A imagem parece uma pintura, mas é um conjunto de canaviais sem nenhuma árvore entre eles. Deles vem um combustível muito “amigo da natureza”.
O sapo não coaxa no brejo
A abelha não visita flores
A minhoca não transita
subterrâneos
O pássaro não pousa na árvore
O brejo está seco
A abelha tonta esqueceu-se de
voltar
O sapo suicida banhou-se
envenenado
A terra da minhoca espremeu-se
Socada pelas patas
emborrachadas dos gigantes
Nem sinal dos preciosos anéis
invertebrados
A árvore sumiu
O pássaro sobrevivente na
urbe exilou-se
Antes dele foi-se o último
dos humanos
Nos campos enfileiram-se
canas adocicadas
Um mar de doçuras verdemente
uniforme
Monotonia silenciosa
Uma única forma de vida
Verdejante solidão
Vez ou outra se quebra a
monotonia
E o dinossauro de ferro devora
Cada colmo de cada cana
Um espetáculo pouco visto
Mas em casa os resultados
disso recebo
O branco açúcar da minha anestésica
ração
A comida do meu cavalo
mecânico
Do alto deste edifício
Neste exílio concreto
Ponho-me a cismar
Minha terra sem palmeiras
Sem canto e sabe lá...
E as aves já não gorjeiam
Nem aqui
Nem acolá
Notas explicativas: 1) a mortandade de sapos e rãs denuncia a existência de
poluição, pois são animais muito sensíveis; 2) as abelhas contaminadas por
agrotóxicos perdem o radar biológico, não conseguem voltar à colmeia e acabam
morrendo; 3) a diminuição de áreas arborizadas diminui a biodiversidade, com o
desaparecimento de mamíferos, pássaros, répteis, insetos e espécies vegetais;
4) o uso de máquinas pesadas compacta o solo, o que dificulta a sobrevivência
de insetos na sua superfície e impede a infiltração da água no subsolo,
aumentando o escoamento superficial das chuvas e provocando a perda de solo
(erosão).
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário