, racional, expansionista etc.
Nesta altura da história da humanidade, com tranquilidade, podemos concluir que, em última instância, as crises econômica, social e ambiental, vividas em todo o mundo, decorrem do desbalanceamento das duas energias primordiais, com a balança pendendo para o lado Yang, o que reforçou e ainda reforça o paradigma conquista. A sobrevivência da humanidade enquanto tal, depende da transição para um novo paradigma, o paradigma do cuidado. É preciso diminuir a competição e aumentar a cooperação, é preciso diminuir a agressão e aumentar a aceitação e assim por diante. E, o que é de muita importância, neste mundo conduzido pela ciência: é preciso dar vazão às outras formas de percepção da realidade, possibilitadas pela intuição, que é a contraparte feminina da racionalidade masculina. O começo da caminhada para o paradigma do cuidado é o resgate da dignidade feminina, uma tarefa ainda árdua para a humanidade, todavia imprescindível.
Caminhar rumo ao paradigma do cuidado significa que a humanidade precisa tornar-se mais afetiva e compassiva, dois atributos femininos.  E, por falar em homens mais compassivos: a compaixão é a essência  mais profunda do ser humano e ela se apresenta menos no campo material da existência e muito mais no campo do espírito, é um sair de si, um abandono positivo de si e um aproximar-se do outro, numa alteridade positiva, enxergando no outro “um igual” e ao mesmo tempo, “um diferente” e, sobretudo, aceitando a sua diferença, vendo no outro a si mesmo. Desaparece a separação e, extrapolando e extremando a dimensão da alteridade, quem é o outro? O outro são todos os seres que navegam na nave-mãe Terra. A partir daí, o homem abandona o seu papel de conquistador, de guerreiro, e assume o seu papel de cuidador, de jardineiro dos jardins da criação.
Para terminar, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, ofereço o poema de Victor Hugo, onde ele capta as essências masculina e feminina. Lembrando, sempre é bom lembrar: a mulher também guarda em sua alma a essência masculina e o homem a feminina. Somos seres muito complexos e esta é a beleza.

O Homem e a Mulher

O homem é a mais elevada das criaturas;
A mulher é o mais sublime dos ideais.
O homem é o cérebro;
A mulher é o coração.
O cérebro fabrica a luz;
O coração, o AMOR.
A luz fecunda, o amor ressuscita.
O homem é forte pela razão;
A mulher é invencível pelas lágrimas.
A razão convence, as lágrimas comovem.
O homem é capaz de todos os heroísmos;
A mulher, de todos os martírios.
O heroísmo enobrece, o martírio sublima.
O homem é um código;
A mulher é um evangelho.
O código corrige; o evangelho aperfeiçoa.
O homem é um templo; a mulher é o sacrário.
Ante o templo nos descobrimos;
Ante o sacrário nos ajoelhamos.
O homem pensa; a mulher sonha.
Pensar é ter, no crânio, uma larva;
Sonhar é ter, na fronte, uma auréola.
O homem é um oceano; a mulher é um lago.
O oceano tem a pérola que adorna;
O lago, a poesia que deslumbra.
O homem é a águia que voa;
A mulher é o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço;
Cantar é conquistar a alma.
Enfim, o homem está colocado onde termina a terra;
A mulher, onde começa o céu.


Viva as mulheres! Viva os homens! Viva a igualdade!




NOTA DA REDAÇÃO

  Zildo Gallo     Da floresta sempre chegam notícias De homens matando homens Estranhamente... Não chegam notícias De onças ma...