sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A árvore de beija-flores, o sabiá distraído, o gavião certeiro e o gambá do meu condomínio

Zildo Gallo
Monte Verde é uma estância turística do Estado de Minas Gerais que fica em um vale no alto da Serra da Mantiqueira e apresenta características tipicamente europeias; tem os mesmos atrativos da movimentada Campos do Jordão, mas diferentemente desta, oferece a tranquilidade de uma pequena cidade do interior. Trata-se de uma ótima alternativa para quem gosta do frio das montanhas e também busca o sossego no meio da natureza.


Estávamos em meados de 2001, eu e minha companheira Claudia estávamos passando uns dias em Monte Verde, admirando as belezas naturais do local e descansando a cabeça em merecidas férias. Numa das nossas andanças, avistamos uma lojinha pequena instalada na frente de uma residência que nos chamou a atenção. Não pela loja em si, mas pelo seu entorno. O terreno da casa era bastante arborizado e os proprietários (um casal de aposentados da cidade de São Paulo que fazia geleias de frutas silvestres colhidas nas redondezas) fincaram no quintal diversas varas com um tipo de plataforma de madeira no topo, onde colocavam frutas para atrair a visita de pássaros. Funcionava, somos testemunhas disso. Outra coisa chamou-nos a atenção, uma árvore muito florida que estava tomada por beija-flores, de diferentes tipos e diferentes cores. Denominamos aquela árvore de "árvore de beija-flores" (não sei o nome dela, nem popular nem científico). Aliás, a presença de colibris em Monte Verde é notável; essas minúsculas e coloridas aves compõem a imensa beleza da região.
Rolou uma conversa com os paulistanos aposentados e, é claro, e compramos um vidro de geleia de morangos silvestres. Enquanto efetuávamos a compra, presenciamos um fenômeno da natureza que vale a pena ser comentado. De repente, "não mais que de repente", fez-se silêncio, total silêncio, os beija-flores sumiram e também os pássaros que comiam as frutas nas plataformas suspensas, com exceção de um sabiá, que beliscava avidamente as frutas. Numa fração de segundo, numa velocidade estupenda, um gavião mergulhou e agarrou o sabiá distraído e veloz subiu e veloz sumiu. Do sabiá só restou uma pena que foi descendo ao chão, balouçante, lentamente... lentamente...
Findo o episódio, muito rapidamente, rapidamente mesmo, tudo voltou ao normal, os beija-flores ressurgiram e os comedores de frutas também. Intuitivamente, movidos pelos instintos, todos os outros pássaros souberam do perigo com antecedência, assim é a natureza selvagem. O sabiá não estava alerta, talvez sofresse do mal da gula e a gula o distraiu. Os animais também têm o pecado capital da gula? Sua distração custou-lhe a vida. Parece que no mundo selvagem estar sempre alerta, como um bom escoteiro, é essencial para a sobrevivência. Sempre alerta!
Em 2001, ano do episódio descrito acima, eu e minha família morávamos num apartamento num bairro próximo ao centro da cidade de Campinas (SP). Estávamos bem longe da natureza, atolados no meio do concreto, e dela sentíamos falta. eu com certeza. Entretanto, a partir de 2003, mudamo-nos para um pequeno condomínio, com pouco mais de 40 casas, com muitas áreas livres. Nas áreas livres foram plantadas muitas árvores, principalmente frutíferas (mangas, pitangas, lichias, amoras, limões etc.). Os abacateiros existentes e ainda produtivos são heranças deixadas pelo antigo dono das terras, que pertenciam a uma fazenda do Distrito de Barão Geraldo (Campinas-SP). Os moradores também plantaram árvores nos quintais. Só na minha residência existem duas jabuticabeiras, uma pitangueira, um limoeiro e uma aceroleira. O condomínio foi embelezado pelas árvores (frutíferas e ornamentais), que cresceram com o passar dos anos. Todavia, eu acho que mais devem ser plantadas, há espaço.
Outra informação relevante, o nosso condomínio fica próximo à Mata de Santa Genebra, um remanescente da Mata Atlântica preservado e protegido. A mata é grande e possui uma rica fauna. É comum a visita de muitos moradores dela ao condomínio, por conta da flora que desenvolvemos, principalmente os pássaros, que são muitos e das mais variadas espécies, incluindo os beija-flores. Contudo, tem um bichinho que se destaca, é um pequeno gambá que, pelo que parece, fixou residência nas nossas terras. É comum vê-lo circulando pelas árvores, como na imagem abaixo. É um privilégio ter um vizinho tão simpático. A coisa funciona assim: nós plantamos as árvores e a natureza nos brinda, nos recompensa, com muitas surpresas agradáveis.


Além das árvores frutíferas, no quintal da nossa casa, eu cultivo uma horta doméstica com uma boa variedade de hortaliças. Neste momento, estou pensando em iniciar um pequeno cultivo de morangos. Sempre friso: na minha horta não tem aditivos químicos (venenos e fertilizantes artificiais), tudo é muito natural e saudável.
Num dia desses, eu, minha companheira e uma vizinha caminhávamos à noite pelo condomínio, jogando conversa fora, quando vi que a uvaieira estava carregada de frutos amarelos, prontos para o consumo. Como eu gosto de frutas azedas, como é o caso da uvaia, saboreei várias delas ali mesmo. Não é um privilégio? Não, é um retorno, apenas um retorno. A natureza, quando bem tratada, devolve os cuidados com abundância. O meu condomínio pode não ter a exuberância de Monte Verde, mas a sua natureza em processo de reconstrução já pode ser considerado um belo espetáculo. Para exemplificar: os visitantes que nele estiveram recentemente puderam apreciar o florescimento dos ipês, que dão nome ao nosso condomínio horizontal (Condomínio dos Ipês).


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TEMPO E ROUPA SUJA