Zildo
Gallo
Findas
as comemorações da passagem de ano, regadas em larga escala com bebidas
alcoólicas e, em muitos casos, com drogas dos mais variados tipos, não
esquecendo também da imensa orgia gastronômica, iniciamos 2015. Como todo fim de ano, como já
tem sido há muito tempo, tratou-se de um ritual de passagem marcado pelos prazeres
imediatos dos sentidos. Tudo bem, já passou... Não sejamos falsos moralistas,
mas o resto do ano não precisa ser assim.
Para
o bem da Terra e da humanidade, faz-se mais que necessária alguma moderação.
Trata-se de uma austeridade necessária, já que o mundo ao nosso redor nos chama
o tempo todo para que nos entreguemos ao "império dos sentidos". A
indústria da propaganda insta-nos a que consumamos e ela aponta a forma e a
intensidade do consumir.
Então,
é preciso muita atenção, pois o chamado do imediatismo prazeroso é muito forte
e movimenta volumes estratosféricos de recursos econômicos e naturais do nosso
planeta. Além disso, mergulhar no mundo do consumo exagerado, supérfluo e
ostentatório apenas serve para nos manter na superfície, impedindo que ganhemos
profundidade, que enxerguemos além do mundo material/sensorial que nos rodeia.
Trata-se de uma prisão sem grades, onde vivenciamos uma sensação de liberdade,
mas onde, de fato, não somos verdadeiramente livres. Quanto mais temos
condições econômicas de consumir, mais nos sentimos livres, pois passamos, a
partir do avanço da "sociedade de consumo", a ver a liberdade, esse
bem imaterial necessário ao desenvolvimento do espírito, como mera capacidade
de consumir. Trata-se de uma redução, um apequenamento da condição humana, da
condição para que nos tornemos verdadeiramente humanos.
A
orgia consumista continuará a fazer os seus estragos ambientais, sociais e
espirituais enquanto não percebermos o quanto estamos perdidos neste labirinto
hedonista, onde o que conta é o prazer imediato de cada dia. A saída do labirinto
começa pela tomada de consciência do engano vivido e, a partir daí, pela
prática da austeridade. Consumir o necessário, o que é saudável, o que não
prejudica a natureza, não desperdiçar e, principalmente, não se deixar levar
pela máquina da propaganda, este é o caminho da austeridade. Pode parecer
moralismo, mas não é. A mãe Terra já está sentindo as dores do nosso desregramento
e ela já está reagindo. O nosso planeta é um sistema vivo, trata-se de uma
imensa rede de relações e precisamos enxergar o nosso papel dentro desta rede,
desta imensa "teia da vida". Enquanto seres humanos, do ponto de
vista biológico, estamos no topo da cadeia alimentar e, por enquanto, agimos
como predadores. Precisamos dar um salto qualitativo (trata-se de um salto de
caráter marcadamente espiritual), migrando da condição de bárbaros predadores
para a condição de conscientes cuidadores.
Podemos
começar com fazeres bem simples: 1) preparar o próprio alimento, diminuindo o
consumo de alimentos muito processados; 2) adquirir produtos da agricultura
orgânica, criando uma demanda firme para sustentar a pequena agricultura; 3)
usar os recursos hídricos com parcimônia; 4) quando comer fora, procurar
restaurantes que trabalhem com alimentos saudáveis, principalmente os que
utilizam produtos da agroecologia; 5) comprar mercadorias pela necessidade real
e não pelo simples impulso de consumir; 6) buscar formas de lazer saudáveis,
como ir à praia, ao campo, ao cinema, ao teatro ou como viajar para conhecer
lugares novos, culturas diferentes etc. etc., 7) diminuir significativamente o
consumo de carne, com destaque para a bovina, que contribui para aumentar o desmatamento
no Brasil; 8) buscar práticas espirituais desinteressadas,
que efetivamente elevem o nosso espírito e nos conectem (religuem) com a vida e
com todo o Universo. Existem outros, mas estes já ajudariam muito. Bem... não
são fazeres tão simples assim, mas são mais que necessários, são urgentes.
FELIZ ANO NOVO!
Adorei... Zildo... muito bom !!!!
ResponderExcluirMuito bom, Zildo! Uma reflexão necessária e atual.
ResponderExcluirNão vejo outro caminho quer não este da moderação. Abraços.
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