Zildo Gallo
A
Índia é para o Oriente o que a Grécia é para o Ocidente. Num passado distante
ambos pareciam-se. Aos tempos dos filósofos pré-socráticos, a visão de mundo
dos gregos era muito calcada na natureza divinizada; as divindades
eram/sustentavam os fenômenos naturais e os elementos da natureza. A partir de
Sócrates a filosofia começa a se desgarrar da religião e passa a se preocupar mais
com o ser humano, com as questões humanas. A partir de Aristóteles, a própria
natureza começa a ser vista de outra forma. Podemos localizar aí o surgimento
da ciência. Nesse ponto o Ocidente começa a se afastar do Oriente em termos
filosóficos.
Nesta
história não tem certo nem errado, nem superior nem inferior. A partir das suas
filosofias, Ocidente e Oriente avançaram nos seus conhecimentos. O mundo
oriental produziu duas medicinas importantes e eficientes: a chinesa e a
indiana. São medicinas que derivam das suas filosofias, que têm um caráter mais
religioso, no caso o taoismo e o hinduísmo. No mundo ocidental a medicina vem
de um processo de acúmulo de conhecimento sobre a natureza humana, deriva da
ciência que, num determinado momento, apartou-se da filosofia.
Resumindo:
filosofia e religião para os orientais não estão separadas; para os ocidentais
elas são campos separados de conhecimento. No Ocidente a filosofia passou a
cumprir um papel de superego da ciência, principalmente a partir do século XX;
ela exerce uma crítica necessária, pois os poderes da ciência e dos cientistas
necessitam de balizas éticas bem definidas para que atuem de forma a não
prejudicarem os seres humanos e os demais seres do planeta. Não se trata de
tarefa fácil, basta que observemos a grande crise ambiental vivida pelo planeta
Terra para percebermos a extensão dos riscos da aplicação das ciências, isso
que chamamos de tecnologia.
A
partir do século XX, desde o seu início, Oriente e Ocidente vêm se aproximando.
Nós ocidentais já cuidamos da nossa saúde com as medicina Ayurvédica (Índia) e
com a Acupuntura (China). Também a expansão exponencial da Yoga em todo o
Ocidente tem confirmado os benefícios dessa ciência milenar, antes restrita ao
mundo oriental. É evidente que muito conhecimento ocidental está sendo
assimilado pelo Oriente. Este aspecto positivo da globalização é muito bem
vindo.
Acho
válido reproduzir aqui neste texto um trecho do meu artigo "Caminho para as Índias 1: o retorno de Narciso", publicado
neste blog, onde falo do meu primeiro contato com o oriente, particularmente
com a Índia, um contato indireto, através da literatura. Muitos anos depois,
viajei várias vezes à Índia e, por curiosidade, mais que curiosidade, também
aprofundei as minhas leituras sobre as mitologias hindu e chinesa. O Oriente já
não me parece tão secreto, em particular a Índia. Ao trecho do artigo:
"No ano de 1974, eu li pela primeira vez um romance do escritor
alemão Hermann Hesse (1877 - 1962). Tinha lido Demian, escrito em 1917, e
aquele pequeno contato com a Índia, através do jovem Narciso [ver artigo Caminho...], levou-me a ler Sidarta (1922), que se
trata de uma rica interpretação pessoal do autor sobre as correntes filosóficas
do Oriente. Hesse era filho de pais missionários protestantes que pregaram o
cristianismo na Índia. Veio daí o seu interesse inicial pelo Oriente, mas o
interesse definitivo aconteceu a partir de sua viagem à Índia em 1911. Algum
tempo depois, ele teve contato com a psicologia analítica por meio de um
discípulo de Carl Gustav Jung. Então, estas duas influências seriam decisivas no
posterior desenvolvimento da obra de Hermann Hesse. Eu, por minha vez, no ano
de 1974, tornei-me leitor fervoroso do escritor alemão e através dele fui
desenvolvendo minhas impressões sobre o Oriente."
Na
minha forma de ver, Ocidente e Oriente são profundamente complementares. No
esquema abaixo eu faço uma rápida demonstração disto. Desculpem a
simplificação, mas é mais ou menos assim:
Oriente --------
Fé Ocidente --------
Ciência
Oriente --------
Intuição Ocidente --------
Razão
Oriente --------
Feminino Ocidente --------
Masculino
Olhando
para o esquema acima, parece ficar claro que a interpenetração desses dois
mundos antípodas será muito benéfica para toda a humanidade. Basta que ambos os
lados dispam-se de preconceitos e se aceitem. Simples assim... Para concluir,
incluo aqui uma bela imagem de Krishina, com o simples objetivo de fazer um
registro visual da religiosidade indiana, que é muito rica e diversificada. Hare Krishna!
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