sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A origem mítica do nome da cidade de Atenas (Grécia): um tributo à agricultura

Zildo Gallo





A mitologia grega é muito rica e rivaliza em importância com a mitologia hindu, que também é muito rica e complexa e tem significativa influência na porção oriental do planeta, enquanto a grega age sobre todo o Ocidente. Ela está presente na literatura, no teatro, na psicologia, na filosofia, nas artes plásticas etc. Uma das divindades mais importantes do panteão helênico é Atena, a quem se atribui a invenção da flauta, do trompete, da arte cerâmica, do arado, da sela, da carruagem e do barco. Para os gregos ela foi a primeira divindade a ensinar a matemática e as artes femininas como cozinhar, tecer e fiar. Embora ela seja uma deusa da guerra, ela não sente prazer na batalha, como é o caso de Ares, pois prefere apaziguar os ânimos e resolver os conflitos por meios pacíficos. Na verdade, por conta dos seus atributos, ela pode ser considerada uma deusa da diplomacia muito mais do que da guerra. Abaixo segue um episódio que mostra a sua generosidade em relação aos seres humanos, à ele!

O nome da cidade de Atenas (capital da Grécia e berço da democracia) tem origem num mito, o mito que fala de uma disputa entre dois poderosos deuses do Olimpo: Atena e Poseidon (senhor do mar). O nome da cidade homenagearia quem presenteasse os habitantes com a dádiva mais preciosa.

Então, aconteceu uma disputa. Poseidon rasgou o chão com o seu tridente e dele emergiu um majestoso cavalo, um animal veloz e muito útil na guerra. Atena, por sua vez, bateu no chão com a sua lança e dele brotou uma planta de folhas prateadas, que imediatamente carregou-se de frutos, tratava-se da oliveira.

A oliveira é a mais nobre das plantas que crescem às margens do Mediterrâneo. É uma planta capaz de resistir às secas e de rebrotar depois de destruída pelo fogo. Sua madeira é muito forte e dos seus frutos é extraído o azeite, que era usado pelos povos antigos como alimento (ainda é largamente usado assim), como fortificante para os músculos dos atletas e dos guerreiros e como combustível para iluminar as casas e os templos.

O povo não teve dúvida e por decisão unânime considerou Atena a vencedora e ergueu em sua homenagem um santuário no ponto mais alto da cidade (akropolis). Quando temperavam com azeite a sua comida ou quando ungiam os seus corpos para enfrentar uma dura prova nos jogos olímpicos, os gregos experimentavam a sensação de entrar em comunhão com a deusa.

O que se ressalta desse mito é o fato de um povo tão patriarcal como os atenienses ser tão devoto de uma divindade feminina, uma deusa de origem muito antiga, que teria nascido na Líbia, no norte da África, e passado posteriormente por Creta, antes de ser adotada pelos gregos, que a colocaram no seu panteão como filha de Zeus. Nada disso é estranho, pois a mitologia grega guarda muitos elementos matriarcais oriundos dos povos que viviam no território grego antes dos gregos, trata-se de um tipo de sincretismo.

O mito além de homenagear a Deusa, lembra da importância da agricultura para o desenvolvimento das cidades, da civilização. As práticas agrícolas serviram para sedentarizar os seres humanos, fixá-los num determinado território e, a partir dele, produzir um processo cultural que os lançará numa aventura rumo ao universo, extrapolando os limites do próprio planeta Terra. A revolução neolítica (descoberta da agricultura) abriu um caminho que conduziu os humanos da simples luta pela comida de cada dia para uma situação cultural que os lançará à inimagináveis aventuras.

Há que se louvar a sabedoria dos moradores de Atenas, que não se impressionaram com a majestade do cavalo saído da terra, e compreenderam a importância da oliveira, uma simples árvore. Sem o cultivo das plantas, infinidades de plantas, de forma contínua, ano a ano, as cidades não teriam sido possíveis e nem todas as parafernálias materiais e imateriais produzidas no transcorrer da história da humanidade. Às vezes nos esquecemos disso...

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