Zildo Gallo
Rola
a bola
e
pula e rola
no
terreno vazio de obras
o
espaço das gentes pequenas
pernas
e pés
correndo...
correndo...
para
frente
para trás
para
frente
para trás
alegres...
incansáveis...
presentes...
Rola
o tempo
e
salta e corre
para
a frente
para a frente
mais
à frente...
o terreno apequena-se
as gentes ficam grandes
um
prédio emerge
no meio do campo
a bola já não rola
pernas e pés
correm
agora
cansados...
bambos...
ausentes...
para
frente...
adiante...
numa
linha sem horizonte
já
quase desligada (esquecida)
do
seu ponto de partida.
PS.:
Escrito em outubro de 2001 e modificado em fevereiro de 2016.
Onze (11, o número mágico do futebol) notas sobre o futebol de meninos.
1. Olhando lá para trás, para os longínquos tempos da minha infância, observo que, de fato, desconheço melhor diversão para meninos do que o futebol.
2. Jogávamos praticamente todos os dias e o jogo acontecia em qualquer lugar, mas onde morava havia um terreno sem construção que transformamos em campo e nele jogamos durante alguns anos.
3. Nós mesmos estabelecíamos as regras do jogo, todos os dias. Era mais ou menos assim: vira aos 10 e acaba nos vinte e, assim, no décimo gol mudávamos de lado no campo; gol de goleiro não vale etc. Às vezes, as regras eram bem estranhas, mas combinado era combinado e pronto.
4. Brincávamos horas a fio com algumas pausas para descanso e para beber água. Nestes momentos conversávamos. Sobre o que? Adivinhem! Sobre os melhores lances da partida e cada um tinha a sua façanha para se gabar. Além de jogadores éramos comentaristas, cada um puxando a sardinha para a sua brasa, é óbvio.
5. Eu ia para a escola no período da manhã. Quando voltava para casa, almoçava, fazia a lição e disparava para o campinho. Aos poucos os meninos iam chegando, até que alguém gritava: "deu time!"
6. Com número suficiente de jogadores, organizávamos os times, sempre tomando o cuidado de não deixar os melhores craques no mesmo lado. Gostávamos de jogos bem disputados. Havia aí um senso de justiça.
7. Era uma infinidade de gols e haja garganta para comemorar cada um. Gols de calcanhar e os raríssimos de bicicleta tornavam-se lendas durante vários dias. Uma vez fiz um do meio do campo, fiquei insuportável durante algum tempo, mas o tempo passa...
8. Nos meses de férias o futebol começava já no período da manhã, todos os dias, com chuva e com sol, com chuva era muito divertido, não para as nossas mães que tinham que lavar as roupas embarreadas.
9. Reafirmando, todos os dias discutíamos as regras de cada partida e elas tinham que ser respeitadas. Todo combinado era justo. Caso alguém reclamasse, a resposta era: "foi combinado!" Era um autoaprendizado muito democrático. Cada menino um voto, muito justo...
10. Tomar um chapéu ou uma bola no meio as pernas era motivo para gozação, muita gozação. A vítima não via a hora de que o acontecido caísse no esquecimento, mas costumava demorar.
11. Enquanto houvesse alguma luz, havia jogo. "Menino, vem tomar banho, já é noite!" Eram as mães chamando os craques mirins para o descanso necessário e merecido, depois de tanta correria, chutes, tombos, pancadas, raladas e gols, muitos gols, é claro.
Onze (11, o número mágico do futebol) notas sobre o futebol de meninos.
1. Olhando lá para trás, para os longínquos tempos da minha infância, observo que, de fato, desconheço melhor diversão para meninos do que o futebol.
2. Jogávamos praticamente todos os dias e o jogo acontecia em qualquer lugar, mas onde morava havia um terreno sem construção que transformamos em campo e nele jogamos durante alguns anos.
3. Nós mesmos estabelecíamos as regras do jogo, todos os dias. Era mais ou menos assim: vira aos 10 e acaba nos vinte e, assim, no décimo gol mudávamos de lado no campo; gol de goleiro não vale etc. Às vezes, as regras eram bem estranhas, mas combinado era combinado e pronto.
4. Brincávamos horas a fio com algumas pausas para descanso e para beber água. Nestes momentos conversávamos. Sobre o que? Adivinhem! Sobre os melhores lances da partida e cada um tinha a sua façanha para se gabar. Além de jogadores éramos comentaristas, cada um puxando a sardinha para a sua brasa, é óbvio.
5. Eu ia para a escola no período da manhã. Quando voltava para casa, almoçava, fazia a lição e disparava para o campinho. Aos poucos os meninos iam chegando, até que alguém gritava: "deu time!"
6. Com número suficiente de jogadores, organizávamos os times, sempre tomando o cuidado de não deixar os melhores craques no mesmo lado. Gostávamos de jogos bem disputados. Havia aí um senso de justiça.
7. Era uma infinidade de gols e haja garganta para comemorar cada um. Gols de calcanhar e os raríssimos de bicicleta tornavam-se lendas durante vários dias. Uma vez fiz um do meio do campo, fiquei insuportável durante algum tempo, mas o tempo passa...
8. Nos meses de férias o futebol começava já no período da manhã, todos os dias, com chuva e com sol, com chuva era muito divertido, não para as nossas mães que tinham que lavar as roupas embarreadas.
9. Reafirmando, todos os dias discutíamos as regras de cada partida e elas tinham que ser respeitadas. Todo combinado era justo. Caso alguém reclamasse, a resposta era: "foi combinado!" Era um autoaprendizado muito democrático. Cada menino um voto, muito justo...
10. Tomar um chapéu ou uma bola no meio as pernas era motivo para gozação, muita gozação. A vítima não via a hora de que o acontecido caísse no esquecimento, mas costumava demorar.
11. Enquanto houvesse alguma luz, havia jogo. "Menino, vem tomar banho, já é noite!" Eram as mães chamando os craques mirins para o descanso necessário e merecido, depois de tanta correria, chutes, tombos, pancadas, raladas e gols, muitos gols, é claro.
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