Zildo Gallo
Monte
Verde é uma estância turística do Estado de Minas Gerais que fica em um vale no
alto da Serra da Mantiqueira e apresenta características tipicamente europeias;
tem os mesmos atrativos da movimentada Campos do Jordão, mas diferentemente
desta, oferece a tranquilidade de uma pequena cidade do interior. Trata-se de uma
ótima alternativa para quem gosta do frio das montanhas e também busca o
sossego no meio da natureza.
Estávamos
em meados de 2001, eu e minha companheira Claudia estávamos passando uns dias
em Monte Verde, admirando as belezas naturais do local e descansando a cabeça
em merecidas férias. Numa das nossas andanças, avistamos uma lojinha pequena
instalada na frente de uma residência que nos chamou a atenção. Não pela loja
em si, mas pelo seu entorno. O terreno da casa era bastante arborizado e os
proprietários (um casal de aposentados da cidade de São Paulo que fazia geleias
de frutas silvestres colhidas nas redondezas) fincaram no quintal diversas
varas com um tipo de plataforma de madeira no topo, onde colocavam frutas para atrair
a visita de pássaros. Funcionava, somos testemunhas disso. Outra coisa
chamou-nos a atenção, uma árvore muito florida que estava tomada por
beija-flores, de diferentes tipos e diferentes cores. Denominamos aquela árvore
de "árvore de beija-flores" (não sei o nome dela, nem popular nem
científico). Aliás, a presença de colibris em Monte Verde é notável; essas
minúsculas e coloridas aves compõem a imensa beleza da região.
Rolou uma
conversa com os paulistanos aposentados e, é claro, e compramos um vidro de
geleia de morangos silvestres. Enquanto efetuávamos a compra, presenciamos um fenômeno
da natureza que vale a pena ser comentado. De repente, "não mais que de
repente", fez-se silêncio, total silêncio, os beija-flores sumiram e
também os pássaros que comiam as frutas nas plataformas suspensas, com exceção
de um sabiá, que beliscava avidamente as frutas. Numa fração de segundo, numa
velocidade estupenda, um gavião mergulhou e agarrou o sabiá distraído e veloz subiu
e veloz sumiu. Do sabiá só restou uma pena que foi descendo ao chão, balouçante,
lentamente... lentamente...
Findo o
episódio, muito rapidamente, rapidamente mesmo, tudo voltou ao normal, os
beija-flores ressurgiram e os comedores de frutas também. Intuitivamente,
movidos pelos instintos, todos os outros pássaros souberam do perigo com antecedência,
assim é a natureza selvagem. O sabiá não estava alerta, talvez sofresse do mal da
gula e a gula o distraiu. Os animais também têm o pecado capital da gula? Sua
distração custou-lhe a vida. Parece que no mundo selvagem estar sempre alerta,
como um bom escoteiro, é essencial para a sobrevivência. Sempre alerta!
Em 2001,
ano do episódio descrito acima, eu e minha família morávamos num apartamento
num bairro próximo ao centro da cidade de Campinas (SP). Estávamos bem longe da
natureza, atolados no meio do concreto, e dela sentíamos falta. eu com certeza.
Entretanto, a partir de 2003, mudamo-nos para um pequeno condomínio, com pouco
mais de 40 casas, com muitas áreas livres. Nas áreas livres foram plantadas
muitas árvores, principalmente frutíferas (mangas, pitangas, lichias, amoras,
limões etc.). Os abacateiros existentes e ainda produtivos são heranças deixadas
pelo antigo dono das terras, que pertenciam a uma fazenda do Distrito de Barão
Geraldo (Campinas-SP). Os moradores também plantaram árvores nos quintais. Só
na minha residência existem duas jabuticabeiras, uma pitangueira, um limoeiro e
uma aceroleira. O condomínio foi embelezado pelas árvores (frutíferas e
ornamentais), que cresceram com o passar dos anos. Todavia, eu acho que mais
devem ser plantadas, há espaço.
Outra
informação relevante, o nosso condomínio fica próximo à Mata de Santa Genebra, um
remanescente da Mata Atlântica preservado e protegido. A mata é grande e possui
uma rica fauna. É comum a visita de muitos moradores dela ao condomínio, por
conta da flora que desenvolvemos, principalmente os pássaros, que são muitos e
das mais variadas espécies, incluindo os beija-flores. Contudo, tem um bichinho que se destaca, é um
pequeno gambá que, pelo que parece, fixou residência nas nossas terras. É comum
vê-lo circulando pelas árvores, como na imagem abaixo. É um privilégio ter um
vizinho tão simpático. A coisa funciona
assim: nós plantamos as árvores e a natureza nos brinda, nos recompensa, com
muitas surpresas agradáveis.
Além
das árvores frutíferas, no quintal da nossa casa, eu cultivo uma horta
doméstica com uma boa variedade de hortaliças. Neste momento, estou pensando em
iniciar um pequeno cultivo de morangos. Sempre friso: na minha horta não tem
aditivos químicos (venenos e fertilizantes artificiais), tudo é muito natural e
saudável.
Num
dia desses, eu, minha companheira e uma vizinha caminhávamos à noite pelo
condomínio, jogando conversa fora, quando vi que a uvaieira estava carregada de
frutos amarelos, prontos para o consumo. Como eu gosto de frutas azedas, como é
o caso da uvaia, saboreei várias delas ali mesmo. Não é um privilégio? Não, é
um retorno, apenas um retorno. A natureza, quando bem tratada, devolve os
cuidados com abundância. O meu condomínio pode não ter a exuberância de Monte Verde, mas a sua natureza em processo de reconstrução já pode ser considerado um belo espetáculo. Para exemplificar: os visitantes que nele estiveram recentemente puderam apreciar o florescimento dos ipês, que dão nome ao nosso condomínio horizontal (Condomínio dos Ipês).
Um dia vou sair do meu apartamento e ter um quinta assim!!!
ResponderExcluirÉ só pedir que o universo conspira a seu favor.
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