segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

As águas, recomendações para o próximo ano

Zildo Gallo

Hoje, dia 29 de dezembro de 2014, antepenúltimo dia do ano, recebi as seguintes informações:
  • no dia 28/12/2014, a vazão do Rio Atibaia em Campinas/SP, cidade onde resido, havia caído pelo segundo dia consecutivo, chegando a 10,6m3/s;
  • o nível do Sistema Cantareira, que abastece a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e regulariza a vazão a jusante, para a Região Metropolitana de Campinas (RMC), também voltou a cair, após subir por três dias consecutivos, indo de 7,4% para 7,3%.

A imprensa fica noticiando todos os dias sobre o sobe e desce dos reservatórios, sobre as vazões dos corpos d'água e sobre os volumes das chuvas. São informações importantes, pois alertam os usuários dos recursos hídricos, para que eles façam a sua parte, utilizando os recursos moderadamente.

Contudo, considero a forma como a imprensa atua inadequada e incompleta em diversos pontos: 1) sinto a falta de matérias com caráter mais educativo e menos terrorista, informando formas de redução de consumo e de reuso de água, como o aproveitamento da água da máquina de lavar roupas, por exemplo; 2) poderiam ser feitas coberturas sobre como as prefeituras estão enfrentando ou como pensam enfrentar a questão da escassez dos recursos hídricos nas duas regiões em questão; 3) os jornais, as rádios e as TVs poderiam fazer matérias de caráter mais educativo, mostrando de forma simples e rápida (é plenamente possível) o comportamento do ciclo hidrológico, das águas subterrâneas, a importância da vegetação e das áreas permeáveis para o armazenamento de água etc. Entrevistas mais frequentes com especialistas ajudariam muito também.

Como um dos especialistas, percebo uma ignorância generalizada sobre a questão dos recursos hídricos, incluindo aí a imprensa. Todavia, entendo o porquê: até bem pouco tempo vivia-se uma sensação de abundância. De fato, havia uma relativa abundância, pois o Estado de São Paulo encontra-se fora da parte do Brasil que historicamente enfrenta estiagens prolongadas, como o semiárido nordestino. Estiagens severas (esporádicas) aconteciam aqui (os agricultores a percebiam mais nitidamente e os moradores urbanos bem menos), mas naqueles tempos o fator urbanização não pesava tanto como agora, com destaque para as duas regiões metropolitanas.

Além da quantidade exorbitante de usuários de recursos hídricos, as cidades das metrópoles estão extremamente impermeabilizadas e as chuvas viram de forma muito rápida escoamento superficial, provocando enchentes e não alimentando as águas subterrâneas; são águas perdidas que seguem antecipadamente rumo ao seu destino final, o oceano.


O que fazer? Aqui vão algumas sugestões: 1) os habitantes e as empresas dos mais diferentes tipos (fábricas, shoppings, hotéis etc.) poderiam ser incentivados a recolher e armazenar as águas da chuva, como os nordestinos estão aprendendo a fazer; 2) as prefeituras deveriam providenciar a ampliação de espaços permeáveis, como os parques e jardins, por exemplo; 3) as câmaras de vereadores poderiam, através de leis, delimitar espaços permeáveis mínimos obrigatórios nos imóveis urbanos; 4) os engenheiros deveriam buscar formas alternativas de calçamento das vias públicas, diferentes do asfalto, que permitissem a infiltração da chuva, o que diminuiria as enchentes e produziria a melhor forma de armazenamento de água, que se encontra disponível de forma gratuita e completamente natural, que é aquela que acontece no subsolo.

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