Esta crônica foi publicada
originalmente em 18 de novembro de 2014 com o seguinte título: A Epopeia de Gilgamesh ou o verdadeiro
sentido da vida. Por conta das imensas e incontáveis turbulências vividas
nos dias de hoje pela humanidade em todos os quatro cantos do nosso planeta,
resolvi republicá-lo hoje, dia 8 de setembro de 2016. Á crônica!
A Epopeia de
Gilgamesh ou o verdadeiro sentido da vida (18/11/2014)
Zildo Gallo
Neste
artigo reporto-me à primeira epopeia registrada por escrito pela humanidade,
onde já aparecem relatos que comporão muitos anos depois o Antigo Testamento da
Bíblia, livro sagrado de judeus e cristãos. Só tenho o fito de extrair
ensinamentos universais dessa obra. Trata-se do poema épico sobre as aventuras Gilgamesh,
rei semilendário de Uruk, na Mesopotâmia. As aventuras aconteceram há vários
milênios, na primeira metade do terceiro
milênio a.C. Fábio Konder Comparato (2006, pp. 689-691), em Ética: Direito,
Moral e Religião no Mundo Moderno, faz uma leitura no mínimo interessante
sobre essa obra, com o objetivo de se aproximar do entendimento sobre o
verdadeiro sentido da vida humana, uma questão ética fundamental. Serão relatadas,
a seguir, bem resumidamente, a lenda e a interpretação de Comparato a seu
respeito.
Gilgamesh
era um rei absolutista, que utilizava todos os homens jovens como mão de obra
em construções faraônicas e como soldados em batalhas intermináveis. Também
utilizava todas as mulheres jovens para satisfazer seus desejos pessoais. Tal
situação revoltava os habitantes e, acolhendo as suas queixas, a deusa Aruru
resolveu criar com barro um antagonista para enfrentar Gilgamesh. Assim nasceu
Enkidu, que vivia como selvagem no meio dos animais da floresta.
Ao
saber da existência de Enkidu, Gilgamesh decide atraí-lo para a cidade, utilizando
os serviços de uma sedutora cortesã. Depois de sete noites e seis dias mantendo
relações amorosas com a enviada de Gilgamesh, o selvagem foi domesticado e
convencido por ela a se estabelecer no meio urbano.
Quando
chegou a Uruk e foi apresentado a Gilgamesh, Enkidu ficou indignado ao vê-lo
procurar manter relações sexuais com uma noiva de um cidadão de Uruk logo após
a cerimônia de casamento. Então, os dois iniciaram um violento combate que
estremeceu toda a vizinhança. Após a longa luta os dois se reconciliaram e
tornaram-se grandes amigos. Tempos depois ambos decidiram fazer uma expedição à
floresta dos cedros (atual Líbano), para eliminar o monstro Humbaba. Além
desse feito, ainda mataram alguns leões e, voltando para Uruk, mataram o touro
celeste, uma heresia...
Por
ter ofendido a deusa Ishtar, Enkidu morre, o que faz Gilgamesh lembrar da sua mera
condição de mortal. Assustado pela perspectiva da morte, ele faz uma longa
viagem para encontrar Utanapishti, que, após sobreviver ao dilúvio, tornou-se
imortal. No meio do caminho a bondosa deusa Siduri o adverte de que jamais
será um imortal, condição reservada apenas aos deuses. Em lugar de procurar a
imortalidade, diz a deusa a Gilgamesh que ele apenas deveria voltar à cidade,
desfrutar dos pequenos prazeres da vida, cuidar carinhosamente de sua mãe e
buscar ser feliz com sua esposa.
Apesar
da advertência, Gilgamesh decide continuar e acaba encontrando Utanapishti.
Este também lhe adverte, dizendo que seu desejo de se tornar imortal é insensato.
Então, Gilgamesh pergunta por que só ele, Utanapishti, entre todos os humanos,
tornou-se imortal. Então, Utanapishti conta detalhadamente a história do
dilúvio. Foi assim: o deus Enlil decidiu, em sua fúria, destruir a humanidade.
Utanapishti foi avisado em sonhos pelo deus Ea sobre a catástrofe e recebeu
instruções para construir um barco para si e sua família, capaz de abrigar
também artesãos e técnicos de todo tipo, bem como exemplares de cada uma das
espécies de animais. Cessado o dilúvio, Enlil caiu em arrependimento e, para
compensar, concedeu vida eterna a Utanapishti e sua esposa.
Após
ouvir essa história, Gilgamesh decidiu voltar para Uruk, convencido de que,
como os homens não podem desejar a imortalidade, a sabedoria consiste apenas em
procurar o que está verdadeiramente ao seu alcance: uma vida alegre e pacífica
entre os seus.
Para Comparato (2006, p. 691), a
grande lição que se deve tirar dessa antiga lenda é que a convivência pacífica
de povos e indivíduos, ainda que destinados todos a desaparecer um dia, é preferível
à insensata busca pela imortalidade. “Para os seres humanos, viver não é um
simples existir biológico. O verdadeiro sentido de nossas vidas reside na
convivência harmoniosa entre todos, sem exceções”.
Referência
COMPARATO, Fábio Konder. Ética, direito, moral e religião no mundo
moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Não conhecia , amei.....
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