domingo, 30 de dezembro de 2018

PÉROLAS AOS PORCOS


Zildo Gallo


Cabisbaixo, Zé maluco andarilhava
Pelos passeios da praça da catedral.
Ei, Zé Maluco, para onde está indo?
Ei, Zé Maluco, levanta essa cabeça!
Ei, Zé Maluco, fale uma maluquice!
E o populacho relinchava de contente.
Mas, naquele dia, Zé Maluco respondeu:
As ostras agredidas produzem pérolas.
Da porta da igreja, Beata Gertrudes rosnou:
Este Zé Maluco só fala asneiras.
E lá se foi Zé Maluco, cabisbaixo,
Produzindo suas pérolas.

O POETA E O CIDADÃO


Zildo Gallo

http://www.revistaestante.fnac.pt/6-livros-para-quem-tem-alma-de-poeta/

O poeta delirante urra na praça:
Larguem seus uniformes,
Suas armas beligerantes,
Suas mentes barulhentas
E seus rígidos controles,
Suas guerras fúteis,
Suas efêmeras riquezas,
Suas gaiolas de concreto,
Seus medonhos medos
E me sigam rumo à Utopia,
Ao País das Maravilhas Sutis.

O cidadão e sua gravata passam
Apressados, apressados...
E, apressados, olham
E seguem em frente,
Sempre em frente...
É tarde, é tarde, é tarde...


quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

MISSA DE LAVA PÉS


Zildo Gallo


Rapapés e Lava-pés
Dois irmãos de bela aparência
Mas por dentro bem diferentes
O primeiro vive feio a bajular
À cata das intenções segundas
O outro curva-se belo e humilde
No acolhimento da igualdade

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

HAICAI DAS ESTAÇÕES: lamúrias



Zildo Gallo

https://www.todoestudo.com.br/geografia/as-estacoes-do-ano

O sol de verão
Faz sonhar o retorno
Do frio polar

O haicai das estações me revela
Os muitos graus centígrados
Da minha insatisfação
Ainda que o outono prenuncie
A volta da primavera
Eu fico a me incomodar
Com o lamuriar do seu vento

A primavera
Traz as cores aos dias
Todos cinzentos


HAICAI: chave de grifo


Zildo Gallo


O Axis Mundi
Está frouxo no eixo
Cadê meu grifo?

https://www.estudopratico.com.br/grifos-mitologia-grega/

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

MONTANHAS DE MINAS


Zildo Gallo


Das montanhas de Minas
Nos vêm ouro e ricas pedras,
Mas o que atrai os meus sentidos
São coisas mais baratas,
São seus queijos, seus doces
E seus exclusivos biscoitos,
Com seus cheiros e sabores,
Suas texturas e suas cores.
Minas apela aos sentidos
E faz-nos sempre esquecer
Das riquezas enterradas,
Para só nos lembrarmos
Do que está mais acima,
Algo além da sua paisagem,
Bem à vista dos nossos olhos
E narizes também
E, mais importante ainda,
Daquilo que está ao alcance
Das nossas bocas e línguas.



quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

GRANDEZAS


Zildo Gallo

https://imagens-de-fundo.blogspot.com/2012/10/flor-no-campo.html

Delírios grandiloquentes
Sonhos epopeicos
Épicos suntuosos
Apocalípticos
Apoteóticos
Siderais
Universais
O que me veio
Na verdade
Foi o micro haikai
Fina flor hermética

O universo
Está vivendo todo
Na flor do campo


TEMPO E ROUPA SUJA