Zildo Gallo
Atualmente, 20 municípios são membros da Região Metropolitana de
Campinas (RMC), uma extensa área conurbada e densamente povoada: Americana, Artur
Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Itatiba, Holambra, Engenheiro Coelho, Hortolândia,
Indaiatuba, Jaguariúna, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Paulínia,
Pedreira, Santa Bárbara d'Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Valinhos e
Vinhedo (ver figura). Juntos, eles tinham em 2014, conforme estimativa da Fundação Seade, 2 976 433 habitantes. Trata-se de uma região altamente industrializada que, além de possuir uma economia forte e diversificada, também se destaca pela presença de centros inovadores no campo das pesquisas científicas e
tecnológicas. O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,835 (PNUD,
2000), muito acima da média brasileira, confirma a afluência da região. Apesar
dos problemas sociais, que são muitos e graves, a RMC possui o melhor Índice de
Desenvolvimento Humano entre as regiões metropolitanas do Brasil.
REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS: MUNICÍPIOS |
Juntos, em 2014, os 20 municípios da RMC produziam 2.837,25 toneladas diárias de lixo. Em 30 de maio de 2014, o Correio Popular de Campinas publicou a seguinte matéria no Caderno Cidades: "Lixo gerado aumenta 10 vezes mais que a população na RMC". Conforme a reportagem do jornal diário, a produção de resíduos sólidos cresceu 80,8% em cinco anos, enquanto que a população da região aumentou apenas 7,7%. A produção diária per capita de resíduos sólidos saltou de 0,56 kg para 0,95 kg. Tal produção está acima da média nacional, que é de 0,80 kg. Todavia, ela está muito abaixo da dos Estados Unidos, que é de 2,5 kg/dia (ver tabela). Acredito que não seja nenhum pouco saudável do ponto de vista ambiental alcançar os americanos na produção de lixo.
Lixo produzido na RMC por dia (ton) e
por habitante (kg)
Cidade
|
2009(*)
|
2014(**)
|
2009(*)
|
2014(**)
|
Americana
|
122,80
|
203,32
|
0,59
|
0,92
|
Artur Nogueira
|
16,00
|
35,74
|
0,36
|
0,74
|
Campinas
|
732,8
|
1.248,24
|
0,68
|
1,10
|
Cosmópolis
|
22,80
|
48,76
|
0,38
|
0,76
|
Engenheiro Coelho
|
3,80
|
9,20
|
0,26
|
0,51
|
Holambra
|
2,20
|
6,61
|
0,21
|
0,52
|
Hortolândia
|
123,50
|
191,27
|
0,59
|
0,92
|
Indaiatuba
|
90,50
|
201,89
|
0,49
|
0,91
|
Itatiba
|
32,20
|
75,39
|
0,32
|
0,69
|
Jaguariúna
|
14,30
|
39,40
|
0,34
|
0,80
|
Monte Mor
|
17,10
|
40,92
|
0,35
|
0,76
|
Morungaba
|
4,00
|
7,64
|
0,34
|
0,81
|
Nova Odessa
|
19,10
|
44,08
|
0,37
|
0,81
|
Paulínia
|
33,50
|
76,11
|
0,39
|
0,82
|
Pedreira
|
15,80
|
35,74
|
0,38
|
0,81
|
Santa Bárbara
D'Oeste
|
93,60
|
168,97
|
0,52
|
0,91
|
Santo Antônio de
Posse
|
6,90
|
14,16
|
0,33
|
0,65
|
Sumaré
|
142,60
|
233,30
|
0,60
|
0,90
|
Valinhos
|
50,80
|
101,33
|
0,48
|
0,88
|
vinhedo
|
24,90
|
55,18
|
0,40
|
0,79
|
Total
|
1.569,20
|
2.837,25
|
0,56
|
0,95
|
(*) toneladas/dia - (**)
quilos/dia per capita
Fonte: Inventário Estadual de
Resíduos Sólidos (CETESB)
A produção diária de resíduos sólidos continuará crescendo à medida que a economia crescer. O crescimento econômico que se fez acompanhar de uma melhor repartição de renda nos últimos anos explica o fenômeno descrito acima. Com a expansão da renda também acontece uma mudança nos padrões de consumo, como o aumento do uso de alimentos processados, por exemplo, que são acondicionados em embalagens descartáveis. Assim, basicamente, o acréscimo no volume de resíduos diz respeito a essas embalagens. Plásticos, papéis, papelões e latas constituem o grosso do descarte e isto implica na necessidade de uma eficiente gestão ambiental no campo dos resíduos., que deve levar em conta os seguintes pontos:
- Plásticos, papéis, papelões e latas são matérias primas que não podem ser soterradas nos aterros sanitários; isso significa literalmente enterrar dinheiro;
- A coleta seletiva dos resíduos e a posterior reciclagem são fundamentais no estágio atual da sociedade de consumo, pois elas servem para diminuir a pressão sobre as fontes de matérias primas, como petróleo, minerais metálicos e florestas, preservando-as para as futuras gerações;
- A gestão ambiental deve ser objeto de políticas públicas, onde o poder local deve colocar-se como principal agente do processo;
- O aumento da reciclagem, fazendo com que ela chegue próximo dos 100% para todos os materiais, como já acontece com as latas de alumínio, implicará também no aumento da vida útil dos aterros sanitários;
- Especial atenção deve ser dada aos catadores de resíduos sólidos, pois eles são os principais agentes da reciclagem e, geralmente, encontram-se em situação de vulnerabilidade social;
- A cadeia industrial de transformação dos resíduos precisa ser potencializada; incentivos fiscais e linhas de crédito especiais podem ser concedidos para que isso aconteça;
- A educação ambiental é fundamental em todo o processo, pois a consciência da necessidade de reduzir a produção de resíduos, de reciclá-los e de não descartá-los na natureza (quando eles são lançados em terrenos não construídos ou, até mesmo, nas vias públicas e nos corpos d'água, gerando poluição) é a base onde se deve assentar toda a gestão ambiental dos resíduos sólidos.
- O poder local tem as condições necessárias para ser o principal agente da educação ambiental e não pode furtar-se desse papel.
Nas regiões metropolitanas, como é o caso da Região de Campinas, a implantação de sistemas de gestão é mais urgente, muito mais urgente, pois a inexistência de áreas disponíveis para aterros sanitários é uma realidade inquestionável. Na RMC, dos 20 municípios, 16 enviam seus resíduos para Paulínia, onde funciona o Centro de Gerenciamento de Resíduos (CGR) da Estre Ambiental. Só Pedreira, Santa Bárbara D'Oeste e Indaiatuba mantém aterros próprios, sendo que Indaiatuba também recebe os resíduos de Monte Mor. Fica muito clara a necessidade de diminuir a pressão sobre os aterros com o incentivos à coleta seletiva e à reciclagem.
Reafirmo: não acho nem um pouco saudável chegarmos a uma situação de produção de resíduos como os EUA, que do ponto de vista ambiental é absolutamente insustentável. Todavia, acredito que a economia brasileira vai retomar o seu crescimento e que, com o seu crescimento, haverá um aumento na produção de resíduos. O crescimento econômico no Brasil continua sendo necessário, pois ainda permanece a necessidade de inclusão social de milhões de brasileiros que se encontram em situação de vulnerabilidade social, inclusive na RMC.
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