Zildo Gallo
Zé do Palito, servente de pedreiro de
profissão, no fim das tardes, depois de um dia de trabalho pesado na construção,
para desanuviar a cabeça e para se esquecer do mestre de obras, que não cansava
de encher-lhe o saco, jogava porrinha no boteco com palitos de fósforo partidos
ao meio. A cada jogada, um trago de pinga, seguido de um trago num palheiro, e,
assim, aos poucos, ele ia acalmando os nervos antes de pegar o rumo da casa.
Depois de muito jogar, Zé do Palito
tornou-se o Rei da Porrinha, um jogo que exige velocidade de pensamento e muita
intuição. Começando pelo Boteco do Seu Felício, sua fama percorreu toda a
cidade, em cada boteco onde essa modalidade esportiva era praticada.
Assim a vida ia passando. Num certo dia,
ele foi promovido no seu emprego e, com o novo salário, abandonou a caixa de fósforos
e comprou um isqueiro dourado bem vistoso. Também abandonou o palheiro e
começou a fumar Hollywood com filtro. Abandonou o Boteco do Seu Felício, substituiu
a pinga pelo Conhaque Presidente e, para desanuviar a cabeça, acendia o seu
isqueiro, ficava observando a sua chama e dava uma tragada profunda no seu
Hollywood. Assim, acabou a sua carreira meteórica na porrinha. Dizem que, com o
tempo, também se tornou amigo do mestre de obras.
Rei morto, rei posto. Um novo servente da
obra, Zé do Feijão, assumiu o cargo vago e tornou-se o novo Rei da Porrinha, lá
no Boteco do seu Felício. Todas as tardes, Zé do Feijão jogava porrinha, tomava
seus goles de pinga, tragava seu palheiro e buscava, aos poucos, esquecer-se do
seu chefe imediato, o Senhor José do Palito, que não media esforços para encher-lhe
o saco.