Zildo Gallo
Não
sei exatamente quando, pois era muito pequeno, só sei que aprendi isso quando
morava no meio rural no município de Borborema (SP). A meu ver, trata-se de um
aprendizado extremamente útil, algo que se aprende quando se mora no sítio: como chupar
manga sem se lambuzar, aproveitando o máximo da fruta, sem o auxílio de facas e
garfos. A cidade passa ao largo de tais conhecimentos, pois, principalmente nos dias de hoje, encontra-se muito distante da natureza e dos seus ciclos naturais, incluindo aí o conhecimento sobre a época de cada fruta. No caso da manga espada, que considero a mais saborosa, mas que tem o
inconveniente do excesso de fiapos, considero que o método é o mais adequado.
O
método é bem simples, simples mesmo, denominei-o "mamadeira de manga",
é assim: 1) pegue uma manga bem madura, quanto mais madura melhor; 2) amasse-a
com relativa delicadeza para que a casca não se rompa; 3) faça um furo na
extremidade posterior, o suficiente para que o caldo saia; 4) chupe o caldo
pelo orifício; 5) continue amassando, delicadamente, e chupando enquanto notar
que ainda existe polpa chupável. Funciona e, quando terminar, o caroço pode ser
dispensado com a casca. Todavia, quando criança, mesmo quando adotava o método,
não dispensava o caroço e aí lambuzava-me todo. Não tenho na memória lembranças
de não chupar o caroço. Chupar o caroço da manga é pura diversão, ou não?
Outra
fruta que me atraía muito no sítio era a macaúba. Trata-se de um coco que
possui uma saborosa polpa amarela, com uma castanha mais saborosa ainda. A
macaúba é uma palmeira do cerrado, muito comum nos pastos e nas matas do interior do Estado
de São Paulo. Trata-se de uma planta bonita e altamente produtiva, cuja
castanha, além de deliciosa, por conta do alto teor de gordura, pode
transformar-se em biodiesel.
Quando
menino, eu era um viciado em coquinhos de macaúba. Vivia pelos pastos a cata de
cocos e sempre encontrava muitos, praticamente todos os dias. Extrair as
castanhas era muito simples, bastava um martelo e uma superfície dura para
quebrar os coquinhos, só isso... Na minha infância, a última vez que comi
macaúba no sítio foi inesquecível porque também foi uma experiência muito
dolorida. Olha a macaúba aí, gente!
Às
vésperas de mudar-me do meio rural borboremense, eu estava quebrando macaúbas no
quintal em cima de uma pedra, que estava colocada próxima do meus pés. Estava agachado,
solitário, quebrando cocos e devorando-os em seguida, uma atrás do outro. Num
dado momento, errei a martelada e acertei o meu dedão do pé esquerdo. Ainda
hoje tenho a memória da dor. Mudei-me para Americana (SP) alguns dias depois. A
unha enegrecida foi cair na minha nova cidade. Na minha infância, voltei apenas
duas vezes a Borborema e, é claro, comi macaúbas. Depois disso, só depois dos
meus trinta anos de idade, saboreei novamente as castanhas memoráveis. Da vida
no campo, que ficou muito distante no tempo, guardo recordações muito agradáveis. Entre elas, as relativas às suculentas mangas espada chupadas na forma de mamadeiras e às dos coquinhos da
macaúba, extraídos a marteladas, um a um, ocupam lugares especiais nas prateleiras da minha memória.
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