sexta-feira, 14 de julho de 2017

PARA CRUZ E SOUZA: o poeta assinalado a ferro

Zildo Gallo


Nunca serás louco de loucura nenhuma;
Louca é a terra que te prende em desventura.
A algema que te prende é da pura alvura
Como a tua fina e caucasiana educação.

Cabe-te a razão: essa algema de tristezas,
Essa dorida e insuportável desventura,
Faz com que tua alma suplicante
Transborde em sonhos apoteóticos.

Tu és o maior poeta dessas terras
E povoa este mundo árido (puro pó)
Com as belezas vindas de tua alma triste.

Os teus espasmos alvos e desesperados
Cobram da miséria em que vivestes
O perdão para a tua imortal grandeza.


O ASSINALADO

Cruz e Souza

Tu és o louco da imortal loucura;
O louco da loucura mais suprema.
A terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema desventura.

Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma desventura extrema;
Faz que tu'alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.

Tu és o poeta, o grande assinalado;
Que povoas o mundo despovoado
De belezas eternas, pouco a pouco.

Na natureza prodigiosa e rica,
Toda a audácia dos nervos justifica,
Os teus espasmos imortais de louco.



NOITES LONGE DE GOTHAM CITY

Zildo Gallo

Termas de Ibirá-SP

Em noites quaisquer
Num lugar qualquer
As horas vão passando
E se vão em silêncios.

Os dias sempre se vão
E as noites sempre chegam
Sempre sonolentas
Silêncios e sombras.

Até o vigilante noturno
Passa despercebido
No seu silêncio ritual
De guardião das noites.

As noites são das corujas
E dos morcegos cegos
Caçadores sombrios
Nas noites com e sem lua.

Nas noites com e sem lua
Os vaga-lumes rivalizam
Com as luzes pálidas
Dos postes de iluminação.

A modorra só é quebrada
Pelo ronco de algum motor
Em solitária trajetória
Rumo a qualquer lugar.

Assim se passam as noites
Sem boemia e sobressaltos
Nas ruas estreitas da vila
Que sempre dorme cedo.

Assim são todas as noites calmas
Bem longe de Gotham City
Neste vilarejo sem nenhum Batman
Mas com morcegos bem verdadeiros.

Gotham City

quinta-feira, 13 de julho de 2017

MUNDO LUSCO-FUSCO

Zildo Gallo


Quando todo meu mundo cai
Tudo fica muito assombrado
Toda a fortaleza se esvai
E tudo permanece calado.

Quando todo meu mundo cai
Ele nunca passa aqui do chão
Então a tristeza toda recai
Sem nenhum pedido de perdão.

Todo o meu mundo se vai
Quando a sombra aparece
E o dia sempre me trai
Quando à noite ele escurece.

As tardes são sempre indecisas
Não tem luz nem sombras também
Só as imagens muito imprecisas
No lusco-fusco do muito mais além.


Campinas, 13 de julho de 2017, brincando de fazer rimas.


quarta-feira, 12 de julho de 2017

TANGO E PERDÃO

Zildo Gallo


Eu perdoo
e me perdoo
e só espero,
sem pressa,
algum perdão que venha
de nem sei onde...

Que venha de onde vier,
pois o perdão é uma dádiva,
um presente divino,
a todo aquele que aprende
singelamente aceitar.

Um raio de luz penetra
as sombras do meu sótão soturno,
sinto o soprar da brisa suave
e a minha alma leve dança...
dança... baila aquele tango de Gardel
que meu corpo desajeitado
jamais aprendeu a dançar.


sexta-feira, 7 de julho de 2017

NÓ GÓRDIO (o caminho do Tao)

Zildo Gallo


A espada afiada de Alexandre Magno
Com a virulência dos seus braços fortes
Cortou sem o menor de todos os dós
O indesatável Nó Górdio com força bruta.

Há inteligência nesse ato de pura força,
Que vá além da sua mera valorização?
Seria a força a forma reta para solucionar
Questões de muito difícil resolução?

Muita arte já foi erigida neste mundo
Para honorificar iradas e rápidas violências,
Em descaso das calmas soluções de paz,
Que até podem, sim, arrastar-se no tempo.

Não seria melhor transitar nos caminhos
Da engenhosidade da mente que se apoia
Na paciência cordial e mansamente intuitiva,
Num raro exercício de fé nos homens?

Toda sabedoria está em confiar no tempo,
Que, aos poucos, faz o seu trabalho de juntar
Corações e mentes para desatar todos os nós
Que nós mesmos atamos no nosso caminhar.



quarta-feira, 5 de julho de 2017

RIOS E MARES (tudo é relativo)

Zildo Gallo


Misturam-se os rios Atibaia e Jaguari
E mais fortes viram rio Piracicaba
Reforçado pelas águas do Corumbataí
O rio Piracicaba bem de repente se acaba
Nas grandes águas represadas do rio Tietê
Que lá na frente... bem lá na frente...
Engrossa as muitíssimas águas do rio Paraná
Que junto com Uruguai forma o rio da Prata
Que de tanta grandeza até pensa que é mar
Mas maior mesmo é o oceano Atlântico
Que a todos os grandes rios engole
Inclusive o maior entre todos os rios
O Amazonas que está bem longe
Muito longe mesmo desse tal de rio da Prata
O Atlântico de tão poderoso que é
Até divide continentes e nem se apercebe
Dos grandes rios que nele deságuam
E lhes engrossam as suas infindas águas
Do outro lado das três Américas
Tem o oceano Pacífico e então...
Bem... esta conversa sobre as grandezas
Fica meio bem sem sentido
A verdade é que em termos de grandezas
Tudo... tudo... tudo mesmo é muito relativo.


terça-feira, 4 de julho de 2017

BEIJA-FLOR

Zildo Gallo


Ruflam as asas do pequenino beija-flor
O sempre incansável colibri
No seu permanente serviço
De beijar as flores vermelhas
Azuis, brancas, roxas, amarelas...
Beijar todas as flores
Deste mundo caleidoscópico de cores
E de cheiros incontáveis
Beijos que fecundam vidas
Na mais intensa e solitária dança
Um delicado e frenético bailado no jardim
Da recorrente e permanente criação
Sempre nos trazendo à memória
Que esta vida é muito breve
Mas que também é muito bela
Assim como bela é a veloz passagem
Em inesquecíveis segundos coloridos
Da mais bela e mais delicada de todas
As aves-almas do jardim  do criador.

NOTA DA REDAÇÃO

  Zildo Gallo     Da floresta sempre chegam notícias De homens matando homens Estranhamente... Não chegam notícias De onças ma...