Zildo Gallo
A palavra ética vem da palavra grega ethos,
que significa morada. Todavia, não se tratava e, também hoje, não deve ser
compreendida como a casa material, mas como a casa existencial. A casa
existencial significava para os gregos a teia de relações entre o meio físico e
os membros da comunidade. Para os dias de hoje, recuperando a concepção grega,
a morada não deve ser apenas a casa onde as pessoas habitam, deve ser também a
cidade, o país e o planeta Terra, a casa de todos.
A necessidade de se construir uma ética
para a Terra é importante e sua relevância para a própria sobrevivência da
humanidade é inquestionável, pois a busca desenfreada por riqueza e poder e a
luta sangrenta pela partilha das riquezas naturais têm impedido a convivência
harmoniosa entre todos os homens e destes com os demais seres. Guerras e
destruição ambiental são os resultados mais visíveis da desarmonia instalada. Há
que se fundar um novo ethos para se criar uma relação nova entre os
homens e destes com todos os demais seres. A nova ética deverá nascer da natureza
mais profunda do ser humano. A essência do homem está mais no cuidado, na
compaixão, do que na razão e na vontade. Há que se resgatar a essência do
humano.
O ser humano é um animal que, pela sua
natureza, produz cultura. Ele cria normas e instituições a partir de estímulos
do meio ambiente e das relações com os semelhantes e, assim, acaba modelando a
sua própria natureza. Ele também é um animal que consegue sobreviver em diversos
ecossistemas, adaptando-se a eles e moldando-os de acordo com as suas
necessidades. Toda sociedade, a partir da sua cultura, desenvolve uma idéia
particular do que é a natureza. Então, o conceito de natureza não é natural, ele é
criado e instituído pelos homens. É um dos pilares que sustentam as relações
sociais e a produção material e espiritual dos povos. Para a sociedade atual, destacando-se
a ocidental, a natureza, por definição, contrapõe-se à cultura. A
cultura é considerada como algo superior e que, por isso, pode controlar a
natureza.
A partir da Revolução Científica e da Revolução Industrial, o homem
colocou-se acima da natureza, acima dos demais seres que nela convivem.
Trata-se de um processo de separação, de um processo que coloca a natureza à
sua plena disposição. Todos já ouviram a expressão “o homem é um animal
social”, distinguindo-o dos outros animais. Ocorre que a vida social não é
privilégio da humanidade. A sociabilidade acontece de forma ampla no mundo
animal. Esta atitude arrogante produz um fosso entre a humanidade e a natureza.
Ela tornou-se estranha ao homem, que se acredita dela separado. Na sua mente
ela deixou de ser a sua morada, pois a sua casa passou a ser apenas a natureza
por ele modificada, a natureza “construída”.
Nos últimos séculos a justificativa dada
para o avanço da ciência e da indústria tem sido a elevação do nível de
consumo. O consumo é essencial para a vida humana; não é esta a questão. O
problema não é o consumo em si, mas os seus padrões e efeitos sobre o meio
ambiente é que são questionáveis. O atendimento de várias possibilidades de
consumo deve acontecer para melhorar as condições de vida das populações
excluídas, não se questiona isto.
O consumo moderno, contudo, seguiu caminhos
tortuosos e virou consumismo, penetrando no inconsciente coletivo da população,
onde se confundiu com o desejo de liberdade. Ser livre é poder apropriar-se da
natureza, transformá-la em bens de consumo e consumi-la. Quanto maior o consumo
maior a liberdade. Em relação à natureza consolida-se, com a aceitação deste conceito
de liberdade, uma ética utilitarista. A natureza está aí para ser usada e
abusada.
A abundância de bens de consumo produzidos
pela indústria é vista como um símbolo do sucesso das economias modernas. Entretanto,
de algumas décadas para cá, esta abundância começou a ser vista com olhares
negativos, já que o consumismo passou a ser considerado um problema social.
O consumo exacerbado não é mais uma opção
aberta, com amplas possibilidades para toda a Terra. A aceitação da idéia de um
“desenvolvimento sustentável” indica que se fixou um limite superior para o
progresso. Esta aceitação coloca um novo e saudável desafio: como eliminar a
miséria, sem desrespeitar a capacidade de suporte do planeta? Podemos querer
empurrar o crescimento além dos limites, mas devemos ter consciência do fato
de que, mais cedo ou mais tarde, teremos que confrontar a nêmesis da natureza.
A deusa Nêmese, venerada por gregos e romanos, representava a justa medida na
ordem divina e humana. Todos os que ousassem ultrapassar a própria medida
(chamada de hybris – auto-afirmação
arrogante) eram imediatamente fulminados por Nêmese. Há muito a humanidade vem
exercendo a sua arrogância e a deusa já começou a manifestar a sua ira. Não devemos
pagar para ver.
A palavra ética vem da palavra grega ethos, que significa morada. Todavia, não se tratava e, também hoje, não deve ser compreendida como a casa material, mas como a casa existencial. A casa existencial significava para os gregos a teia de relações entre o meio físico e os membros da comunidade. Para os dias de hoje, recuperando a concepção grega, a morada não deve ser apenas a casa onde as pessoas habitam, deve ser também a cidade, o país e o planeta Terra, a casa de todos. LEIA O ARTIGO CLICANDO NO LINK.
ResponderExcluir