terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Haicais de 4 (quatro) - matinais

Zildo Gallo


      1

Vêm passarinhos
Saltitando no quintal
Canta Aurora!

      2

Torres da urbe
Onde os passarinhos?
Aurora muda...

      3

Canta Galo Rei
Anuncia o Rei Sol
Um dia novo...

      4   

Sirenes gritam
Onde canta Aurora?
Motores urram...


quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

PÉRSICAS

 Zildo Gallo


Ahura Mazda
Mais Angra Mainyu
Em combinado armistício
Jogam
Nas noites persas
Infindável xadrez
Cósmico embate
Embate humano.
🔁
Sherazade
A bela
Conta histórias mil
Ganha mais um dia
E outra noite...
E outro dia...
E outra noite...
Histórias sem fim.
🔁
O Xá beberica
Seu chá de lima persa
Fumegante beberagem
Na chávena dourada
Amornando
Aos poucos
Duras agruras
Na alma congeladas.
🔁
Nas longas noites persas
Um conto puxa outro
Que venha outro!
Outro conto...
Outro dia...
Outros contos...
Outros dias...
🔁
E o tempo...
No oriente próximo
Gira sem parar
Em círculos
Concêntricos.


terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Haicais de 4 (quatro) - jardim de lótus

Zildo Gallo


      1

Lago lodoso
Brejo enegrecido
Bacia de flores.

      2

Folhas e flores
Exalam flutuantes
Olores gentis.

      3

Fundas raízes
Silêncio das águas
Multicolores.

      4   

Flores de lótus
Em radical vai e vem...
Dançam ao vento.


domingo, 18 de dezembro de 2016

Haicais de 4 (quatro) - pretérito imperfeito

Zildo Gallo


      1

O passado vejo hoje
É só pretérito
Sombras informes.

      2

O passado eu via
Era bem passado
Como linho amassado.

      3

Já bem distantes
As lembranças vinham
Pretéritas imperfeitas.

      4   

O agora é o já
O vir-a-ser ainda não
O ontem déjà vu.


sábado, 17 de dezembro de 2016

Haicais de 4 (quatro) - crescente

Zildo Gallo 


      1

Água na fonte
Borbulhas no lodaçal
Saltitam as rãs...

      2

Águas deslizam
Córrego sob árvores
Luzes salpicam...

      3

Em livre queda
Saltam sobre as pedras
Frescas espumas...

      4   

Águas pequenas
Entram nas águas grandes
Fim da diversão...


sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Haicais de 4 (quatro) - quase perfeitos

Zildo Gallo


      1

As rodas rodam
O pulguento vai atrás
As rodas rodam...

      2

Ladra cachorro!
Assusta os intrusos!
Sono tranquilo...

      3

Geme cadela
A triste dor da perda
Leite ao solo...

      4   

A vida me diz
Neste duro mundo cão
Cão sempre fiel...


quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Haicais de 4 (quatro) - imperfeitos

Zildo Gallo



      1

Os sapos coaxam
Os humanos
Procuram e não acham.

      2

O galo canta só
Anuncia o sol
Àquele que está só.

      3

A cobra hipnotiza
A cigana me olha
E profetiza.

      4   

A física quântica me diz
Neste universo controverso
Sou mais um aprendiz.



sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

CARTILHA DOS ORGÂNICOS.

Zildo Gallo

Em 24 de abril de 2015, eu postei aqui no meu blog o artigo "Guerrilha Agroecológica", onde divulgo a cartilha "O Olho do Consumidor", de Ziraldo. Ela foi embargada na justiça pela Monsanto, empresa fabricante de agrotóxicos e transgênicos, por sentir-se contrariada nos seus interesses. Lamentável que a "justiça brasileira" não tenha levado em consideração o direito à informação dos cidadãos no seu processo decisório. Hoje, 9 de dezembro de 2016, eu resolvi republicar o artigo, onde indico ao leitor como conseguir uma cópia.

Basta clicar no seguinte endereço: http://www.redezero.org/cartilha-produtos-organicos.pdf.

Além de conseguir a cartilha, que considero de excelente qualidade e de fácil compreensão, sugiro ao leitor que a divulgue. Trata-se de fazer um bem para a humanidade e para toda a natureza. Leia o breve artigo e entre para a justa causa.

GUERRILHA AGROECOLÓGICA



Zildo Gallo

Além de horticultor doméstico (ver: "Meditações a partir da horta doméstica da minha casa" (http://zildo-gallo.blogspot.com.br/2015/02/meditacoes-partir-da-horta-domestica-da.html), há muito tempo considero-me um militante da causa agroecológica.
Nas minhas aulas no curso de pós-graduação em Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente (Mestrado e Doutorado) do Centro Universitário de Araraquara (UNIARA), onde sou professor, costumo falar sobre os muitos porquês da minha opção pela agroecologia, que considero importante tanto para a saúde da natureza como a dos seres humanos, já que ela não adota o uso de defensivos agrícolas e adubos químicos.
No ano de 2009, o Ministério da Agricultura produziu uma cartilha (O olho do consumidor) bem detalhada, para divulgar o novo selo para produtos orgânicos, com ilustrações do cartunista e escritor Ziraldo. Diante da possibilidade de ter os seus interesses contrariados, a empresa Monsanto, fabricante de agrotóxicos e de sementes transgênicas, conseguiu, através da justiça, embargar a sua distribuição, que seria naquele momento de 620 mil exemplares. Com a proibição, muitos defensores da agricultura orgânica passaram a divulgá-la pela internet. Acredito que, de lá até hoje, a divulgação pelo meio eletrônico tem sido eficiente.
Como hoje eu tenho o meu blog e também tenho uma cópia da cartilha em PDF, resolvi disponibilizá-la para os meus leitores. Quem desejar uma cópia pode pedi-la pelo meu e-mail (zildogallo@gmail.com), que prontamente enviarei. A cartilha, que faz uma boa introdução sobre os produtos orgânicos para os leigos no assunto, ficou muito bonita do ponto de vista artístico e precisa ser amplamente divulgada, pois a causa é muito justa e relevante para todo o nosso planeta. 


Veja a capa da cartilha.




PS.: também é possível consegui-la no endereço: http://www.redezero.org/cartilha-produtos-organicos.pdf

domingo, 4 de dezembro de 2016

ROJÃO DE VARA

Zildo Gallo


Um haikai caiu
Cá dentro do meu poema:

menino brincando sozinho
silêncio dentro do silêncio
medo de rojão

Envergonhado
Assustado
O meu poema
Explodiu-se
Só resta correr
Atrás da vareta



sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Resenha: Capitalismo e Colapso Ambiental, uma leitura mais que necessária

Zildo Gallo
           

O livro Capitalismo e Colapso Ambiental (Editora da Unicamp), do professor do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, Luiz Marques, ganhou o prêmio Jabuti 2016 em primeiro lugar na categoria Ciências da Natureza, Meio Ambiente e Matemática. Sem dúvida alguma, trata-se de um prêmio merecido, pois há muito tempo permanecia a necessidade de uma obra que tocasse com a profundidade necessária a grande crise socioambiental que atravessa o nosso planeta.

Para Marques, as crises ambientais e sociais tornam necessária e inadiável uma reflexão sobre o caos planetário, em que toda a sociedade pode prejudicar-se de forma grave e com difícil reversibilidade. Assim, como não poderia deixar de ser, o seu livro é um estudo que aponta o capitalismo como essencialmente expansivo e predador e que tem levado planeta a um quadro gigantesco de devastação ambiental. Para ele, reverter tal trajetória implica na desmontagem do processo acumulativo e expansivo deste modo de produção, o que significa, na prática, desmontá-lo.

Talvez seja necessária a própria superação do modo de produção capitalista, pois o crescimento ininterrupto e infinito é a sua forma de ser. A busca do crescimento a qualquer custo moldou este sistema na forma de uma máquina multinacional intrinsecamente predatória e, assim, o capitalismo global tem extinguido ou ameaçado a existência de um número cada vez mais crescente de espécies (animais e vegetais), entre as quais, os próprios seres humanos.

Enfim, uma grande obra para o momento mais crítico da história da humanidade, quando ela própria colocou-se em grave risco, sozinha, sem a ameaça de nenhum meteoro gigante vindo do espaço sideral, como aconteceu no caso da extinção dos dinossauros há muitos milhões de anos atrás. O livro de Marques posta-se a nossa frente como uma moderna esfinge ameaçadora: decifra-me ou te devoro. Todos os estudiosos das questões socioambientais e todos os cidadãos estão chamados a decifrar a esfinge, para se incluírem de forma mais efetiva no bom combate a ser travado para salvar os ecossistemas e a própria humanidade. Sem dúvida nenhuma, a maior tarefa colocada aos seres humanos desde o início da sua trajetória.

Adquiram a obra: uma leitura mais que indispensável, crucial. Adquiram, leiam e divulguem. Trata-se de uma boa arma para um bom combate.


MARQUES, Luiz. Capitalismo e Colapso Ambiental. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2015, 648p.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

PRIMAVERA VERMELHA

Zildo Gallo


Gotas cristalinas
Puro orvalho
Pousadas em róseas pétalas
Aveludadamente
Suavemente avermelhadas
Esperando... esperando...
Delicadamente esperando
Os primeiros raios
Do sol nascente
Para aos céus
Alçarem seus voos
Voos primaveris
Primavera vermelha


sexta-feira, 25 de novembro de 2016

É JUSTO? (10)

Zildo Gallo

Garimpar imagens na imensidão da internet e observá-las pode ser um bom exercício para compreender o mundo nos dias de hoje. Muitas vezes as imagens falam por si mesmas, como nas fotografias de Sebastião Salgado, mas elas podem (servem) para ilustrar crônicas e poemas como é o caso do meu poema "Dia de pescaria". Uma imagem pode ajudar na compreensão de textos, pode? Ela pode falar mais que os textos. À imagem e ao poema!


Dia de pescaria

Alegrias!
Hoje é dia de pescaria
De buscar o meu sustento
No desembocar do sólido fluxo
Resíduo de estranho cheiro
A jusante
Um efluente
Da sociedade afluente
As sobras das gentes ricas
Longe das vistas sistemáticas
Estáticas
Do consumo que se consome
Que a todos consome.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

É JUSTO? (9)

Zildo Gallo

Garimpar imagens na imensidão da internet e observá-las pode ser um bom exercício para compreender o mundo nos dias de hoje. Muitas vezes as imagens falam por si mesmas, como nas fotografias de Sebastião Salgado, mas elas podem (servem) para ilustrar crônicas e poemas como é o caso do meu poema Fuga ao incerto. Uma imagem pode ajudar na compreensão de textos, pode? Ela pode falar mais que os textos. À imagem e ao poema!


FUGA AO INCERTO

Pegar a nau
Para um futuro
Milhas náuticas
Muitas milhas
Uma fuga do nada
Miserável nada
Violento nada
Mas perto
Muito perto
Rumo ao possível
Incerto
Muito incerto
Mas longe
Muito longe

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O PEQUENO BUTÃO: UM GRANDE EXEMPLO PARA O MUNDO

Zildo Gallo

O Butão é um país pequeno da Ásia, bem pequeno mesmo, e tem sua economia baseada na agricultura, na extração florestal e na venda de energia hidroelétrica para a vizinha Índia. A agricultura, essencialmente de subsistência, e a criação de animais, são os meios de vida para 90% da sua população. Trata-se de uma economia camponesa. É considerada uma das menores e "menos desenvolvidas" economias do mundo sob o ponto de vista dos cânones do pensamento econômico contemporâneo, que enxerga a riqueza como o conjunto de bens e serviços transacionados nos mercados. Entretanto, apesar da sua visível pequenez, já há algum tempo, o Butão passou a surpreender o mundo. Um exemplo: nos idos de 2004, ele foi o primeiro país do planeta a banir o consumo público e a venda de cigarros. Não é bom isto? Alguém discorda?
Este país, com apenas cerca de 700 mil habitantes, que possui um governo calcado numa ainda recente mas já sólida monarquia constitucional, já havia surpreendido o mundo há alguns anos com a ideia do índice FIB (Felicidade Interna Bruta) em contraposição ao PIB (Produto Interno Bruto), como indicador da produção de riqueza dos países. Recentemente, ele reforçou a sua intenção de contribuir para a sustentabilidade ambiental do nosso planeta Terra. Parece muita pretensão para um "nanico", mas não é, acreditem...
           

O seu Primeiro Ministro, Jigmi Y. Thinley anunciou recentemente a instituição da Política Nacional Orgânica, que pretende transformar, até 2020, o Butão num produtor 100% orgânico. Estamos no fim de 2016, falta muito pouco tempo para que isso se consuma. Que coisa boa! Assim, o governo butanês decidiu eliminar, aos poucos, a importação de agroquímicos da Índia; um cantinho da Terra sem agrotóxicos, já é alguma coisa...
Trata-se de uma decisão bem corajosa para uma nação tão pequena, caso seja comparada à China e à Índia (1,3 bilhão e 1,2 bilhão de habitantes, respectivamente). Trata-se de um pequeno Davi cercado por dois gigantescos Golias (ver figura acima). Há que se ressaltar o pioneirismo (de novo!) do pequeno reino parlamentarista, cuja maioria dos seus habitantes pratica o Budismo com religião. Assim como muitos países têm-se inspirado no Butão para olhar para o índice FIB no sentido de enxergar os limites do PIB (indicador de aspecto meramente quantitativo) como marcador da riqueza nacional, eles poderiam bem refletir a respeito da conversão de seus cultivos para métodos mais sustentáveis, adotando a prática da agroecologia.
Todavia, parece que o pequeno Davi está fazendo escola. Recentemente, no Ocidente, a rica Dinamarca, um país com padrões excelentes de vida, também resolveu abolir a agricultura tradicional, baseada no uso intensivo da química, dando como prazo também o ano de 2020. E viva a Dinamarca!
É importante ressaltar aqui nesta pequena crônica a imensa sabedoria da decisão política pela agroecologia, pois a maior parte da população butanesa é composta por camponeses que vivem do trabalho na terra. A adoção desta forma de cultivo do solo tende a fixar as pessoas no campo, já que é bem mais intensiva em trabalho que a agricultura convencional, aquela da Revolução Verde. Assim, o Butão continuará sendo caracterizado pelas pequenas e bucólicas cidades e ele só tem a ganhar com isso, continuará sendo um reino feliz.
LONGA VIDA AO REINO DO BUTÃO! VIVA A AGROECOLOGIA! ABAIXO OS TRANSGÊNICOS E OS AGROQUÍMICOS!


Thimphu, capital do Butão, ao fundo os Himalaias.

A QUE VIM