Zildo Gallo
O Butão é um país pequeno da Ásia, bem pequeno mesmo, e tem sua economia
baseada na agricultura, na extração florestal e na venda de energia
hidroelétrica para a vizinha Índia. A agricultura, essencialmente de
subsistência, e a criação de animais, são os meios de vida para 90% da sua população.
Trata-se de uma economia camponesa. É considerada uma das menores e "menos
desenvolvidas" economias do mundo sob o ponto de vista dos cânones do
pensamento econômico contemporâneo, que enxerga a riqueza como o conjunto de
bens e serviços transacionados nos mercados. Entretanto, apesar da sua visível pequenez,
já há algum tempo, o Butão passou a surpreender o mundo. Um exemplo: nos idos
de 2004, ele foi o primeiro país do planeta a banir o consumo público e a venda
de cigarros. Não é bom isto? Alguém discorda?
Este país, com apenas cerca de 700
mil habitantes, que possui um governo calcado numa ainda recente mas já sólida monarquia
constitucional, já havia surpreendido o mundo há alguns anos com a ideia do
índice FIB (Felicidade Interna Bruta) em contraposição ao PIB (Produto Interno
Bruto), como indicador da produção de riqueza dos países. Recentemente, ele
reforçou a sua intenção de contribuir para a sustentabilidade ambiental do
nosso planeta Terra. Parece muita pretensão para um "nanico", mas não
é, acreditem...
O seu Primeiro Ministro,
Jigmi Y. Thinley anunciou recentemente a instituição da Política Nacional
Orgânica, que pretende transformar, até 2020, o Butão num produtor 100%
orgânico. Estamos no fim de 2016, falta muito pouco tempo para que isso se
consuma. Que coisa boa! Assim, o governo butanês decidiu eliminar, aos poucos,
a importação de agroquímicos da Índia; um cantinho da Terra sem agrotóxicos, já
é alguma coisa...
Trata-se de uma decisão
bem corajosa para uma nação tão pequena, caso seja comparada à China e à Índia
(1,3 bilhão e 1,2 bilhão de habitantes, respectivamente). Trata-se de um
pequeno Davi cercado por dois gigantescos Golias (ver figura acima). Há que se ressaltar o pioneirismo (de novo!) do pequeno reino
parlamentarista, cuja maioria dos seus habitantes pratica o Budismo com
religião. Assim como muitos países têm-se inspirado no Butão para olhar para o índice
FIB no sentido de enxergar os limites do PIB (indicador de aspecto meramente
quantitativo) como marcador da riqueza nacional, eles poderiam bem refletir a
respeito da conversão de seus cultivos para métodos mais sustentáveis, adotando
a prática da agroecologia.
Todavia, parece que o pequeno Davi está fazendo
escola. Recentemente, no Ocidente, a rica Dinamarca, um país com padrões
excelentes de vida, também resolveu abolir a agricultura tradicional, baseada
no uso intensivo da química, dando como prazo também o ano de 2020. E viva a
Dinamarca!
É importante ressaltar
aqui nesta pequena crônica a imensa sabedoria da decisão política pela
agroecologia, pois a maior parte da população butanesa é composta por
camponeses que vivem do trabalho na terra. A adoção desta forma de cultivo do
solo tende a fixar as pessoas no campo, já que é bem mais intensiva em trabalho
que a agricultura convencional, aquela da Revolução Verde. Assim, o Butão
continuará sendo caracterizado pelas pequenas e bucólicas cidades e ele só tem
a ganhar com isso, continuará sendo um reino feliz.
LONGA VIDA AO REINO DO BUTÃO! VIVA A
AGROECOLOGIA! ABAIXO OS TRANSGÊNICOS E OS AGROQUÍMICOS!
Thimphu, capital
do Butão, ao fundo os Himalaias.
belíssimo e muito interessante. Gostei... Abraços.
ResponderExcluirTem mais artigos sobre agroecologia no blog.
ResponderExcluirViver em equilíbrio com o planeta terra, eis a harmonia da vida. Felicidade é assim, reciprocidade. Que possamos aprender com estes bons exemplos e rever o real sentido da vida, afinal o Ser nos satisfaz bem mais do que ter.
ResponderExcluirGrato pelo edificante comentário.
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