quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O TEMPO E A BOLA

Zildo Gallo



Rola a bola
e pula e rola
no terreno vazio de obras
o espaço das gentes pequenas
pernas e pés
correndo... correndo...
para frente
para trás
para frente
para trás
alegres...
incansáveis...
presentes...

Rola o tempo
e salta e corre
para a frente
para a frente
mais à frente...
o terreno apequena-se
as gentes ficam grandes
um prédio emerge
no meio do campo
a bola já não rola
pernas e pés
correm agora
cansados...
bambos...
ausentes...
para frente...
adiante...
numa linha sem horizonte
já quase desligada (esquecida)
do seu ponto de partida.

PS.: Escrito em outubro de 2001 e modificado em fevereiro de 2016.



Onze (11, o número mágico do futebol) notas sobre o futebol de meninos.

1. Olhando lá para trás, para os longínquos tempos da minha infância, observo que, de fato, desconheço melhor diversão para meninos do que o futebol.
2. Jogávamos praticamente todos os dias e o jogo acontecia em qualquer lugar, mas onde morava havia um terreno sem construção que transformamos em campo e nele jogamos durante alguns anos.
3. Nós mesmos estabelecíamos as regras do jogo, todos os dias. Era mais ou menos assim: vira aos 10 e acaba nos vinte e, assim, no décimo gol mudávamos de lado no campo; gol de goleiro não vale etc. Às vezes, as regras eram bem estranhas, mas combinado era combinado e pronto.
4. Brincávamos horas a fio com algumas pausas para descanso e para beber água. Nestes momentos conversávamos. Sobre o que? Adivinhem! Sobre os melhores lances da partida e cada um tinha a sua façanha para se gabar. Além de jogadores éramos comentaristas, cada um puxando a sardinha para a sua brasa, é óbvio.
5. Eu ia para a escola no período da manhã. Quando voltava para casa, almoçava, fazia a lição e disparava para o campinho. Aos poucos os meninos iam chegando, até que alguém gritava: "deu time!"
6. Com número suficiente de jogadores, organizávamos os times, sempre tomando o cuidado de não deixar os melhores craques no mesmo lado. Gostávamos de jogos bem disputados. Havia aí um senso de justiça.
7. Era uma infinidade de gols e haja garganta para comemorar cada um. Gols de calcanhar e os raríssimos de bicicleta tornavam-se lendas durante vários dias. Uma vez fiz um do meio do campo, fiquei insuportável durante algum tempo, mas o tempo passa...
8. Nos meses de férias o futebol começava já no período da manhã, todos os dias, com chuva e com sol, com chuva era muito divertido, não para as nossas mães que tinham que lavar as roupas embarreadas.
9. Reafirmando, todos os dias discutíamos as regras de cada partida e elas  tinham que ser respeitadas. Todo combinado era justo. Caso alguém reclamasse, a resposta era: "foi combinado!" Era um autoaprendizado muito democrático. Cada menino um voto, muito justo...
10. Tomar um chapéu ou uma bola no meio as pernas era motivo para gozação, muita gozação. A vítima não via a hora de que o acontecido caísse no esquecimento, mas costumava demorar.
11. Enquanto houvesse alguma luz, havia jogo. "Menino, vem tomar banho, já é noite!" Eram as mães chamando os craques mirins para o descanso necessário e merecido, depois de tanta correria, chutes, tombos, pancadas, raladas e gols, muitos gols, é claro.



terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

As sombras que assombram a humanidade

Zildo Gallo

A humanidade vive assombrada por muitas sombras milenares que a acompanham desde os primórdios da civilização. Neste artigo eu pretendo discursar sobre as três que considero mais importantes, pois elas são três elementos basilares do patriarcado: a exploração do trabalho alheio (escravatura, jornadas excessivas, baixas remunerações, trabalho infantil, insalubre etc.); a violência contra a mulher, nas suas mais diferentes manifestações (falta de liberdade, exploração sexual etc.) e; a apropriação privada do território por poucos em detrimento da maioria (propriedade privada do espaço de produção da existência).


Para entendermos esta questão e, sobretudo, a necessidade de se superar as três sombras, temos que, de antemão, compreender de que homens estamos falando. Que tipo de distorções levaram a humanidade a produzir, penetrar e perder-se nesta escuridão milenar? Para tanto, precisamos compreender três dimensões importantes que moldam o ser humano, que transformam o primata em homem. Estamos falando do homo economicus, do homo sapiens e do homo religiosus - o homem que transforma a natureza, o homem sábio que pensa a si e a natureza e o homem que transcende a sua própria natureza.

O homo economicus é a dimensão mais primitiva do ser humano e diz respeito à sua sobrevivência material. Imbuído da razão, o homo sapiens consegue pensar a sua sobrevivência material e, a partir deste pensar, elaborar estratégias diversificadas e criativas para ela. O homo religiosus deseja ir além da sua sobrevivência material e transcender a sua própria natureza humana ou, quem sabe, realizar-se efetivamente como homem, num patamar acima da sua animalidade.

Na pré-história, do paleolítico ao neolítico, os homens modernos (homo sapiens) tinham como preocupação central a luta pela sobrevivência num ambiente hostil. No paleolítico, o uso das primeiras ferramentas e das primeiras armas possibilitou uma convivência mais tranquila com o meio. A seguir, no neolítico, a introdução da agricultura sedentarizou os grupos humanos. Num primeiro momento, as relações sociais pareciam igualitárias, pois ainda não havia a apropriação do trabalho alheio e nem a dominação das mulheres pelos homens. Nos primórdios das cidades a situação se modifica, com o surgimento do trabalho escravo, do patriarcado, do casamento monogâmico, com a consequente limitação dos papéis femininos e com o assentamento da propriedade privada, os fragmentos do território dominados pelos patriarcas. Instalou-se a partir daí a trindade trevosa que comanda a humanidade desde então.

Numa situação indefesa, com conhecimentos limitados sobre o seu entorno, é bastante compreensível o surgimento da tríade obscura. Travou-se uma luta entre "fortes" e "fracos" que perdura até hoje e a questão central da luta passou a ser a sobrevivência das famílias dentro das cidades. Contudo, com o passar do tempo, a humanidade aumentou a sua capacidade de sobreviver a partir da expansão crescente do conhecimento sobre a natureza, mas, ao mesmo tempo, ela entrou num círculo vicioso, onde a oposição  entre proprietários e não proprietários, entre homens e mulheres e entre as nacionalidades tornou-se uma constante, tornou-se a forma de ser da civilização, embalada na ideia de que nem tudo dava para todos, embalada no medo permanente da escassez.

No correr da história, os povos também sonharam utopias, imaginaram mundos movidos pela abundância e onde houvesse abundância haveria paz. Imaginavam que a "providência divina", em algum momento os tiraria do sofrimento. Imaginavam uma transcendência dessa condição humana, dessa que pensam ser a condição humana, marcada pela dor e pela miséria. O desejo de transcender os limites da matéria, o círculo vicioso do sofrimento sem fim, acabou conduzindo, muitas vezes para a possibilidade de transcendê-lo numa vida post mortem. Isso ensejou a expansão das grandes religiões, que institucionalizaram a dimensão transcendental do ser humano. Para os cristãos, por exemplo, o princípio da igualdade é plenamente possível na outra vida e acreditou-se, durante muito tempo, que só ai ele seria possível. Somos todos iguais, mas neste mundo é muito difícil materializar tal principio; esta é uma crença muito arraigada ainda. Modernamente, a Teologia da Libertação enfrentou esta questão e colocou a igualdade como possibilidade no mundo material, mas ela enfrenta resistências no seio da própria Igreja Católica, de onde ela surgiu.

O ser humano, enquanto homo sapiens, imbuído da sua razão, também imagina sociedades, mundos, onde os flagelos produzidos pela ideia da escassez, que produz as diferenças entre os iguais, desapareça ou, minimamente, diminua; aí entra a política como um instrumento de uma transcendência no campo material. Então, a política é um campo aberto à utopia, ao desejo de um mundo de iguais. Todavia, ocorre que a ideia da diferença cristalizou-se entre os homens a ponto de muitos, senão grande a maioria, acreditarem-se efetivamente diferentes; são melhores nascidos, mais fortes, mais puros, adeptos da verdadeira religião, habitam o país mais civilizado etc., o que contribui para lançar água no moinho (moto contínuo) da separação e das guerras.


Ocorre ainda outra situação naturalmente adversa, porém mais sutil: por mais que a sociedade possa ser igualitária, a vida na matéria é frágil, perecível e finita e também sujeita a muitas intempéries e acidentes. Assim, o desejo latente por uma transcendência para além da matéria atua nos homens como um elemento estabilizador da sua personalidade, criando o espaço da espiritualidade, que está posto num local atemporal, acima das religiões, no inconsciente coletivo da humanidade. Então, o homo religiosus é um importante elemento constitutivo da psique humana. Reprimir tal aspecto da existência (intolerância religiosa), como muitas vezes aconteceu e como ainda acontece, basta observar o fundamentalismo religioso contemporâneo, é um ato pernicioso ao desenvolvimento pleno das potencialidades humanas.


Neste começo do século XXI, dos pontos de vista da produtividade da economia e do conhecimento sobre a natureza, é possível afirmar que a pobreza extrema, a fome, a carência de moradias salubres, a falta de educação escolar entre outras questões mais afeitas ao homo economicus, já poderiam estar plenamente superadas. Em vez disso, o que temos? Ainda há fome, doenças de veiculação hídrica, analfabetismo, favelas etc. e, sobretudo, uma brutal e injustificável concentração de renda. A humanidade ainda se encontra enredada no círculo vicioso do medo primitivo da escassez, que continua engendrando diferenças sociais e alimentando a concepção do modo "natural" de ser da humanidade, muitas vezes justificado por estúpidas concepções sociais neodarwinistas, que separa os seres humanos em mais e menos aptos. Só muita falta de visão, provocada pelas brumas da ideologia liberal dominante, eivada de individualismo e utilitarismo, para conceber uma luta permanente por comida num mundo repleto de desperdícios injustificados e de crescente obesidade mórbida, não só a dos Estados Unidos, mas também a de países emergentes como o Brasil, por exemplo.

Outra questão incompreensível no estágio de desenvolvimento da economia no século XXI é a superexploração do trabalho ainda persistente. O estágio atual do acúmulo tecnológico já permitiria jornadas mais reduzidas e flexíveis de trabalho. Estaríamos já bem próximos da sociedade do ócio imaginada por Paul Lafarge, mas esta está longe de ser uma realidade. A exploração excessiva do trabalho humano ainda prevalece e se faz acompanhar das baixas remunerações que não garantem uma vida digna aos trabalhadores. Esta ainda é uma grande sombra que ainda assombra a humanidade, principalmente nos países pobres, com destaque para os africanos.


A inferiorização da mulher no século XXI ainda é muito presente e, em muitos países, ela chega à beira da irracionalidade. No oriente ela é mais visível e mais absoluta, abrangendo amplos aspectos da vida cotidiana. No ocidente ela é mais sutil e se encontra mais claramente no mundo do trabalho. A exploração do trabalho feminino é maior e a sua remuneração menor é a ponta do iceberg desta questão. Outra forma sutil de exploração da mulher no ocidente encontra-se no campo da sexualidade, onde o corpo feminino transforma-se em valiosa mercadoria. Por exemplo, as revistas eróticas são um grande negócio e as suas modelos são regiamente remuneradas, o inverso do que acontece com a remuneração das mulheres nas fábricas e nas fazendas. O mercado conseguiu uma grande façanha: transformou a liberdade sexual conquistada com muita luta a partir dos anos 60 do século passado em mercadoria com alto valor agregado. A condição feminina e a sexualidade humana continuam ainda hoje envoltas por uma grande sombra.


Diante do exposto, a questão central que se coloca é a seguinte: o ser humano para se desenvolver, para conseguir atingir o potencial inato imanente nas suas três dimensões (econômica, racional e transcendental) necessita de liberdade. A dimensão econômica serve como alicerce das outras duas. Contudo, conforme estudos de Thomas Piketty (O capital no século XXI), a renda nunca esteve tão concentrada como está agora e, consequentemente, a propriedade privada dos meios de produção. A concentração da riqueza permanece, no correr dos séculos, como uma grande sombra a obstar as luzes necessárias à expansão do espírito humano. Uma sociedade com distribuição da riqueza mais justa pode garantir maior acesso ao conhecimento e à cultura, liberando o ser racional especulador e criativo de cada membro seu, libertando-a da ignorância que agora funciona como um véu a encobrir as verdadeiras causas dos flagelos por ela vividos. Uma sociedade liberta da faina incessante pela sobrevivência e que garante a liberdade aos indivíduos de buscarem realizações além do mundo material pode contribuir para a expansão da sua dimensão transcendental.

Assim, a liberdade para criar é fundamental, pois a criação, com destaque para a criação artística, tem enorme potencial transformador. A arte costuma falar com uma linguagem que extrapola a razão e que coloca os seres humanos diante de outras possibilidades, possibilidades não materiais, mas, ao contrário, sensíveis, que se colocam mais nos campos intuitivo e afetivo e que podem tornar os homens mais sensíveis e compassivos.


E, falando de homens mais compassivos: a compaixão é a essência mais profunda do ser humano e ela se apresenta menos no campo material da existência e muito mais no campo do espírito, é um sair de si, um abandono positivo de si e um aproximar-se do outro, numa alteridade positiva, enxergando no outro um igual e, ao mesmo tempo, um diferente e, sobretudo, aceitando a sua diferença, vendo no outro você mesmo. Desaparece a separação e, extrapolando e extremando a dimensão da alteridade, quem é o outro? O outro são todos os seres que navegam na nave-mãe Terra. A partir daí, o homem abandona o seu papel de conquistador, de guerreiro, e assume o seu papel de cuidador, de jardineiro dos jardins da criação.



PS.: este texto foi produzido originalmente para o Grupo de Estudos de Ecologia Profunda do Curso de Pós-Graduação (mestrado e doutorado) do Centro Universitário de Araraquara, do qual eu participei entre os anos de 2011 e 2012.

Artigo publicado originalmente neste blog em 12 de maio de 2015 sob o título "A humanidade assombrada".


sábado, 20 de fevereiro de 2016

Futebol de meninos: o caso do goleiro indispensável

Zildo Gallo

A minha adoração pelo futebol vem de longe, desde a primeira infância, mas foi na adolescência que ela de fato se consolidou. Como todo boleiro que se preze, tenho muitas histórias para contar, muitas mesmo, mas vou relembrar da minha experiência como goleiro, esta função que poucos desejam; todos querem ser atacantes e se imaginam marcando muitos gols. Ninguém quer ser goleiro. Como muitos, eu sempre achei que todo goleiro tem que ser um pouco louco.


Nos anos sessenta do século passado, nas brincadeiras infantis, quando dividíamos os times nos campinhos, conseguir goleiros sempre gerava alguma discussão, ou melhor, muita discussão. O revezamento era uma boa saída para a questão e geralmente era o que acontecia.

Como todos os outros meninos da minha convivência, eu preferia jogar no ataque, mas um dia isso mudou. Foi bem por acaso. Num dia, no ano de 1969, quando estudava no segundo ano do ginásio no Kennedy (Instituto Estadual de Educação Presidente Kennedy - IEEPK) em Americana (SP), numa aula de educação física, fui colocado no gol contra a minha vontade, é claro, para disputar uma partida de futebol de salão contra outra classe do segundo ano também.

O tempo regulamentar da partida terminou e o jogo estava empatado (não me lembro do placar). Fomos à disputa de pênaltis. Não costumávamos bater os pênaltis alternadamente. Em primeiro lugar um time finalizava a sua série de três e em seguida o outro iniciava a sua série. Caso houvesse empate, iniciava-se uma série alternada.

O time adversário iniciaria a sua série e, então, postei-me debaixo da trave. Não sei até hoje como aquilo se deu, foi pura magia e também um pouco de loucura, acho... Atirei-me ao encontro das bolas como que se estivesse sendo teleguiado pelos deuses do futebol e defendi os três chutes. Não me perguntem como, eu não sei. Lembro-me que os chutes foram bem dados, não foi sorte e nem erro dos adversários, juro!. A cada gol impedido comemorávamos, é óbvio... Hoje eu acredito que todo goleiro precisa ser bastante intuitivo, naquela época, como toda criança, não pensava a respeito disso. Logo depois o nosso primeiro batedor acertou o seu chute e, naquele dia e nos seguintes, virei assunto na roda dos meninos. Então, tornei-me goleiro, acabei pegando gosto pela coisa.

Fora da escola, nos campinhos da cidade, também jogava no gol. Vivia esfolado, mas ser reconhecido como bom goleiro era muito gratificante. Eu e vários meninos da classe resolvemos montar um time para competir com outros times juvenis espalhados pela cidade. Aí tem mais histórias, vou contar uma. Um garoto da minha sala de aula, que morava no bairro São Manoel, distante do centro da cidade e do Kennedy, e que não participava do nosso time, pois já tinha o seu onde residia, convidou-nos para uma partida.

Os jogadores do meu time moravam em bairros diferentes e distantes uns dos outros. Íamos aos jogos a pé, não importava a distância. Tudo pelo futebol... Também tínhamos todo o tempo do mundo No dia do jogo no São Manoel eu me perdi e não consegui encontrar o campo. No dia seguinte tive a noticia, uma má notícia: o nosso time perdeu. Todos me culparam pelo resultado negativo, mas marcaram uma revanche. Então, no dia marcado meus amigos tiveram o cuidado de passar na minha casa para seguirmos juntos até o local da partida, não queriam correr nenhum risco.

Hoje – nas alturas dos meus sessenta anos – lembro-me com nitidez do campinho do São Manoel. Era um terreno bem grande, não construído, é óbvio, e totalmente sem grama, um autêntico “rapadão”. Fechei o gol e ralei-me todo. Virei lenda... Aconteceram vários outros jogos, tanto na escola como nos campinhos da cidade, e isso durou até 1970, o ano em que o Brasil ficou tricampeão mundial de futebol no México.

Em 1971, transferi-me para o período noturno do Kennedy, pois tinha que trabalhar, e o nosso time acabou se desmanchando. As partidas de futebol tornaram-se esporádicas e eu encerrei a minha gloriosa carreira de goleiro, que não se encontra registrada em nenhuma revista, nenhum livro, nenhum filme e nenhuma fotografia. Ela está gravada apenas na minha memória e, a partir de agora, nesta humilde crônica.

PS.: a foto que ilustra o texto foi achada na internet e não lembra em nada os nossos campinhos (a trave tem rede!) que eram desprovidos de gramado. E o goleiro? Está usando luvas! Algo impensável na época.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Ética e economia: um bate papo com vários autores de vários tempos

Zildo Gallo


Em Sobre Ética e Economia Amartya Sen (1999, p. 19) aponta duas origens diferentes para a economia; uma ligada à ética, que remonta a Aristóteles, e outra ligada à engenharia, que se localiza num período menos distante, no século XIX. Ele (1999, p. 18) também avalia como surpreendente o contraste entre o caráter “não ético” da economia atual e sua evolução histórica, em larga medida, como um ramo da ética.


Ao analisar a obra de Sen, Ignacy Sachs (2004, p. 13) lembra que a economia e a ética estiveram interligadas, desde Aristóteles, por duas importantes questões de fundo: o problema da motivação humana (como devemos viver?) e a avaliação das conquistas sociais. Entretanto, a outra origem da ciência econômica, voltada mais às questões logísticas, o que Sen chama de “abordagem de engenharia”, tem predominado, possibilitando o abandono da ética. Tal predomínio tem levado Sen a insistir na reaproximação entre ética e economia.


Em Ética a Nicômaco, Aristóteles (2004, p. 22) associa as questões da economia aos fins humanos: “Quanto à vida dedicada a ganhar dinheiro, é uma vida forçada, e a riqueza não é, obviamente, o bem que procuramos: trata-se de uma coisa útil, nada mais, e desejada no interesse de outra coisa”. O filósofo grego compreende a busca da riqueza como meio para se atingir objetivos mais importantes. Então, o estudo da economia, ainda que imediatamente relacionado à produção da riqueza, às “questões logísticas”, em um nível mais profundo liga-se a outros estudos tão ou mais importantes, relacionando-se, em último caso, ao estudo da ética e da política.


Em Filosofia Econômica, Joan Robinson (1979, pp. 9-10) sustenta que uma sociedade não tem como existir sem que seus membros tenham sentimentos comuns sobre as formas corretas de conduzir seus problemas. Para ela, existe uma necessidade biológica da moralidade porque, para a sobrevivência das espécies, cada animal deve ter, por um lado, uma dose de egoísmo, um impulso para conseguir alimentos e defender os meios de sobrevivência; e também, estendendo o seu egoísmo à família, de lutar pelos interesses da companheira e dos filhos. Por outro lado, a vida social torna-se impossível quando a busca pelos interesses próprios não é mitigada pelo respeito e compaixão pelos outros.


As considerações de Robinson trazem à luz a existência de dois movimentos antagônicos: uma sociedade baseada só no egoísmo não sobrevive e um indivíduo que não defende seus interesses também não. A permanente existência deste embate entre forças contrárias suscita a necessidade de um conjunto de regras para conciliá-las. Por acreditar que os impulsos egoístas são mais fortes que os altruístas, a autora entende que “as exigências dos outros precisam ser impostas a nós” (ibid., p.10). Para ela, o mecanismo pelo qual tais exigências são impostas é o senso moral ou a consciência individual. Até tempos recentes, na maioria das sociedades, a educação moral era ministrada pela religião. Muitos representantes das religiões organizadas ainda argumentam que elas são fundamentais à harmonia social. As pessoas que não são religiosas, por sua vez, buscam derivar o sentimento moral da razão, outra fonte importante da ética, segundo a autora (ibid., p.12).

Leonardo Boff (2003, p. 28), assim como Robinson, também identifica duas fontes que orientam ética e moralmente as sociedades até hoje: as religiões e a razão crítica. A economista britânica e o teólogo brasileiro estão de acordo sobre essa questão. Entretanto, Boff (ibid., p.19) avalia que esses dois paradigmas, ainda não invalidados pelas crises que atingem o mundo atual, precisam ser enriquecidos para que sejam atendidas as demandas éticas produzidas pela realidade globalizada.


As crises criam novas oportunidades e, neste momento, elas possibilitam mergulhos na instância onde, segundo Boff (pp. 29-30), os valores são continuamente formados. Segundo o autor, a ética “deve brotar da base última da existência humana”. Ela não se localiza na razão, como sempre desejou o Ocidente. A razão não é a essência da existência e por isso não pode explicar e nem abranger tudo. A essência do existir está em “algo mais elementar e ancestral: a afetividade”. Então, contrariando Descartes, a experiência basilar não é “penso, logo existo”, mas, segundo Boff, “sinto, logo existo”. Assim, na raiz de todas as coisas não está a razão (logos), mas a paixão (pathos). “Pela paixão captamos o valor das coisas (...) Só quando nos apaixonamos vivemos valores. E é por valores que nos movemos e somos”. Neste ponto, Boff (2003, p.21) observa o surgimento de uma dramática dialética entre razão e paixão: Se a razão reprimir a paixão, triunfa a rigidez, a tirania da ordem e a ética utilitária. Se a paixão dispensar a razão, vigora o delírio das pulsões e a ética hedonista, do puro gozo das coisas. Mas, se vigorar a justa medida, e a paixão se servir da razão para um autodesenvolvimento regrado, então emergem as duas forças que sustentam uma ética promissora: a ternura e o vigor.

Leonardo Boff (2003, p. 32) considera que dessas premissas pode surgir uma ética que será capaz de incluir toda a humanidade. Essa nova ética deve estruturar-se em torno de valores fundamentais ligados à vida, ao seu cuidado, ao fazer humano, às relações cooperativas e à cultura da não violência e da paz. “É um ethos que ama, que cuida, se responsabiliza, se solidariza e se compadece”.

Uma especulação curiosa: estaria o teólogo Boff retomando antigas questões que se perderam nas noites dos tempos para um grande número de economistas? Joan Robinson (1979, p.10) extrai um parágrafo revelador da obra Teoria dos Sentimentos Morais, publicada pela primeira vez em 1759, pelo economista e filósofo Adam Smith (1723-1790), onde ele aponta que a moralidade tem a sua origem nos sentimento de compaixão:

Por mais egoísta que se suponha que é o homem, há evidentemente alguns princípios em sua natureza que fazem com que se interesse pela sorte dos outros, e que tornam necessária para si mesmo a felicidade alheia, embora nada lhe advenha disso, a não ser o prazer de ver os outros felizes. É dessa espécie a piedade ou compaixão, a emoção que sentimos com a miséria dos outros, tanto quando a vemos como quando somos levados a concebê-la de uma forma bastante real. Que constantemente derivamos a nossa tristeza dos outros, é tão óbvio que não precisamos exemplos para prová-lo; pois esse sentimento, tal como todas as outras paixões originais da natureza humana, não está de forma alguma ao alcance apenas dos virtuosos e humanitários, embora eles possam talvez senti-lo com uma sensibilidade mais apurada. O mais infame dos homens, o mais empedernido violador das leis da sociedade, não é inteiramente destituído dele.


Adam Smith publicou em 1776 a sua maior obra, A Riqueza das Nações: Investigações Sobre sua Natureza e suas Causas, onde teceu grandes exaltações ao comportamento individualista, considerando que os interesses dos indivíduos quando livremente desenvolvidos seriam harmonizados, numa abordagem quase teológica, pela “mão invisível” do mercado e resultariam no bem-estar de toda a sociedade. Essa apologia do interesse individual e a rejeição da intervenção do estado na economia, outra marca do pensamento smithiano, transformaram-se nas teses centrais do liberalismo econômico.

Amartya Sen (1999, pp. 43-44) considera que uma interpretação, posterior, errônea da postura complexa de Smith sobre a motivação individual e os mercados e o recorrente “descaso por sua análise ética dos sentimentos e do comportamento refletem bem o quanto a economia se distanciou da ética com o desenvolvimento da economia moderna”. As referências às partes da obra de Smith que analisam a natureza das trocas mercantis e a importância da divisão do trabalho têm sido profusas e exuberantes. Para Sen, por outro lado, as outras partes da sua obra sobre sociedade e economia, “que contêm observações sobre a miséria, a necessidade de simpatia e o papel das considerações éticas no comportamento humano, particularmente o uso de normas de conduta, foram relegadas a um relativo esquecimento à medida que essas próprias considerações caíram em desuso na economia”. Então, sem as balizas da ética, o mercado mais parece uma guerra de todos contra todos e nenhuma “mão invisível” consegue mediar tal conflito. Assim, instrumentos reguladores fazem-se necessários, o que sem dúvida contraria a visão dos liberais mais empedernidos.

Por outro lado, Cristovam Buarque (1993, p.21), em A Desordem do Progresso: o Fim da Era dos Economistas e a Construção do Futuro, não tem uma percepção tão benevolente sobre Adam Smith ao afirmar que foi necessário um professor de ética para libertar a ciência econômica da ética, afastando-a da explicação dos vários processos econômicos, do complexo de relações produtivas e distributivas. Buarque (ibid. p. 22) constata que, após ter produzido Teoria dos Sentimentos Morais, um clássico da ética, Adam Smith fundou as bases de uma teoria econômica que eliminaria as considerações éticas, definindo “uma racionalidade independente, com leis neutras, como aquelas que Newton, cem anos antes, havia descoberto para explicar o movimento do cosmo”. Independente dessas controvérsias, como se verá mais abaixo, Buarque, assim com Sen, percebe a necessidade de uma ética reguladora para a ciência econômica.


É absolutamente correto afirmar que uma aproximação maior entre ética e economia pode ser benéfica tanto para a economia como para a ética. Muitos problemas éticos estão ligados a questões logísticas, como o problema da fome e da exploração do trabalho infantil, por exemplo. As soluções passam, muitas vezes, por abordagens de engenharia econômica, da engenharia econômica como instrumento para a realização de um objetivo maior, ético: o bem-estar social. Sobre o bem-estar social, John Kenneth Galbraith (1996, p.2) explicita, em A Sociedade Justa: uma Perspectiva Humana, a sua profundidade e a sua abrangência:

A responsabilidade pelo bem-estar econômico e social é de todos, é transnacional. Seres humanos são seres humanos. Onde quer que vivam, a preocupação com seu sofrimento pela fome, por outras privações e por doenças não cessa porque os afligidos estão do lado de lá de uma fronteira internacional. É exatamente isso que ocorre, embora nenhuma verdade elementar seja tão sistematicamente ignorada ou, em certas ocasiões, tão fervorosamente atacada.


Buarque (1993, pp. 28-29) registra, em particular, a responsabilidade dos economistas, apontando que a observação da realidade, ao término do século XX, provoca “uma profunda crise de consciência em uma parte dos economistas” e vai mais longe, tecendo considerações sobre as insuficiências da economia como ciência:

Exatamente como nas demais ciências, o próprio êxito da ciência econômica começa a mostrar seus limites. Nos países desenvolvidos o crescimento levou a crises existenciais, a um elevado nível de poluição, ao consumo de drogas químicas e de drogas econômicas do consumo, a uma forma de produzir ecologicamente desequilibrante quanto à disponibilidade de recursos naturais. Nos países em desenvolvimento, o crescimento ampliou a dependência, a desigualdade, a instabilidade em todos os níveis, além de provocar os mesmos desequilíbrios ecológicos dos países ricos. No conjunto, os países se dividiram ainda mais em um mundo com uma ordem claramente irracional e instável.

Buarque (1993, p. 29) não vê nisso o fim da economia como ciência. O que deve ser percebido é a necessidade de uma ética reguladora que deve submeter a economia a condicionantes, a exemplo do que aconteceu com a física a partir de 1945, após as explosões de bombas nucleares ao término da Segunda Guerra Mundial. Contudo, pondera ele, ao contrário “das ciências físicas, onde a ética é vista como reguladora externa, na ciência econômica será necessário incorporar a ética como parte da própria essencialidade da economia”.

Referências

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Editora Martin Claret, 2004.
BOFF, Leonardo. Ética e moral: a busca os fundamentos. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2003.
BUARQUE, Cristovam. A desordem do progresso: o fim da era dos economistas e a cons­trução do futuro. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1993.
GALBRAITH, John Kenneth.  A sociedade justa: uma perspectiva humana. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1996.
ROBINSON, Joan. Filosofia econômica. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979.
SACHS, Ignacy. Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2004.
SEN, Amartya. Sobre ética e economia. São Paulo: Companhia da Letras, 1999.



Artigo originalmente publicado em 14 de novembro de 2014.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

QUANDO O JORNALISMO INCITA O ÓDIO SOCIAL

O CASO DAS ORGANIZAÇÕES GLOBO

Zildo Gallo

O site Conversa Afiada (http://www.conversaafiada.com.br/pig/e-assim-o-odio-de-classe-da-globo) reproduziu o artigo "O jornalismo cínico e o ponto de não-retorno" escrito pelo professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Francisco José Castilhos Karam, que foi publicado no Observatório de Imprensa em 06/02/2016. Dele extraí o quadro abaixo, que mostra com clareza cristalina o tratamento diferenciado em títulos de matérias do portal G1, das Organizações Globo, para crimes cometidos por pobres e ricos.

É algo que não dá nem para comentar. Há que se lamentar apenas. Este é um retrato claro de como a maior empresa de comunicação do país enxerga os cidadãos que não são membros da elite econômica do Brasil.




Na verdade, o G1 apenas reproduz o que pensa parte bastante significativa dos melhores aquinhoados pela riqueza no nosso País. Escancarou-se nos últimos tempos uma miríade de ódios baseados na mais pura ignorância, que mostram um lado nada bonito de uma fração significativa do povo brasileiro: preconceito racial, social, de gênero etc. A sombra da população está exposta à luz do dia. São intolerâncias e ódios antigos que estavam apenas acobertados, mais ou menos acobertados, aguardando o momento certo para se manifestarem.

Tais aberrações devem ser combatidas, é claro... O que se tem para lamentar é que os órgãos da imprensa (não é só a Globo, é óbvio) estão reproduzindo e fortalecendo as ignorâncias sem nenhum tipo de crítica. Não faz muito tempo que a humanidade viveu momentos assim, basta que nos lembremos do nazismo e do fascismo, que se tornaram hegemônicos na primeira metade do século XX. As intolerâncias ignorantes (existe intolerância sábia?) daquela época chegaram a produzir uma grande guerra, a Segunda Guerra Mundial. Será que as pessoas se esqueceram disso, dessa grande tragédia?

Este movimento irracional precisa ser contido e, infelizmente, não dá para contar com os meios de comunicação, é o que tem parecido até agora... Uma imensa egrégora de sombras tenebrosas está sendo alimentada todos os dias, em todos os lugares, durante todo o tempo... Movimentos no sentido contrário são mais que necessários neste momento complicado da história brasileira e do mundo também. Toda forma de intolerância deve ser denunciada, assim como fez o professor Francisco José Castilhos Karam para o Observatório de Imprensa em 06 de fevereiro de 2016.

Reproduzo aqui o primeiro parágrafo do artigo do Professor Francisco para deixar clara a urgência de se enfrentar esta anomalia preconceituosa, pois existe um risco real de não-retorno, de fato consumado:

“Em 1988, o psicanalista Jurandir Freire Costa alertava que a sociedade brasileira poderia estar chegando a um perigoso ponto de não-retorno. Ela estaria incorporando quatro valores: cinismo, narcisismo, violência e delinquência. À época, seus estudos tinham como referência, entre outros, as ideias de Peter Sloterdijk. O filósofo alemão havia escrito, desde a década de 1970, artigos sobre o cinismo. Suas ideias culminariam no clássico livro “Crítica da razão cínica”, publicado na Alemanha no início dos anos 80, com grande repercussão naquele País e Europa em geral.

Com o passar do tempo, uma sociedade majoritariamente cínica, narcisista, delinquente e violenta, será fatalmente mergulhada num estado de permanente barbárie, numa guerra de todos contra todos. Indícios disso já estão presentes no nosso dia-a-dia e a imprensa os têm reproduzido com lentes de aumento, criando uma espécie de histeria coletiva.

Uma dica: faz bem evitar revistas, jornais e programas de rádio e TV que, no enfoque de suas matérias, são parciais (a verdade sempre tem dois lados), pessimistas, superficiais, sensacionalistas e excessivamente raivosos e preconceituosos. Sobram poucos...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A CERVEJA TRANSGÊNICA DE TODO DIA E DO CARNAVAL DE 2016

Zildo Gallo


O Brasil é o terceiro produtor de cerveja do mundo e seu povo tornou-se grande consumidor dessa bebida. E dai? todo mundo já sabe disso. Todavia, tem algo que muita gente ainda não sabe: quando bebem as cervejas mais consumidas no mercado nacional, as mais conhecidas, as das grandes cervejarias, os brasileiros apreciadores de cerveja estão bebendo 45% de suco de milho transgênico. Como assim?


Muito simples, a cerveja que deveria ter a tradicional composição de malte, lúpulo e água, por conta da legislação brasileira pode ser produzida com a substituição do malte de cevada por outra fonte de carboidratos mais barata em até 45%. Assim, o milho (bem mais barato) passou a ser largamente utilizado nas cervejas brasileiras, com destaque para as grandes marcas. Onde se lê no rótulo da bebida a informação "cereais não maltados", deve-se ler "milho transgênico", simples assim.
Milho e ainda por cima transgênico? Transgênico? Não poderia ser o milho comum? Ocorre que, a partir do ano de 2007, foi liberada a produção de milho transgênico no Brasil. As seis irmãs malignas, aquelas grandes produtoras de venenos (Monsanto, Syngenta, Basf, Bayer, Dow e Dupont) não perderam tempo e introduziram várias espécies de milhos mutantes no mercado e as cervejarias tornaram-se grandes compradoras desses cereais mutantes.
Além de não informarem corretamente a verdadeira matéria prima da cerveja, os cervejeiros ainda descumprem a legislação que os obriga a estampar o selo de produto transgênico, aquele T dentro do triângulo, que costuma ser visto nas embalagens de óleo de soja e nos sacos de rações para cães. Que pena dos nossos animais de estimação... Quando era menino, os nossos bichinhos de estimação comiam da mesma comida que comíamos e acho que eles não se queixavam, muito pelo contrário... Não são só os cervejeiros, outros produtores também costumam descumprir a lei, infelizmente...


Hoje, há um movimento mundial contra os transgênicos e o Brasil é um dos seus alvos preferidos, pois ele é o segundo maior produtor de transgênicos do planeta. Quase a totalidade do milho produzido aqui provém de variedades transgênicas e, dessa maneira, fica quase impossível encontrar no meio das marcas tradicionais de cerveja alguma que não esteja "batizada".
As cervejarias deveriam ser minimamente honestas e, cumprindo a lei, deveriam estampar nos rótulos das suas cervejas, além da informação sobre os ingredientes (Água, malte, cereais não maltados e lúpulo), o símbolo de produto transgênico. O consumidor minimamente informado sobre o seu significado poderia tomar a decisão consciente de consumir o produto ou não.
No carnaval deste ano, como nos anos anteriores, o consumo de cerveja, ou melhor, de suco de "milho transgênico", deve ser muito alto. Então, se no dia seguinte a ressaca bater forte, o folião pode por a culpa no milho.
Cerveja transgênica nenhum folião merece, por mais bebum que ele seja, mas ele já pode, sem dúvida nenhuma, "cantar de galo", já que com ele divide cotidianamente a sua ração. 

A QUE VIM