Zildo
Gallo
Hoje, 12 de janeiro de
2015, recebi a informação de que o volume de água do Cantareira caiu na sexta-feira
(09/01) de 6,8% para 6,7%. Estamos no período chuvoso, mas ainda tem chovido
menos que nos outros anos.
Há que se preparar para o
pior. Enquanto as obras de engenharia não acontecem, a ordem do dia é racionamento
(eufemisticamente, podemos denominar racionalização do uso), não dá para
escamotear nem dá para ficar lamentando.
Em 19/11/2014 o Jornal
GGN trazia a matéria assinada por Arnaldo Pagano que, resumidamente, dizia o
seguinte: Em plena crise de abastecimento de água em São Paulo, a Sabesp deve
fechar 2014 com lucro perto de R$ 1,9 bilhão. Apenas no segundo trimestre, o
lucro líquido da companhia chegou a R$ 302,4 milhões. A crise hídrica é
inegável, mas a forma como a empresa vem fazendo a gestão de seus negócios é
questionável (http://jornalggn.com.br/noticia/em-plena-crise-sabesp-deve-lucrar-r-19-bilhao).
Não devemos questionar a
necessidade de a SABESP ser uma empresa saudável do ponto de vista financeiro,
ela deve ser. O que devemos questionar, então? Devemos lembrar, sempre lembrar,
o fato de que a água não pode ser tratada como uma mera mercadoria. Antes
disso, ela é um bem essencial à vida. Neste sentido, trata-se, antes de tudo,
de um bem público e assim deve ser considerada pela empresa estatal e pelo
Governo do Estado de São Paulo, no caso o seu sócio majoritário.
O retardamento dos
investimentos necessários alimentou os lucros e, por conseguinte, os dividendos
distribuídos pela empresa. Alguém duvida disso? Há como duvidar disso? Trata-se
de uma visão de caráter mercantil e, tratar um bem essencial de forma
exclusivamente mercantil é um sério problema ético, pois significa dar um tratamento
utilitarista em benefício de poucos, no caso os acionistas da SABESP, em
detrimento da imensa maioria dos usuários da água.
Há que se resgatar o
caráter da SABESP: uma empresa pública cujo produto é um bem público essencial
e cuja missão é garantir a segurança hídrica a muitas cidades do Estado de São
Paulo. Ela é uma prestadora de serviços; não são quaisquer serviços, são serviços
essenciais: fornecer água potável e tratar dos efluentes domésticos, garantindo,
a sanidade dos corpos d'água do Estado. O seu lucro inquestionável deve derivar
deste servir e não da procrastinação do seu dever.
Esta crise hídrica talvez
sirva para relembrar que a água é um bem essencial à vida, assim como o ar e os
alimentos, que é um bem público e que deve ter o seu uso garantido a todos, da
forma o mais racional possível, independente do poder de compra de cada membro
da população. Isto significa que não se pode abrir mão do planejamento (curto,
médio e longo prazos) na gestão dos recursos hídricos. Um bem essencial não
pode ser deixado à lógica de mercado, que se movimenta no curto prazo, muitas
vezes no curtíssimo prazo, no sentido do ganho imediato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário