Zildo
Gallo
O município de Americana/SP até a década de oitenta do século passado ainda tinha salas de cinema. Até os anos setenta a cidade chegou a ter três salas: Cine Brasil, Cine Cacique e Cine Comendador. Essas salas tiveram o mesmo destino que as milhares espalhadas pelo Brasil: foram fechadas e tornaram-se casas de comércio ou igrejas. É corrente a justificativa de que o vídeo cassete e logo a seguir o DVD contribuíram para tal fenômeno. Não pretendo discutir as causas, mas lembrar da importância das salas de cinema da cidade de Americana, pelo menos para mim, onde passei a maior parte da minha infância, da minha adolescência e onde habitei até os meus trinta anos de idade.
O município de Americana/SP até a década de oitenta do século passado ainda tinha salas de cinema. Até os anos setenta a cidade chegou a ter três salas: Cine Brasil, Cine Cacique e Cine Comendador. Essas salas tiveram o mesmo destino que as milhares espalhadas pelo Brasil: foram fechadas e tornaram-se casas de comércio ou igrejas. É corrente a justificativa de que o vídeo cassete e logo a seguir o DVD contribuíram para tal fenômeno. Não pretendo discutir as causas, mas lembrar da importância das salas de cinema da cidade de Americana, pelo menos para mim, onde passei a maior parte da minha infância, da minha adolescência e onde habitei até os meus trinta anos de idade.
Depois desse fenômeno
arrasador, as salas de cinema começaram a voltar, aos poucos, através dos shoppings centers nas cidades médias e
grandes. Nas cidades pequenas elas não foram reabertas, pois elas não têm
shoppings de grande porte. Apesar de ser uma cidade de médio porte, Americana
não dispõe ainda de salas de projeção, uma pena...
Ir ao cinema na minha
infância e na minha adolescência era um ato corriqueiro. Tornei-me um cinéfilo
desde pequeno. Na minha infância frequentava as matinês aos domingos à tarde.
Era um acontecimento, pois não se tratava apenas de ver um filme. Outras coisas
aconteciam nos cinemas e uma delas era bastante produtiva do ponto de vista
cultural e social. Tratava-se da troca de gibis. Naquela época líamos muitos
gibis e adquirimos o hábito saudável de trocar os já lidos com os amigos das
matinês. Todos nós levávamos embaixo dos braços um punhado deles para troca.
Não havia dinheiro nesse tipo de negócio. Estabelecíamos alguns parâmetros como
o de que um álbum valia dois gibis menores, por exemplo. Hoje a sociologia
chama isso de troca justa ou comércio justo. Éramos politicamente corretos e
nem suspeitávamos disso.
Quando cresci, não
trocava mais gibis nas matinês, mas continuei frequentando os três cinemas,
dessa vez no período noturno, religiosamente. Como os cinemas não passavam
filmes repetidos, acabava vendo três filmes por semana. Perdi as contas dos
filmes que assisti. Não tinha gênero preferido, gostava de todos, comédias,
dramas, terror, faroeste, policial, animação, musical etc. Os cinemas eram
muito frequentados e a vontade de ver os filmes era tanta que chegávamos a
falsificar a data de nascimento na carteira estudantil para assistirmos aos
filmes proibidos a menores de dezoito anos, confesso que o fiz.
Com o surgimento do
vídeo cassete, ver filmes ficou mais barato e mais simples, mas, asseguro não
tem o mesmo encanto do cinema e digo mais, não tem o mesmo alcance cultural e
social. Ir ao cinema contribuía para o desenvolvimento de uma saudável
sociabilidade, pois enquanto esperávamos a abertura das portas para o início da
sessão, encontrávamos velhos conhecidos e jogávamos conversa fora; tudo era
muito agradável e tinha muita magia nisso. Aquelas antigas salas eram muito
diferentes das salas dos shoppings. A sala de espera já era um acontecimento
sociocultural. Pode ser que o fechamento das salas tenha contribuído, junto com
muitas outras causas, é lógico, para o avanço do individualismo na nossa
sociedade. É uma questão a ser verificada.
Nem tudo ficou ruim em
Americana, pelo menos o Cine Brasil não virou comércio e nem igreja, pois se transformou
num teatro, num bom teatro, mas a cidade continua precisando de um cinema. Será
que só eu penso assim, eu que não moro nessa cidade há anos? Em Campinas, onde moro,
tem muitas salas e recentemente foram fechadas quatro salas do Cine Topázio no
Shopping Prado. O Cine Topázio era diferente, pois não exibia, como a maioria
dos outros, um monte de filmes americanos. Ele exibia filmes de muitas
nacionalidades, com destaque para os franceses. Muitos lamentaram o seu
fechamento, inclusive eu. Sou daqueles que acredita que o cinema pode contribuir
para a formação cultural dos povos.
Na minha infância, além dos três
cinemas, ainda contávamos com o Cineminha do Senhor Pagni. O Senhor Pagni era um cinéfilo e
um cinegrafista amador. Lembro-me que ele filmava os acontecimentos da primeira
gestão do Prefeito Dr. Valdemar Tebaldi (1977 - 1982), como as inaugurações de
obras, por exemplo. Ele tinha na sua casa, no cruzamento entre as Ruas
Gonçalves Dias e Vital Brasil, um salão grande, onde colocou vários bancos
compridos de madeira e onde projetava filmes para o público infanto-juvenil,
cobrando preços simbólicos, preços que as crianças pobres podiam pagar. Era um
serviço social de inestimável valor. Recordo-me de ter visto os filmes dos Três
Patetas, do Gordo e Magro, Tarzan, Zorro, Mazzaropi e muitos faroestes.
Inesquecível Senhor Pagni...
Será que Americana espera por um
shopping de tamanho grande para poder ter salas de cinema, como aconteceu com o
município vizinho, Santa bárbara D'Oeste? Aqui vai uma sugestão. Parece-me que
o velho Cine Brasil era do Sr. Abdo Najar, ex-prefeito da cidade e o seu filho,
Omar Najar, é o atual prefeito. A Prefeitura Municipal poderia tomar a frente,
depois de sanear as contas públicas, é óbvio, e providenciar (pode ser em
parceria com o setor privado) a construção de salas de cinema. Do ponto de
vista cultural, a meu ver, seria um ganho expressivo para o município.
Olá.
ResponderExcluirGostaria de saber de quem é essa foto que ilustra o texto. Quero usá-la, e preciso dar os devidos créditos!
Obrigada ;)
Eu não consegui até hoje descobrir de quem é a foto. Todavia, eu sei que ela tem um dono. Caso você descubra, me informe, por favor, pois, assim, eu também anoto os créditos para o autor. Grato!
ExcluirTudo bem, eu que agradeço!! ;)
ExcluirBom saber dessas histórias, belo texto.
ResponderExcluirSensacional!!! Hoje trabalho com cinema, a primeira vez que assisti um filme no cinema foi no "Cine Brasil"
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