Zildo Gallo
Em outubro de
2012, eu e minha companheira Claudia passamos uma semana na capital do Estado
da Paraíba, João Pessoa. Trata-se de uma bela cidade, com um povo bastante
hospitaleiro. Diferente de outras capitais litorâneas, João Pessoa é uma
cidade sem arranha-céus. Fiquei sabendo que é uma opção
urbanística, uma opção muito inteligente, que lhe confere um agradável ar de cidade interiorana. É um município de médio porte com belas praias, ótimos
restaurantes e várias atrações turísticas. Para aqueles que gostam de um turismo tranquilo, João Pessoa é
uma boa opção, eu indico. Confiram!
Numa caminhada
pela orla marítima, na praia do Cabo Branco, numa pequena praça nós encontramos
uma estátua bem grande, cerca de 2,5 metros, de Iemanjá. A praça leva o mesmo
nome da rainha dos orixás. Tiramos algumas fotos dela, de vários ângulos, pois
ela se parecia muito com uma amiga nossa de São Paulo. No mês seguinte, quando
a encontramos, nós lhe mostramos e, de fato, confirmamos a semelhança.
No início de
abril de 2013, eu li uma notícia num jornal que me deixou chocado e que, mesmo
depois de passado tanto tempo, considero importante falar alguma coisa sobre
ela. "Vândalos" cortaram a cabeça da estátua e ainda escavaram a sua
base, numa tentativa de derrubá-la. Muitos entenderam esse fato como um ato de
intolerância religiosa, inclusive o Conselho Estadual de Direitos Humanos -
presidido por um padre católico - que publicou uma nota contra o
"desrespeito à diversidade religiosa". A seccional da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) na Paraíba também se manifestou a respeito e cobrou
mais segurança para o local.
Esse não foi o
primeiro episódio de intolerância em relação a esse monumento que homenageia a
religiosidade afrodescendente. Trata-se de uma indesejada repetição. Em 2011 as
suas mãos foram arrancadas. A reconstrução da estátua e a indignação de
muitos foi uma boa resposta aos "vândalos", mas precisamos continuar
alertas.
Acho importante
lembrar o episódio aqui no meu blog, pois considero que o patrimônio cultural e
religioso do povo brasileiro deve ser respeitado e que nenhuma intolerância
religiosa deve ser aceita num país tão multicultural como o nosso. A
religiosidade brasileira tem três matrizes predominantes, são elas: a indígena, a africana e a europeia (cristã). A Umbanda, vejam só, que é a primeira religião genuinamente brasileira, mistura as três origens; a criatividade dos brasileiros sempre surpreende. O Brasil é muito grande, multicultural
e multirreligioso e isso é muito rico e muito belo. Essa imensa diversidade
precisa e deve ser preservada.
Na cidade do Rio
de Janeiro, em junho de 2015, a violência da intolerância religiosa atingiu uma
menina de verdade, não uma estátua. Alguns dias após o episódio eu publiquei no
meu blog o artigo: "Lapidaram a menina do candomblé: os fariseus estão de
volta". A pedra que acertou a cabeça da garota atingiu em cheio a memória e
a alma dos nossos irmãos descendentes dos africanos que foram violentamente
trazidos para cá e vergonhosamente escravizados. Eu considero esse episódio
como um duplo mal: racismo e intolerância religiosa.
Escrevi esta
breve crônica para registrar a minha indignação e, para encerrar, quero dizer que
fico horrorizado com o espaço que tem certos pastores, inclusive na grande
imprensa, para disseminar ignorâncias e intolerâncias. A religiosidade de
origem africana e os homossexuais são os alvos preferidos desses "soldados
de Jesus". Até onde pode chegar tamanha estupidez? A história da
humanidade está repleta delas e é cada vez mais necessário que paremos com
isso.
Odoyá, Rainha do
Mar! Lave com suas águas a ignorância das mentes intolerantes e o ódio dos seus
corações embrutecidos. Odoyá! Odoyá!
Viva a Rainha do Mar!!!
ResponderExcluirVIVA!!!
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