Zildo Gallo
O
cardeal católico argentino Jorge Mario Bergoglio tornou-se o primeiro pontífice
do hemisfério sul do nosso planeta em 13 de março de 2013. Só isto já significa
um grande feito, mas a sua eleição está carregada de outros aspectos relevantes
para a humanidade dos dias de hoje. Apesar de ser um sacerdote jesuíta, ele
adotou Francisco como seu nome religioso, em homenagem ao santo fundador da
ordem dos franciscanos.
Este
ato do cardeal Bergoglio significa muito mais que uma mera homenagem ao santo
italiano que ficou conhecido como amigo dos pobres, dos marginalizados e de
todas as criaturas da natureza, pois resgatou elementos fundantes do
cristianismo original, que foram sendo perdidos ou desconsiderados no correr
dos séculos da história da Igreja Católica Romana, quando ela aliou-se à
aristocracia rural nos longos anos da Idade Média europeia e, até mesmo antes,
quando se tornou a religião oficial do Império Romano, abandonando aqueles que
foram os primeiros seguidores do Senhor de Nazaré e de seus apóstolos, no caso
os humildes e os excluídos. Tudo isto é história e muita gente conhece,
voltemos aos dias de hoje.
A
humanidade vive hoje um momento singular e grave. A concentração de renda no
capitalismo mundial chegou às raias do absurdo e a própria sobrevivência humana
com o mínimo de dignidade está em grave risco, por conta da crise ambiental,
que já mostra o seu lado perverso. A pobreza extrema, fome, epidemias, devastação
de biomas, aquecimento global, guerras, violências dos mais variados tipos,
consumo exagerado de entorpecentes, escassez de água doce com qualidade
adequada para consumo, uso abusivo de agrotóxicos etc. estão piorando as
condições de vida não só dos pobres, mas até mesmo dos mais ricos.
Diante
desta gravíssima situação, o Papa Francisco produziu um documento de suma importância
para este momento da história humana: a Lettera
Enciclica Laudato Si' del
Santo Padre Francesco sulla Cura della Casa Comune (Carta Encíclica Laudato Si' do Papa Francisco sobre o
Cuidado da Casa Comum), que enxerga todos os seres, humanos e não humanos,
interligados numa imensa rede e se movimentando em necessária igualdade de
direitos, numa clara alusão à mensagem de São Francisco.
A Cara Encíclica é importante neste
momento porque, do ponto de vista da convivência dos seres humanos em sociedade,
a situação só tem se agravado, pois talvez este seja o momento de maior
individualismo da história dos homens. Boa parte da humanidade confiou de forma
cega nas palavras do filósofo e economista Adam Smith, o pensador britânico que
considerou a essência humana como egoísta, já que, para ele, os homens buscam a todo custo, durante todo o
tempo, a satisfação dos seus desejos individuais e que o mercado com sua onipresente
“Mão Invisível” conduz todo esse conjunto de aspirações individuais para a concretização
do bem-estar coletivo. A partir do final do século XVIII, a partir de Adam Smith,
os defensores do capital divinizaram o mercado e as consequências disso estão
mais do que evidentes, basta que se observe à volta: consumo exagerado por
parte dos que têm renda e carência absoluta de tudo para os milhões de desprovidos.
O
bem-estar social não é a somatória dos bem-estares individuais como desejam os
liberais modernos, também conhecidos como neoliberais. O bem-estar coletivo é
produzido coletivamente, em sociedade. A sociedade é o agente e não o indivíduo
centrado no seu egoísmo hedonista. Há muito tempo atrás, São Francisco de Assis
mostrou que o caminho era outro, o do altruísmo, o da alteridade, o do
preocupar-se com outro. Este é o significado da opção do cardeal Bergoglio pelo
nome Francisco para seu pontificado: resgatar a dimensão solidária do ser
humano. Não é tarefa fácil nestes tempos tão individualistas e egoístas, mas é
a grande tarefa de sua igreja, de todas as outras igrejas e de toda humanidade,
congregando religiosos e laicos. É isto ou a barbárie. Não tem outra saída e
não é o mercado que tem condições de levar a cabo este imenso desafio.
A
Oração da Paz, também conhecida como Oração de São Francisco de Assis pode
servir como guia e inspiração para a consecução dos objetivos urgentes e
necessários à construção de uma nova civilização, que deverá sustentar-se na
cooperação em substituição à competição, que é estimulada em tudo e em todos os
lugares pelos aparelhos ideológicos do modo de produção capitalista.
Antes
de apresentar a Oração, que é muito conhecida, acho necessário escrever bem
rapidamente sobre a sua origem. Parece que ela surgiu pouco antes da Primeira
Guerra Mundial. Suas origens são obscuras e seu autor é desconhecido. “A Oração
da Paz” apareceu pela primeira vez em 1913 numa pequena revista local da
Normandia, na França. Foi o Marquês de
la Rochetulon, fundador do semanário católico Souvenir Normand, quem
enviou a oração ao então Papa Bento XV. Nessa época, em toda parte faziam-se orações
pela paz, uma vez que a Europa inteira debatia-se com os terrores da Primeira
Guerra Mundial (1914-1918). A partir daí ela esparramou-se pelo mundo. Eis a
Oração da Paz, também conhecida como Oração de São Francisco de Assis:
Oração
da paz - Oração de São Francisco de Assis
Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz;
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé;
Onde houver erros, que eu leve a verdade;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei com que eu procure mais consolar,
Que ser consolado;
Compreender, que ser compreendido;
Amar, que ser amado;
Pois é dando que se recebe;
É perdoando, que se é perdoado;
E é morrendo que se vive para a vida eterna.
Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz;
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé;
Onde houver erros, que eu leve a verdade;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei com que eu procure mais consolar,
Que ser consolado;
Compreender, que ser compreendido;
Amar, que ser amado;
Pois é dando que se recebe;
É perdoando, que se é perdoado;
E é morrendo que se vive para a vida eterna.
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