quinta-feira, 4 de junho de 2015

A RIQUEZA E O LIXO: O LIXO É RIQUEZA

Zildo Gallo


Atualmente, 20 municípios são membros da Região Metropolitana de Campinas (RMC), uma extensa área conurbada e densamente povoada: Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis,  Itatiba, Holambra, Engenheiro Coelho, Hortolândia, Indaiatuba, Jaguariúna, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara d'Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo (ver figura). Juntos, eles tinham em 2014, conforme estimativa da Fundação Seade, 2 976 433 habitantes. Trata-se de uma região altamente industrializada que, além de possuir uma economia forte e diversificada, também se destaca pela presença de centros inovadores no campo das pesquisas científicas e tecnológicas. O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,835 (PNUD, 2000), muito acima da média brasileira, confirma a afluência da região. Apesar dos problemas sociais, que são muitos e graves, a RMC possui melhor Índice de Desenvolvimento Humano entre as regiões metropolitanas do Brasil.

REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS: MUNICÍPIOS

Juntos, em 2014, os 20 municípios da RMC produziam 2.837,25 toneladas diárias de lixo. Em 30 de maio de 2014, o Correio Popular de Campinas publicou a seguinte matéria no Caderno Cidades: "Lixo gerado aumenta 10 vezes mais que a população na RMC". Conforme a reportagem do jornal diário, a produção de resíduos sólidos cresceu 80,8% em cinco anos, enquanto que a população da região aumentou apenas 7,7%. A produção diária  per capita de resíduos sólidos saltou de 0,56 kg para 0,95 kg. Tal produção está acima da média nacional, que é de 0,80 kg. Todavia, ela está muito abaixo da dos Estados Unidos, que é de 2,5 kg/dia (ver tabela). Acredito que não seja nenhum pouco saudável do ponto de vista ambiental alcançar os americanos na produção de lixo.

Lixo produzido na RMC por dia (ton) e por habitante (kg)
Cidade
2009(*)
2014(**)
2009(*)
2014(**)
Americana
122,80
203,32
0,59
0,92
Artur Nogueira
16,00
35,74
0,36
0,74
Campinas
732,8
1.248,24
0,68
1,10
Cosmópolis
22,80
48,76
0,38
0,76
Engenheiro Coelho
3,80
9,20
0,26
0,51
Holambra
2,20
6,61
0,21
0,52
Hortolândia
123,50
191,27
0,59
0,92
Indaiatuba
90,50
201,89
0,49
0,91
Itatiba
32,20
75,39
0,32
0,69
Jaguariúna
14,30
39,40
0,34
0,80
Monte Mor
17,10
40,92
0,35
0,76
Morungaba
4,00
7,64
0,34
0,81
Nova Odessa
19,10
44,08
0,37
0,81
Paulínia
33,50
76,11
0,39
0,82
Pedreira
15,80
35,74
0,38
0,81
Santa Bárbara D'Oeste
93,60
168,97
0,52
0,91
Santo Antônio de Posse
6,90
14,16
0,33
0,65
Sumaré
142,60
233,30
0,60
0,90
Valinhos
50,80
101,33
0,48
0,88
vinhedo
24,90
55,18
0,40
0,79
Total
1.569,20
2.837,25
0,56
0,95
                (*) toneladas/dia - (**) quilos/dia per capita
                Fonte: Inventário Estadual de Resíduos Sólidos (CETESB)

A produção diária de resíduos sólidos continuará crescendo à medida que a economia crescer. O crescimento econômico que se fez acompanhar de uma melhor repartição de renda nos últimos anos explica o fenômeno descrito acima. Com a expansão da renda também acontece uma mudança nos padrões de consumo, como o aumento do uso de alimentos processados, por exemplo, que são acondicionados em embalagens descartáveis. Assim, basicamente, o acréscimo no volume de resíduos diz respeito a essas embalagens. Plásticos, papéis, papelões e latas constituem o grosso do descarte e isto implica na necessidade de uma eficiente gestão ambiental no campo dos resíduos., que deve levar em conta os seguintes pontos:
  1. Plásticos, papéis, papelões e latas são matérias primas que não podem ser soterradas nos aterros sanitários; isso significa literalmente enterrar dinheiro;
  2. A coleta seletiva dos resíduos e a posterior reciclagem são fundamentais no estágio atual da sociedade de consumo, pois elas servem para diminuir a pressão sobre as fontes de matérias primas, como petróleo, minerais metálicos e florestas, preservando-as para as futuras gerações;
  3. A gestão ambiental deve ser objeto de políticas públicas, onde o poder local deve colocar-se como principal agente do processo;
  4. O aumento da reciclagem, fazendo com que ela chegue próximo dos 100% para todos os materiais, como já acontece com as latas de alumínio, implicará também no aumento da vida útil dos aterros sanitários;
  5. Especial atenção deve ser dada aos catadores de resíduos sólidos, pois eles são os principais agentes da reciclagem e, geralmente, encontram-se em situação de vulnerabilidade social;
  6. A cadeia industrial de transformação dos resíduos precisa ser potencializada; incentivos fiscais e linhas de crédito especiais podem ser concedidos para que isso aconteça;
  7. A educação ambiental é fundamental em todo o processo, pois a consciência da necessidade de reduzir a produção de resíduos, de reciclá-los e de não descartá-los na natureza (quando eles são lançados em terrenos não construídos ou, até mesmo, nas vias públicas e nos corpos d'água, gerando poluição) é a base onde se deve assentar toda a gestão ambiental dos resíduos sólidos.
  8. O poder local tem as condições necessárias para ser o principal agente da educação ambiental e não pode furtar-se desse papel.

Nas regiões metropolitanas, como é o caso da Região de Campinas, a implantação de sistemas de gestão é mais urgente, muito mais urgente, pois a inexistência de áreas disponíveis para aterros sanitários é uma realidade inquestionável. Na RMC, dos 20 municípios, 16 enviam seus resíduos para Paulínia, onde funciona o Centro de Gerenciamento de Resíduos (CGR) da Estre Ambiental. Só Pedreira, Santa Bárbara D'Oeste e Indaiatuba mantém aterros próprios, sendo que Indaiatuba também recebe os resíduos de Monte Mor. Fica muito clara a necessidade de diminuir a pressão sobre os aterros com o incentivos à coleta seletiva e à reciclagem.

Reafirmo: não acho nem um pouco saudável chegarmos a uma situação de produção de resíduos como os EUA, que do ponto de vista ambiental é absolutamente insustentável. Todavia, acredito que a economia brasileira vai retomar o seu crescimento e que, com o seu crescimento, haverá um aumento na produção de resíduos. O crescimento econômico no Brasil continua sendo necessário, pois ainda permanece a necessidade de inclusão social de milhões de brasileiros que se encontram em situação de vulnerabilidade social, inclusive na RMC.

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