Zildo Gallo
Ipiranga
significa rio (y) vermelho (piranga) em tupi e trata-se do rio citado no início
do Hino Nacional Brasileiro, cujas margens teriam presenciado Dom Pedro I
proclamar a Independência do Brasil, quando desembainhou a sua espada e gritou:
"independência ou morte!" (ver a figura abaixo - quadro de Pedro Américo). Eis o início do Hino
Nacional:
“Ouviram
do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da pátria nesse instante".
De um povo heroico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da pátria nesse instante".
O dia 7 de setembro faz-me lembrar desse riacho localizado no
município de São Paulo e simbolicamente tão importante para a história
brasileira. O Ipiranga nasce dentro do Jardim Botânico de São Paulo e, graças a
melhorias realizadas em tempos recentes, é possível visitar sua nascente por uma
trilha percorre as diversas fontes formadoras. Enquanto ele está dentro do
Jardim Botânico, seu estado de conservação é bom, como se pode ver na imagem
abaixo. Mas, assim que sai da área protegida, seguirá uma via crucis cruel, como a de muitos outros cursos d'água do
município de São Paulo.
Assim
que o Ipiranga sai do Jardim Botânico, ele perde as suas margens plácidas,
tranquilas, e cai no meio da Rodovia dos Imigrantes, a estrada que ruma para o
litoral paulista. Ali ele também começará a ser contaminado por esgotos. Então,
depois de um curto trajeto, o palco da nossa independência perderá a placidez e
a sua pureza. Triste fim para um personagem tão nobre e com um passado tão memorável.
Muito sujo e
confinado, ele sairá da Rodovia dos Imigrantes para entrar na Avenida Ricardo
Jafet (ver imagem abaixo), onde ocupará o canteiro central e continuará sendo
poluído. Ao deixar a Ricardo Jafet sumirá debaixo do asfalto, sendo forçado a
viver nos subterrâneos para ceder espaço aos automóveis na superfície.
O Ipiranga
reaparecerá quando chegar ao Monumento da Independência, onde fluirá entre
margens menos destruídas, mas chegará ali totalmente destruído e o trecho é curto,
bem curto, cerca de 200 metros (ver imagem abaixo). No seu último trecho, antes
de chegar ao Rio Tamanduateí, ele ocupará o canteiro
central da avenida Teresa Cristina e fará um percurso sob vigas de concreto, instaladas
de uma margem à outra, paralelas e a curta distância umas das outras. Embaixo
das vigas ele corre num tipo de fosso escuro,
uma verdadeira masmorra medieval. Que crime ele cometeu? Ele apenas presenciou
o momento da nossa independência... Eis o riacho Ipiranga, testemunha inocente daquele
já distante e retumbante brado.
O Ipiranga está longe de ser um caso
único na cidade de São Paulo. Muitos córregos foram confinados e sobre eles foram
construídas avenidas. Os dois maiores rios, o Tietê e o Pinheiros, tiveram
pistas de alta velocidade desastradamente instaladas nas suas margens e estão
terrivelmente poluídos. São os melhores retratos da degradação ambiental
paulistana.
São Paulo não foi uma cidade
construída para o cidadão, longe disso, muito longe disso; foi construída pelo
capital e para o capital, que enxerga dinheiro em cada palmo de chão. Na sua
sanha de arrancar o máximo de dinheiro do seu território, o capital destruiu o
patrimônio natural da cidade e sobre ele edificou prédios e mais prédios e ruas
e mais ruas e poluiu tudo, água. ar e solo. São Paulo tornou-se muito desumana;
fica muito difícil perceber com maior refino a humanidade num cidadão tão distanciado
da natureza e enfiado no meio de tamanha poluição. A natureza é um componente
importante da humanização dos homens. Os homens precisam redescobrir isso antes
que seja tarde.
Em relação à destruição do Pinheiros,
o que mais se tem a lamentar é que ele é um importante símbolo do povo
brasileiro, incluindo nele os moradores de São Paulo, evidentemente. Ele está
no início do Hino Nacional Brasileiro (letra de Joaquim Osório Duque Estrada e
música de Francisco Manoel da Silva), apesar do seu tamanho insignificante,
numa alusão de que o que é importante não precisa ser necessariamente grande,
pois a grandeza é um valor relativo. Muitos outros valores concorrem em
importância e aqueles que ligam as pessoas a fatos importantes para elas e para
o coletivo e envolvem sentimentos, principalmente, são os de maior importância.
O capital é desprovido de sentimentos, mas o cidadão não é, não era para ser.
Todavia, ele segue anestesiado a ponto de não dar importância aos símbolos que
o cercam e à natureza a sua volta.
Viva o rio Ipiranga! Viva a Independência do Brasil!
" SEM COMENTÁRIO" ,tamanho é o desrespeito por tudo o que nos cerca hoje em dia!
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