Zildo Gallo
É
comum, extremamente comum, encontrar o morango como campeão disparado nos
resultados de pesquisas sobre a presença de agrotóxicos em alimentos. Ele tem a
casca fina e rugosa, o que o torna adequado ao armazenamento de resíduos. Além
disso, ele tem um ciclo curto de floração e frutificação, não dando tempo para
os venenos se dissiparem. Para agravar a situação, muitos produtores costumam
usar componentes químicos que não deveriam ser utilizados no seu cultivo; um deles é a
vinclozolina, que se trata de um fungicida muito usado na cultura do feijão (1).
Além
de usarem agrotóxicos, é corriqueiro os agricultores brasileiros não
respeitarem as normas de uso dos pesticidas que, muitas vezes, eles desconhecem.
Outra coisa muito importante que geralmente passa ao largo é o intervalo de
segurança, ou seja, o tempo entre a aplicação do veneno e a colheita dos
alimentos. É comum a colheita acontecer antes do período indicado, aquele que,
em tese, garantiria a dissolução do veneno. No caso do morango, como foi dito
acima, a situação é bem mais grave, pois o tamanho do seu ciclo nem permite uma
dissolução adequada. Conclusão: só coma morangos orgânicos, estes não contêm
resíduos de agrotóxicos.
Por que estou falando de
morangos? Simples, porque eu já plantei morangos. No início dos anos 80, eu
morava com meus pais em Americana (SP), num bairro periférico chamado Jardim
Alvorada. A nossa casa tinha um quintal de bom tamanho e como meu pai havia se
aposentado, ele se dedicava ao cultivo de hortaliças. Nenhum produto químico
era usado na plantação, pois ela era fertilizada com esterco de gado bovino. A
terra era muito rica em microbiodiversidade, com a presença de muitos insetos
benignos e de minhocas, muitas minhocas... Meu pai, o senhor Aristides, que era
um amante da pesca, tinha um estoque infindável de iscas de excelente qualidade
a sua disposição. Desde aquela época descobri empiricamente uma verdade: um
solo saudável produzirá plantas saudáveis (ver meu artigo "Meditações a partir
da horta doméstica da minha casa", neste blog (2)).
Eu,
no auge da minha juventude, trabalhava numa jornada de oito horas diárias e nas
horas vagas exercia a minha militância política, que era muito intensa. Não me
sobrava muito tempo, não tinha o mesmo tempo que meu pai para me dedicar à
horticultura. Mesmo assim, resolvi fazer alguma coisa, resolvi plantar
morangos. Comecei com um canteiro pequeno e rapidamente o seu tamanho
multiplicou-se. Como o meu pai, no trato da sua horta, eu nunca usava
agroquímicos e para fertilizar a terra também usava o esterco bovino, que era
bem disponível na região por conta do Instituto de Zootecnia de Nova Odessa
(IZ), que fazia divisa com o nosso bairro. Para garantir que os morangos não se
sujassem em contato com a terra do canteiro, eu espalhava palha de arroz entre
as mudas, funcionava muito bem e, além disso, tal proteção saía-me gratuita e
era natural, bem diferente daqueles plásticos que os agricultores estendem no
chão, entre os pés de morangos.
Num
dia qualquer, enquanto eu cuidava da minha plantação, retirando com as mãos o
mato que crescia no meio dela, acabei por encontrar escondido entre as
folhagens um sapo. Era um sapo grande, grande mesmo. Olhei para ele, achei-o
bonito, imponente, e decidi que ele poderia permanecer no quintal, se ele assim
o desejasse. Falei com meus pais sobre isso. Eles, que nasceram e cresceram no
meio rural, não estranharam. Assim, o sapo lá permaneceu por muito tempo.
Estabelecemos
uma parceria útil aos dois lados: o sapo tinha a moradia garantida num terreno
úmido e cheio de bichinhos e, em contrapartida, ele controlava a população de
insetos para mim, comendo-os. Acho que tinha comida em quantidade suficiente,
pois a sua permanência estendeu-se por um tempo bem longo, não consigo precisar
quanto.
Tanto
a horta do meu pai como a minha plantação de morango prosperaram. A horta era
mais que suficiente para o nosso consumo e, por conta disso, os vizinhos
começaram a comprar hortaliças do nosso quintal. Isso garantia uma renda extra,
que era muito bem-vinda. Por sua vez, a produção de morangos, que só aumentava,
levou-me a intentar outras experiências. Comecei a produzir geleia de morango e
aprendi a fazer tortas iguais àquelas que vemos nas prateleiras envidraçadas
das confeitarias. Contudo tinha uma diferença, eu costumava fazer tortas enormes,
do tamanho de pizzas, com muitos morangos. Era um certo exagero, confesso, mas
eram saborosíssimas, pois afirmo, sem nenhuma dúvida: os morangos orgânicos são
muito mais saborosos, acreditem!
A
minha parceria com o sapo foi longa e muito útil, sem dúvida nenhuma. Aliás ele
acabou se tornando um tipo de animal doméstico e como qualquer animal desse
tipo, vivia tentando entrar em casa. A minha mãe, a dona Aparecida, enxotava-o
com uma vassoura, mas ele sempre tentava... Um dia, assim como ele tinha
aparecido, ele desapareceu. Acredito que tenha se cansado da vida longe dos
animais da sua espécie e tenha resolvido voltar ao seu brejo de origem. Perto
da minha casa, nas terras do IZ, passava o rio Quilombo e nas suas margens
normalmente alagadas deveriam existir muitos sapos. Acho que ele voltou para lá
depois de viver uma experiência diferente entre animais de outra espécie.
Eu,
por minha vez, continuei produzindo morangos e fazendo geleias e tortas. Só
parei com essas atividades quando me mudei de Americana. Corria o ano de 1986,
quando eu e minha namorada Claudia decidimos morar juntos e nos mudarmos para
Bauru (SP), por conta de mudanças no campo do trabalho. Meu pai continuou com a
sua horta, mas não se interessou pelos morangos. Depois disso nunca mais os plantei,
mas sei como fazê-lo, garanto! Hoje cuido de uma horta na minha residência em
Campinas, mas não consigo ver espaço suficiente para iniciar um cultivo de
morangos; o terreno livre da minha casa em Campinas (SP) é menor que o de
Americana. Contudo, a ideia não me sai da cabeça e, de alguma forma, pretendo
pô-la em prática, algum dia... Se algum sapo aparecer e topar uma parceria,
será bem vindo.
(1)
Ranking do veneno (artigo extraído
da revista Saúde). Disponível em: http://www.agrisustentavel.com/toxicos/ranking.htm.
Acesso: 30 de maio de 2015.
(2)
http://zildo-gallo.blogspot.com.br/2015/02/meditacoes-partir-da-horta-domestica-da.html
PS.:
Informe-se sobre a agroecologia e sobre os alimentos saudáveis. A internet tem
muitos sites que tratam do assunto; o endereço citado acima é um deles.
Ótima historia! Amei Zildo! Será que o sapo se transformou em algum príncipe?! Muito bem humorada! Deu vontade de comer um morango...orgânico, claro!
ResponderExcluirNão tinha pensado nessa possibilidade. É bem possível... Ele estava tão acostumado à presença de humanos. Pode ser que tenha pedido para alguma fada que o transformasse.
ExcluirNossa, amei esse post, bem interessante, parabéns zildo !
ResponderExcluirBeijos,
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