A criação de “valor sustentável” é um
modo de as empresas colocarem as suas prioridades no mundo dos negócios,
estimularem inovações e obterem vantagens competitivas. Para apresentarem-se
desse jeito no contexto competitivo dos dias de hoje, que se move no sentido de
uma “competição saudável”, como visto acima, é necessário que as empresas
considerem cuidadosamente as dimensões ambientais e sociais de suas atividades.
No centro da questão acima apontada
está uma nova visão sobre a importância do stakeholder
(parte interessada). Nessa nova perspectiva, os stakeholders sociais, como as ONGs ambientais e as comunidades
locais, são vistos a priori como
parceiros potenciais nos negócios e não como adversários. O valor dado ao stakeholder deve tornar-se uma fonte de
vantagens competitivas, indo além da mera obrigação moral.
Historicamente, as empresas têm
ignorado o valor ao stakeholder como
fonte de vantagem competitiva, assumindo uma atitude “introspectiva”, o que, no
dia-a-dia, aparece como arrogância. Hoje, a questão da criação de valor requer
uma reestruturação de um modo de gestão que deve ir além das questões
corriqueiras de acesso ao espaço físico, capital, mão de obra, materiais e
tecnologia, conforme as palavras de Laszlo:
“Agora,
há uma necessidade de expandir ainda mais o conceito de criação de valor para
incluir uma gama mais ampla de stakeholders
que contribuam para as competências de criação de riquezas. O conceito de valor
sustentável amplia o universo de criação de valor a todos os principais
stakeholders, incluindo os sociais, tais como ONGs e ativistas sociais (muitos
com blogs que são lidos por um
grande número de pessoas) que têm tradicionalmente sido ignorados ou relegados
a um segundo plano pela gerência” (LASZLO, 2008, p. 116).
O valor atribuído ao stakeholder cobra dos gestores que
pensem de outra perspectiva, “de fora para dentro”, sobre como as suas empresas
criam e sustentam vantagens competitivas. O olhar invertido, que enxerga o
mundo a partir dos stakeholders, é um
novo e poderoso instrumento que permite aos gestores a descoberta de novas
oportunidades de negócios. Os gestores que engajam stakeholders e consideram seus problemas podem conseguir antecipar
mudanças no ambiente dos negócios. Eles podem reduzir e até eliminar riscos de
serem surpreendidos por expectativas socioambientais emergentes. Os lideres
corporativos ainda são pouco versados sobre a mensuração e gestão do valor dos stakeholders e, “como os impactos de uma empresa nos stakeholders são, de modo geral,
involuntários, ela se defronta com riscos e oportunidades ocultas que os
gestores não mais se podem dar ao luxo de ignorar” (LASZLO, 2008, p. 117).
Para facilitar a compreensão do processo de incorporação dos stakeholders na geração de valor
sustentável é aconselhável que se observe a figura 1, abaixo.
A figura acima que representa a estrutura do valor sustentável coloca os desafios a serem superados no presente pelas organizações, tanto interna quanto externamente, para que, a partir deles, no futuro, elas tornem-se proativas e aprendam a antecipar tendências, desenvolver novas capacidades e a assumir responsabilidades sociais que transcendam a mera filantropia. A sua contribuição para a diminuição da pobreza não se trata simplesmente de acréscimo de despesas ou de desvio da missão da empresa, como na maioria das vezes ela é encarada; ela pode ser encarada como investimento, já que pode resultar em novas possibilidades de mercado, ainda que de forma indireta, como resultado da somatória das contribuições para a melhoria das condições econômicas de toda a população.
A estrutura do
valor sustentável coloca desafios a serem superados no presente (quadrantes
inferiores) pelas empresas socialmente engajadas, tanto interna quanto
externamente, para que, a partir deles, no futuro (quadrantes superiores), elas
tornem-se mais proativos e aprendam cada vez mais a antecipar tendências,
desenvolver novas capacidades e a assumir responsabilidades sociais que
ultrapassem a mera filantropia que muitas praticam. Isso dará uma nova
visibilidade a esse empreendimento hoteleiro.
O ambiente de
negócios que se desenha para as empresas
no futuro, como indica a Estrutura do Valor Sustentável, sugere que elas
devem ser socialmente engajadas
e que o seu objetivo não deve ser apenas a maximização dos resultados. O
objetivo primeiro é a prestação de um serviço, de um bom serviço. O seu lucro
deverá ser o resultado da sua boa prestação de serviço. Trata-se de entrar num
novo paradigma. Contudo, na verdade, a prestação de serviços da empresa do
futuro vai além da produção de mercadorias e da ofertas de serviços
específicos, intrínsecos a sua atividade, pois ela é uma prestadora de serviços
à humanidade. O seu caráter humanista é o que diferenciará definitivamente a
empresa do futuro da empresa do presente.
Resumidamente, a
nova empresa (socialmente engajada), para criar valor sustentável deverá: 1)
contemplar sempre a preservação da natureza nas suas atividades; 2) estabelecer
novas relações com os trabalhadores, buscando a justa remuneração, preservando
a sua saúde e estimulando a sua criatividade; 3) agir com transparência em
relação aos atores sociais da região onde está instalada e em relação aos seus
clientes; 4) contribuir para introduzir a dimensão solidária, presente no
conceito de desenvolvimento sustentável, nas suas relações mercantis.
Em face do
exposto, à empresa do futuro, que tenderá ser socialmente engajada,
caberá mover-se dentro de um novo espaço competitivo, que precisa ser mais
saudável que o atual. Isso poderá resultar em produtos e serviços melhores,
diminuindo e, até mesmo, eliminando as externalidades negativas. Repetindo o
que já foi dito acima: nessa nova
modalidade de empresa, os lucros resultarão do servir com qualidade.
Referências
LASZLO, C. Valor
sustentável: como as empresas mais expressivas do mundo estão obtendo bons
resultados pelo empenho em iniciativas de cunho social. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2008.
HART,
S. Capitalism at the crossroads: the
unlimited business opportunities in solving the world’s most difficult problems
(Upper Saddle River, NJ: Wharton School Publishing, 2005).
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