segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Decapitação de Iemanjá na Paraíba: um ato de intolerância

Zildo Gallo


Em outubro de 2012, eu e minha companheira Claudia passamos uma semana na capital do Estado da Paraíba, João Pessoa. Trata-se de uma bela cidade, com um povo bastante hospitaleiro. Diferente de outras capitais litorâneas, João Pessoa é uma cidade sem arranha-céus. Fiquei sabendo que é uma opção urbanística, uma opção muito inteligente, que lhe confere um agradável ar de cidade interiorana. É um município de médio porte com belas praias, ótimos restaurantes e várias atrações turísticas. Para aqueles que gostam de um turismo tranquilo, João Pessoa é uma boa opção, eu indico. Confiram!
Numa caminhada pela orla marítima, na praia do Cabo Branco, numa pequena praça nós encontramos uma estátua bem grande, cerca de 2,5 metros, de Iemanjá. A praça leva o mesmo nome da rainha dos orixás. Tiramos algumas fotos dela, de vários ângulos, pois ela se parecia muito com uma amiga nossa de São Paulo. No mês seguinte, quando a encontramos, nós lhe mostramos e, de fato, confirmamos a semelhança.
No início de abril de 2013, eu li uma notícia num jornal que me deixou chocado e que, mesmo depois de passado tanto tempo, considero importante falar alguma coisa sobre ela. "Vândalos" cortaram a cabeça da estátua e ainda escavaram a sua base, numa tentativa de derrubá-la. Muitos entenderam esse fato como um ato de intolerância religiosa, inclusive o Conselho Estadual de Direitos Humanos - presidido por um padre católico - que publicou uma nota contra o "desrespeito à diversidade religiosa". A seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) na Paraíba também se manifestou a respeito e cobrou mais segurança para o local.
Esse não foi o primeiro episódio de intolerância em relação a esse monumento que homenageia a religiosidade afrodescendente. Trata-se de uma indesejada repetição. Em 2011 as suas mãos foram arrancadas. A reconstrução da estátua e a indignação de muitos foi uma boa resposta aos "vândalos", mas precisamos continuar alertas.
Acho importante lembrar o episódio aqui no meu blog, pois considero que o patrimônio cultural e religioso do povo brasileiro deve ser respeitado e que nenhuma intolerância religiosa deve ser aceita num país tão multicultural como o nosso. A religiosidade brasileira tem três matrizes predominantes, são elas: a indígena, a africana e a europeia (cristã). A Umbanda, vejam só, que é a primeira religião genuinamente brasileira, mistura as três origens; a criatividade dos brasileiros sempre surpreende. O Brasil é muito grande, multicultural e multirreligioso e isso é muito rico e muito belo. Essa imensa diversidade precisa e deve ser preservada.
Na cidade do Rio de Janeiro, em junho de 2015, a violência da intolerância religiosa atingiu uma menina de verdade, não uma estátua. Alguns dias após o episódio eu publiquei no meu blog o artigo: "Lapidaram a menina do candomblé: os fariseus estão de volta". A pedra que acertou a cabeça da garota atingiu em cheio a memória e a alma dos nossos irmãos descendentes dos africanos que foram violentamente trazidos para cá e vergonhosamente escravizados. Eu considero esse episódio como um duplo mal: racismo e intolerância religiosa.
Escrevi esta breve crônica para registrar a minha indignação e, para encerrar, quero dizer que fico horrorizado com o espaço que tem certos pastores, inclusive na grande imprensa, para disseminar ignorâncias e intolerâncias. A religiosidade de origem africana e os homossexuais são os alvos preferidos desses "soldados de Jesus". Até onde pode chegar tamanha estupidez? A história da humanidade está repleta delas e é cada vez mais necessário que paremos com isso.
Odoyá, Rainha do Mar! Lave com suas águas a ignorância das mentes intolerantes e o ódio dos seus corações embrutecidos. Odoyá! Odoyá!


quarta-feira, 19 de agosto de 2015

As correntes da ética ambiental - por que conhecê-las?

Zildo Gallo


Como é possível estancar o processo progressivo de destrui­ção da natureza que teve início na Revolução Industrial e que, a partir daí, se aprofundou e continua nos dias de hoje? Não respostas prontas. Conhecer, mesmo sem muitos aprofundamentos, as correntes de pensamento que falam da relação do homem com a natureza pode ajudar muito, principalmente aqueles engajados na luta por uma sociedade sustentável. Neste sentido, sugiro a leitura de Correntes da Ética Ambiental (Pelizzoli, 2002). O livro permite uma atualização sobre a diversidade de visões e posturas que se desenvolveram nas últimas déca­das sobre ética e ecologia. É uma leitura que recomendo; seguem abaixo algumas informações rápidas sobre o conteúdo da obra.
A primeira corrente que Pelizzoli destaca é aquela que se baseia nas ideias liberais que, para ele, produzem uma ética utilitarista, pois valorizam o indivíduo “natural­mente” competitivo e a sua “liberdade” para competir. Para os liberais a concorrência e a competitividade são necessárias ao aprimoramento da economia e da sociedade. Esta forma de ver o comportamento econômico, que sobrevaloriza a competição e minimiza o papel da coope­ração, pode ser perigosa, pois pode conter uma ética neodarwinista implícita, que afirma que o mais forte vence e tem o di­reito “natural” sobre o que conquistou. Trata-se de uma visão ideologizada da luta pela vida que há na natureza.
Em relação às crises sociais e ambientais, os liberais podem adotar posturas reformistas ou conservadoras. Os conservadores preocu­pam-se em demasia com o crescimento da população. Eles têm certa razão, pois o excesso de popu­lação pode agravar situações de pobreza e de destruição da natu­reza; o problema é o excesso de foco na abordagem populacional, que acaba desenvolvendo posturas neomalthusianas, culpando os pobres pela sua situação de pobreza. Todavia, eles se mostram preo­cupados com os desmatamentos em curso nos países do Terceiro Mundo. Acreditam que a tecnologia pode resolver os problemas ecológicos e, assim, defendem as chamadas “tecnologias limpas”. Também acreditam que a pobreza pode ser diminuída com mais crescimento econômico, ações assistenciais e diminuição do crescimento populacional. Enfim, são essencialmente conservadores.
Os liberais reformistas, por seus turno, defendem algumas ações corretivas, tais como: diminuição gradual da emissão de CO2; uso de combustíveis alternativos; certificações ambientais; reciclagem; desenvol­vimento de tecnologias limpas; aperfeiçoamento da legis­lação e do controle ambiental. Apesar des­tes avanços, que são necessários, assim como os conservadores, os liberais refor­mistas não questionam o modelo econômico competitivo e os seus efeitos dano­sos: a elevada concentração da riqueza e a enorme degradação ambiental.
A corrente ecossocialista, antagônica aos liberais (conserva­dores e reformistas) defende a necessidade de aprimorar as críticas ao conjunto de valores predominantes no mundo globalizado. Para Pelizzoli, o movimento por uma nova ética na relação entre o homem e natureza e o desejo por novas relações globais a partir da ecologia levam à compreensão do que vem a ser o ecossocialismo en­quanto uma corrente ambiental. Segundo ele, que faz uma síntese pró­pria, a partir de sua participação no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, em 2001, um ecossocialista defende as seguintes ideias: 1) a sociedade não pode se estruturar às cegas a partir da globalização econômica; 2) há que se repensar os valores e modos de vida que se balizam apenas pelas rela­ções mercantis; 3) os impactos sobre o meio ambiente estão baseados numa noção de progresso oriunda das revoluções Científica e Industrial; 4) a democracia não pode ser só político-eleitoral, mas também econômica e cultu­ral; 5) é preciso questionar firmemente as relações Norte-Sul, as dívidas externas do Terceiro Mundo, a dependência econômica dos países pobres e o sistema finan­ceiro internacional; 6) é preciso questionar a intocabilidade da propriedade privada, do falso livre mer­cado, do lucro como principal motivo da produção e da sobrevalorização do indi­vidualismo; 7) é necessário apoiar as trocas de experiências entre os movimentos sociais espa­lhados pelo mundo; 8) é preciso defender as minorias, os movimentos e as organizações civis contra o racismo e os preconceitos; 9) é necessário lutar contra o patenteamento da vida e a propriedade intelectual privada, particularmente em relação à biodiversidade; 10) é preciso lutar pela reforma agrária e por uma política agrícola agroecológica; 11) é necessário questionar as privatizações no Terceiro Mundo, pois estão envol­vidas em escândalos e têm diminuído o poder dos estados-nações; 12) o novo socialismo deve buscar a real democracia, a participação popular, a descentrali­zação do poder, a solidariedade e o respeito à diferença; 13) é necessário impor regras à atuação do capital internacional, diminuir a má distribuição das riquezas e criar formas de participação social nas empresas e na economia. A sociedade civil organizada é o ator das mudanças necessárias para os ecossocialistas.
Existem muitos pensadores do ambientalismo que têm opiniões convergen­tes. O ponto de partida deles é a crítica ao tipo de civilização construído a partir do desenvolvi­mento econômico baseado na ciência e na indústria. Preocupam-se com os desequilíbrios que ocorrem com os seres humanos e a natureza por conta desse tipo de desenvolvi­mento. Eles buscam uma visão holística, integradora, que reintegre, religue harmoniosamente, os homens com o meio natural. Buscam a estruturação de uma ética holística. Particularmente, eu me afino muito com esses pensadores.
O desenvolvimento da razão científica e instrumental, que é produto destacado da civilização ocidental, distanciou o homem da natureza e facilitou para ele a assunção de uma atitude dominadora em relação a ela. Ele acabou, então, subordi­nando o ambiente natural à sua vontade. O objetivo maior da corrente holística é recuperar a integridade do ser humano, refazendo a sua relação ecossistêmica com o mundo. Pelizzoli informa que as fontes desta corrente são do início do século XX, quando o Ocidente recebeu influências do pensamento oriental. A partir dos anos 50 do século XX, com os movimentos de contracultura, com o cres­cimento da crise ambiental e a ameaça nuclear, esta cor­rente ficou visível. O pensador mais conhecido desta corrente em nível mundial é o físico e ecólogo Fritjof Capra. No Brasil destaca-se o filósofo e teólogo Leo­nardo Boff.
Para Capra, a ecologia abrange um vasto campo: pode ser praticada como disciplina científica, filosofia, política ou como estilo de vida. Enquanto filosofia ela é conhecida como “ecologia profunda”, que se trata de uma escola fundada pelo filósofo norueguês Arne Naess no começo dos anos 70 do século XX. Naess distinguiu a ecologia “rasa” da ecologia “profunda”. A ecologia rasa é antropo­cêntrica, pois coloca o homem fora e acima da natureza, e a ecologia profunda não separa o homem dela.
Capra considera que o arcabouço científico mais adequado para o estudo da ecolo­gia é a teoria dos sistemas vivos. A teoria dos sistemas trata-se de uma nova maneira de ver o mundo e também uma nova forma de pensar, que significa pensar a partir de relações. Esta teoria diz que todos os sistemas vivos compartilham propriedades e princípios organizacionais comuns. Para ele, uma relevante lição da abordagem sistêmica está no fato de se reconhecer a rede como o padrão básico de organização da vida. Os ecossistemas são teias alimentares (redes de organismos); os organismos são redes de células e as células são compostas por redes de moléculas.
O pensamento sistêmico implica, então, numa mudança de enfoque, de ob­jetos para relações. Trata-se de uma ruptura com o modo cartesiano de enxergar o mundo e seus fenômenos. A divisão entre espírito e matéria que aconteceu após o “cogito, ergo sum” (penso, logo sou) de Descartes levou à concepção do universo como um sistema mecânico, que é composto por partes separadas que podem, então, ser analisadas separadamente. A ciência que foi produzida por conta desta separação criou atitudes antiecológicas. A razão ocidental é linear e frag­mentada e os sistemas ecológicos são redes dinâmicas interligadas. Esta racionalidade não consegue captar a complexi­dade dos sistemas vivos e o resultado disto pode ser visto com muita clareza nas tragédias ambientais que se espalham por todo o planeta.
Leonardo Boff, o pensador brasileiro mais ilustre da corrente holística, ao analisar a modernidade científica e técnica, descobre por detrás dela o funciona­mento de uma determinada filosofia: o “realismo materialista”. Ele a chama de realismo porque ela parte do ponto de vista de que as realidades existem indepen­dentes dos observadores. Para ele, não tem objeto sem sujeito e sujeito sem ob­jeto. Também a chama de materialista porque ela pressupõe que a matéria é a única realidade existente. Para Boff, o bem comum não pode ser concebido apenas a par­tir do ho­mem (antropocentrismo). A natureza e os seus ecossistemas também de­vem ser conside­rados. O bem comum deve ser de toda a comunidade terrestre com quem o homem com­partilha o seu destino.
Em tempos recentes, com o crescimento do budismo, tem sido possível ob­servar o surgimento e a expansão de uma forma de pensar as relações do homem com a natureza que se aproxima da corrente holística. O mais conhecido represen­tante desta ética “budista” é o XIV Dalai Lama do Tibet que considera a insatisfação das pessoas, o apego e o desejo como grandes causadores de desintegração social e destruição ecológica. A leitura de sua obra permite concluir que, para ele, a ética fundamenta-se na com­paixão por todos os seres. Talvez, a compaixão seja uma das maiores contribuições éticas do Oriente à humanidade. Dalai Lama sempre defende uma postura humilde e respeitosa em relação aos outros, humanos e não huma­nos, que pode significar o início de grandes mudanças num mundo tão dividido e tão confli­tuoso.
Pelizzoli também considera a importân­cia da grande contribuição do filósofo e ecólogo Hans Jonas. Ele avalia que a sua postura é es­sencialmente ética, pois ele se preocupa com a necessidade de conter a força descontro­lada dos homens. Para ele, Jonas introduz uma nova dimensão para a responsabilidade humana, que vai além da responsabilidade com os semelhantes. Ele fala da responsabilidade com a natureza. A vulnerabilidade da natureza sempre deve ser considerada. Não se trata de defender a natureza como autodefesa para evitar o sofrimento humano; é preciso pensar numa ética que inclua toda a natureza. Jonas mostra enfaticamente que o homo faber, aquele que domina e trans­forma a natureza, tem se colocado acima do homo sapiens, aquele que usa a inteligência e o bom senso. Então, também ele se lança contra a visão cartesiana predominante. A ideia de que a natureza existe por si, que ela é o que pode ser medido, cortado e modificado não pode mais prevalecer.
Quando fala sobre ética, sociedade e natureza a partir da Escola de Frank­furt, Pe­lizzoli afirma que esta corrente filosófica exerce influên­cias sobre os movi­mentos de emancipação, de crítica ao poder e aos sistemas estabe­lecidos, apesar de ela não ter sido trabalhada no ambienta­lismo. Esta escola, que conta com pensadores do porte de Adorno e Horkheimer, desenvolve uma crítica profunda à “sociedade unidimensional tecno­crática”, onde os problemas sociais são abordados pela ótica da racionalidade científica, que caracteriza a filosofia po­sitivista. Então, segundo estes pensadores, a realidade social, que é dinâmica e complexa, submete-se a um método universalizador e unitário, o método científico, Assim, os filósofos frankfurtianos acabam se distanciando do cientificismo materialista, da fé cega na ciência e na técnica como instrumentos da emancipação social.
Ironicamente, o pensamento frankfurtiano expõe à luz os aspectos sombrios da Es­cola Iluminista, importante corrente filosófica do século XVIII, que ressal­tava o poder da razão contra as crenças obscuras do mundo medieval. A Revolução Industrial, como extensão da Revolução Científica, não conseguiu levar a cabo o sonho iluminista de bem-estar a partir do progresso. Pelo contrário, o preço do progresso tem sido alto, tanto para o indivíduo como para a sociedade.
Segundo Pelizzoli, esta corrente filosófica, em termos de ética ambiental, apro­xima-se do pensamento ecossocialista, inclusive quando critica o marxismo ortodoxo, que também professa a mesma fé cega no progresso tecnológico que contaminou todo o mundo moderno e toda a história, que passou a ser a história do progresso, que começa no homem pré-histórico, chega ao “homem cibernético” e vai não se sabe para onde. Para que a história possa livrar-se da bola de neve do progresso é preciso abandonar a ideia de que a história é um conti­nuum e também a concepção de linearidade do progresso da ciência e da tec­nologia.
A ética ambiental pode alimentar-se de muitas fontes. As diversas religiões, por exemplo, podem fornecer subsídios para ela. Mas, para encerrar este assunto, é bom falar das relações entre a ética ambiental e a hermenêutica. No seu livro, Pelizzoli fala da ecoética a partir de uma postura hermenêutica. A palavra her­menêutica vem do grego e significa interpretar. Ela deriva de Hermes, Mercúrio para os romanos, o mensageiro dos deuses, criador da linguagem e da escrita. Para o autor, a hermenêutica implica que, antes de se conseguir uma explicação das coisas, que é a base do procedimento científico atual, deve-se compreendê-las em profundidade. O aprofundamento faz-se sempre neces­sário porque a investigação sobre uma realidade objetiva é passível de subjetividades. Esta compreensão profunda é necessária porque um procedimento meramente carte­siano pode ser restritivo, deixando de fora elementos que não cabem nos li­mites de uma determinada teoria ou nos moldes de um experimento laboratorial. Isto significa, então, que a ecoética hermenêutica apresenta-se mais como postura do que como sistema ou teoria.
O autor fala sobre a necessidade de um resgate hermenêutico de concep­ções da natureza. A palavra natureza tem sua origem no latim (nasci, nascor) e significa nascer, crescer, ser criado. Trata-se de uma visão processual da vida. A palavra grega para a natureza é Physis, que significa a natureza como um todo, incluindo aí os aspectos huma­nos. Phy para o grego significa germinar. A natureza era vista pelos povos da antiguidade como algo em movimento, como algo dinâ­mico. Para Pelizzoli, a nossa ideia de realidade ficou rígida, perdeu a conotação dinâmica. Para os gregos a técnica não estava separada dos processos naturais. Aristó­teles considerava que a arte (techne) imitava (mimesis) a natureza. A Revolução científica, por outro lado, criou uma outra natureza, que virou produto de uma técnica; trata-se de uma visão reducionista. A construção da natureza tornou-se técnica. É preciso recuperar o significado natural da natureza, que diz que a Physis é um processo permanente e contínuo de nascer e morrer. Pelizzoli esclarece como se instalou esta visão reducionista e instrumental A partir de Des­cartes (1596-1650), instalou-se no Ocidente uma visão reducionista e instrumental da natureza: o espírito (res cogitans - coisa pensante) é único e inteiro; as coisas materiais (res extensa - coisa material), ao contrário, são divi­síveis; o espírito (o cogito - penso) é assim dife­rente e separado das coisas; o acesso à natureza dá-se pela de sua divisibilidade; cria-se uma divisão (sujeito - objeto), que funda­menta o progresso científico e tecnológico.
A abordagem hermenêutica sobre a ecologia serve para aprofundar a com­preensão dos problemas causados pelo reducionismo cartesiano. Também serve para desmistificar a ideia de progresso sem fim através da dominação da natureza. A ecoética hermenêutica é mais uma postura do que um sistema ou teoria acabada. Neste sentido, ela chama as diversas correntes da ética ambiental para o diálogo, para a troca de experiências, para a busca de pontos comuns, na tentativa de construir um mundo melhor para todos os seres, indistintamente. E, sendo repetitivo: o diálogo é urgente.

Referências
GALLO, Zildo. Ethos, a grande morada humana: economia, ecologia e ética. Itu, SP: Ottoni Editora, 2007.
PELIZZOLI, Marcelo L. Correntes da ética ambiental. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2002.


sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Ética e moral são a mesma coisa? Por que pensar a respeito?

Zildo Gallo


As palavras ética e moral são a mesma coisa? Na maioria das vezes elas são usadas com o mesmo significado, como sinônimos. Geralmente são usadas para a emissão de juízos de valor sobre práticas pessoais ou coletivas. Entretanto, ao se buscar as origens e o real significado de cada pala­vra, chega-se à percepção de suas diferenças; ética e moral não são sinônimos, definitivamente.
A ética é parte constituinte da filosofia. Ela trata de concep­ções de fundo sobre a vida, o universo, a humanidade e sua trajetória existencial, estabelecendo valores e princípios fundamentais que norteiam os comportamentos dos indivíduos e dos grupos sociais. Já a moral faz parte do dia-a-dia das pessoas e das sociedades. Assim, ela cuida da prática concreta dos indivíduos com base em costumes e valo­res culturais estabelecidos.
Nem tudo que é moral é ético. Costumes e valores consagrados em determi­nados grupos sociais podem ser questionados pela ética. Algumas formas de trata­mento dado às mulheres, discriminatórias e muitas vezes violentas, que são aceitas em alguns grupos sociais podem exemplificar o exposto. A forma como alguns segmentos do islamismo agem em relação a elas encaixa-se como exemplo de valores morais questionáveis do ponto de vista ético.
Uma pessoa é ética quando se orienta por princípios e convicções; a convicção pressupõe a introjeção dos princípios pelo indivíduo. Os princípios têm um caráter universal. Por exemplo, agir pacificamente em relação aos demais é universalmente aceito como correto e as ações violentas são condenadas por ampla maioria nos dias de hoja. Por outro lado, uma pessoa moral é aquela que age em conformidade com os valores e costumes socialmente aceitos. Então, um indi­víduo pode ser moral, pois segue os costumes por conveniência, mas não necessa­riamente ético, pois não obedece a princípios convictos. Ele pode não ser violento, reprimindo a violência em si, porque a violência não é aceita socialmente, mas ele pode não estar plenamente convencido da não violência como um valor fundamental.
A palavra ética é oriunda da palavra grega ethos (com épsilon, e longo), que signi­fica morada. Todavia, não se tratava e não deve ser compreendida como a morada física, a casa material, mas como a casa existencial. A casa existencial significava para os gregos a teia de relações entre os membros da comunidade e destes com o meio físico. Hoje, recuperando a concepção grega, a morada não deve ser apenas a casa onde as pessoas habitam, deve ser também a cidade onde vivem, o país a que pertencem e o planeta Terra, que é a casa de todos. Leonardo Boff, em Ética e Moral: a Busca dos Fundamentos, consegue deixar a questão mais clara:
Mas para que a morada seja morada faz-se mister organizar o espaço fí­sico (quartos, sala, cozinha, o jardim) e o espaço humano (relações entre os moradores entre si e com os vizinhos), segundo critérios, valores e prin­cípios inspiradores, para que tudo flua e esteja a contento. A casa possui, então estilo, caráter e sua aura própria. Da mesma forma as pessoas que habitam e que sintonizam com o jeito próprio da casa assumem um caráter singular. Os gregos chamavam tanto os princípios inspiradores e as pes­soas, cujo caráter era moldado por eles, de ethos, escrito como casa (ethos com e longo) (BOFF, 2003, pp. 38-39).
E a palavra moral, de onde vem? Ela vem da palavra latina mores e significa cos­tumes e hábitos. Na morada, os seus habitantes têm costumes, tradições, manei­ras e jeitos de organizar as refeições, as reuniões, as festas etc. Os gregos também chamavam a isso de ethos, só que escrito com a letra eta (o e curto). Como observa Boff (2003, p. 40), os homens medie­vais não eram tão sutis como os gregos e usavam a pala­vra moral indiscriminada­mente tanto para os usos e costumes quanto para os prin­cípios que os moldavam. Con­tudo, eles faziam uma distinção entre uma filosofia moral e uma moral prática, ao molde dos gregos; os mais cultos assim o faziam.
A compreensão destas diferenças é de suma importância. O uso corriqueiro da pa­lavra pode esvaziar o seu real significado. O uso desmedido cria um tipo de abuso. O abuso acaba desgastando o que não pode ser desgastado, em nenhuma hipótese. Urgentemente, é preciso recuperar o sentido real da palavra ética, pois ela deve cumprir seu papel como fator de preservação da vida e da paz na Terra. Boff (2003, p. 41) dá um bom exemplo de um uso abusivo das pala­vras ética e moral:
A partir desta compreensão estaríamos habilitados a ajuizar as várias éti­cas e morais existentes nas culturas mundiais. Restringimo-nos à mais vi­gente e hege­mônica hoje, à ética e à moral capitalistas. A ética capitalista diz: bom é o que per­mite acumular mais com menos investimentos e em menos tempo possível. A mo­ral capitalista concreta reza: empregar menos gente possível, pagar menos salários e impostos e explorar melhor a natu­reza para acumular mais meios de vida e ri­queza.
Um rápido exercício de imaginação: como seria a residência de pessoas, que tives­sem costumes (mores) tão mesquinhos? Um microcosmo com tais características tem tudo para produzir caracteres humanos (ethos) do mesmo tipo. Não tem? Essa casa teria imensas dificuldades para sobreviver por muito tempo e o tempo da sobrevivência seria um tempo de guerra. Como é possível imaginar que no macrocosmo, o nosso planeta Terra, a sobrevivência pacífica da huma­nidade pode acontecer com essa “ética” e essa “mo­ral”? A realidade, ao que tudo indica, parece corroborar tal impossibilidade. Boff (2003, p. 41) considera essa “uma das razões, nada irrelevante, da grave crise atual, crise de valores, crise de uma visão mais humanitária e generosa da vida, crise de ótica que gera uma crise de ética”. A mesquinhez é a marca do nosso tempo, é só observar como se divide a da riqueza em todos os países, incluindo o Brasil.
Ervin Laslo (2006, p. 45) discorre sobre a necessidade de se construir uma ética planetá­ria; “trata-se de um imperativo do nosso tempo”. Para ele, além da moralidade particular (ética pessoal) e da moralidade pública (ética compartilhada no grupo étnico ou nação), existe ainda uma moralidade universal (ética planetária). Ele avalia que chegou a hora de dedi­car atenção especial à construção de uma ética que possa ser adotada por indivíduos de todas as religiões, raças, sexos e convicções, e pontua as dificuldades dessa nova cons­trução:
Como, nos países comunistas, os ideais igualitários de Marx, Lênin e Mao fa­lharam na prática, a mais alta expressão da ética no dia-a-dia, para a maior parte da humanidade, vem sendo o liberalismo – herança conceitual de Bentham, Locke, Hume e da escola clássica de filósofos britânicos. Aqui, ética e moralidade não têm base objetiva: as ações humanas são funda­mentadas no interesse próprio, no má­ximo moderadas pela solidariedade altruísta (...) “Viva e deixe viver” é o princípio li­beral. Você pode viver como quiser, desde que não infrinja a lei (Laslo, 2006, pp. 47-48).
Ele considera que, nos dias de hoje, o liberalismo contribui para um tipo complicado de tolerância. Deixar que cada pessoa viva como quiser, desde que seguindo a lei, pode apresentar grandes riscos. Os ricos podem, por exemplo, cor­retamente dentro da lei, con­sumir um pedaço desproporcional de recursos aos quais os pobres também têm direito, criando com isso danos irreversíveis ao meio am­biente, o que, de fato, já está ocorrendo. A observância da lei não pode ser o único parâmetro para a humanidade. Então, tentando resolver esta questão, Laslo ( 2006, p. 48) propõe o seguinte:
Em vez de “viver e deixar viver”, precisamos de uma ética planetária que seja tão intuitivamente significativa e instintivamente atraente quanto à ética do libera­lismo, porém mais bem adaptada às condições do planeta. Tal ética substituiria o “Viva e deixe viver”, do liberalismo, pelo “Viva mais simplesmente, para que outros possam simplesmente viver”, de Ghandi (...) Não deve ser excedida a capacidade que tem o planeta de su­prir as necessidades de seus habitantes. Então, a ética planetária de que precisamos é mais bem definida assim: Viva de modo que os outros tam­bém possam viver.
A necessidade de construir uma ética para o planeta Terra é de extrema impor­tância e sua relevância para a própria sobrevivência da humanidade é in­questionável. A busca desenfreada por riqueza e poder, numa tentativa torta e míope de se diferenciar no meio dos seres humanos, dificulta a convivência harmoniosa entre todos os homens e destes com os demais seres do planeta. A humanidade, acompanhada por todos os outros seres, já não pode se dar ao luxo de esperar pelo futuro, pois a humanidade e a vida na Terra estão em grande risco. O aquecimento global é apenas um dos exemplos da tragédia contemporânea. Neste momento, a tarefa de corrigir os rumos cabe a toda humanidade e não apenas àqueles que têm poder.
Também como Laslo, Boff defende, em Saber Cuidar: Ética do Humano – Compai­xão pela Terra, a construção de uma ética planetária. Para ele, a casa hu­mana não é mais o estado-nação, mas toda a Terra e “urge modelá-la de tal forma que tenha sustentabili­dade para modelar um novo sonho civilizacional”. Há que se fundar um novo ethos para permitir uma convivência nova entre os homens e destes com todos os demais seres. A nova ética deverá nascer da essência, da natu­reza mais profunda do ser humano. Ocorre que a essência do homem está mais no cuidado, na compaixão, do que na razão e na vontade. Há que se resgatar a essên­cia do humano.

Referências
BOFF, Leonardo. Ética e moral: a busca os fundamentos. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2003.
______. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1999.
GALLO, Zildo. Ethos, a grande morada humana: economia, ecologia e ética. Itu, SP: Ottoni Editora, 2007.
LASLO, Ervin. A necessidade de uma ética planetária. In: MAGALHÃES, Dulce (org.). A paz como caminho. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 2006.


sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Cântico das criaturas: uma volta à natureza na Carta do Papa Francisco

ZILDO GALLO


Com a Lettera Enciclica Laudato Si' del Santo Padre Francesco sulla Cura della Casa Comune (Carta Encíclica Laudato Si' do Papa Francisco sobre o Cuidado da Casa Comum), o Papa Francisco lançou uma visão de ecologia integral, que enxerga todos os seres, humanos e não humanos, indistintamente, interligados e se movimentando. A visão antropocêntrica que afastou o ser humano da natureza e colocou-o como dominador sobre os demais, não como um convivente, precisa ser superada e, neste sentido, a Encíclica papal é muito bem vinda, já que ela coloca a vida no centro de tudo. Ela é biocêntrica na sua essência. Todavia, para se compreender melhor a questão, é conveniente um retorno rápido no tempo, bem rápido, para se entender a evolução do antropocentrismo predominante.
Em particular no período pré-socrático, os gregos da antiguidade olhavam para a natureza e a viam tomada por deuses. Toda a natureza e todos os fenômenos naturais eram manifestações divinas. Com o avanço da ciência, particularmente a partir da revolução científica, que acontece em seguida ao Renascimento, e do Iluminismo (movimento filosófico do século XVIII), a natureza perdeu definitivamente a sua sacralidade, que vinha sendo lentamente deteriorada desde os tempos da Grécia clássica, pós-Sócrates. Do século XIX para diante, até os dias de hoje, a natureza foi totalmente dessacralizada. A partir do filósofo francês René Descartes (1596-1650), que pôs Deus fora da natureza e distante dos homens, a natureza tornou-se o que é hoje, um estoque de matérias primas a ser explorado, bem ao gosto do capitalismo em expansão. Para ele a vida consistia em três entidades separadas: um corpo mecânico, um espírito pensante e, acima, o espírito de Deus.
Com Descartes, o espírito pensante dos seres humanos estava livre para se apropriar da natureza e ele o fará com todas as suas forças, pois estava liberado para tanto. Assim, consolidou-se com Descartes o movimento antropocêntrico iniciado no Renascimento. Então, a Terra, com todos os seres nela existentes, tornou-se em definitivo propriedade dos homens. Tornou-se propriedade definitiva de todos os homens? Não, só daqueles que tinham poder e riqueza acumulada para explorá-la. Naqueles tempos os ricos e poderosos residiam em alguns países europeus, com destaque para a Inglaterra, Espanha, Portugal, Holanda e França.
Spinoza, um filósofo contemporâneo de Descartes, por sua vez, combina em uma só as três entidades. Deus não está acima de nós, mas dentro de cada um de nós. O corpo, a inteligência e o espírito são três aspectos de uma realidade única. O mundo é o corpo de Deus, o pensamento que o contempla é a Sua inteligência, e a energia que o movimenta é o Seu espírito. Deus é tudo: a substância, a ideia e o movimento do mundo. Nós humanos e todos os seres, incluindo os menores e até os mais "insignificantes", participamos igualmente da divina essência. Podemos chamar isso de biocentrismo, em contraposição ao antropocentrismo cartesiano; o centro é toda a vida e não apenas a vida dos homens. Ao contrário da visão cartesiana, a espinosiana não triunfará.
Por que as ideias de Spinoza não tiveram a mesma projeção que as cartesianas? Por que o Ocidente aceitou tão facilmente a ideia da separação? O fato de Baruch de Spinoza ser filho de judeus em um mundo cristão pode ter contribuído para tanto, trata-se de uma considerável possibilidade. Contudo, o pensamento cartesiano estava em melhor acordo com o mundo que surgia da Idade Média, pragmático e centrado na ciência, pronto para dominar a natureza e colocá-la a serviço das forças produtivas em expansão, do capitalismo em expansão. Então, o antropocentrismo vitorioso legitimará em definitivo a capacidade humana de dominar a natureza, preparando o caminho para a primeira Revolução Industrial e para toda a posterior expansão do capitalismo industrial em nível mundial, que ainda continua, apesar de todas as recorrentes crises, com a permanente superexploração da natureza que o caracteriza.
Hoje, 2015, com o gigantesco processo de urbanização, decorrente da industrialização e da "modernização da agricultura", a famosa e festejada "revolução verde" (responsável pela derrubada das florestas, pelo envenenamento e empobrecimento do solo, pela morte dos animais, pela poluição e escassez das águas etc.),  o ser humano afastou-se quase que por completo da natureza, tornando-se muito ignorante dos seus processos, do seus ciclos. No atual estágio de degradação ambiental, os homens e mulheres estão sendo chamados a uma grande tarefa: mudarem da situação de exploradores para a de cuidadores, de jardineiros da criação. É preciso recuperar o que foi destruído e preservar o que ainda existe, garantindo a existência de meios de vida para as gerações futuras de todos os seres vivos, não apenas dos humanos, rompendo definitivamente com a visão antropocêntrica e caminhando para uma visão centrada em toda vida, biocêntrica.
Assim, é necessária a redescoberta da natureza pela maioria dos seres humanos. Para tanto, em função da imensa separação em relação ao mundo natural e da também imensa ignorância sobre os fenômenos naturais, faz-se necessária uma "alfabetização ecológica". Ensinar o saber  ecológico precisa tornar-se o maior papel da educação no século XXI. A alfabetização ecológica precisa transformar-se num tipo de obrigação para políticos, empresários, religiosos e profissionais de todas as áreas, com destaque para os professores. Ela deve tornar-se uma preocupação central da educação em todos os seus níveis - fundamental, médio, universitário e profissionalizante. É tarefa urgente, pois se trata da preservação da vida humana com qualidade e também dos demais seres que viajam conosco na nave-mãe Terra.
Então, no sentido de contribuir para a redescoberta da natureza, com a necessária alfabetização ecológica, neste ainda início do século XXI, em maio de 2015, o Papa Francisco, na sua "Carta Encíclica Laudato Si’ – Sobre o Cuidado da Casa Comum", colocou á luz do dia a sua visão biocêntrica do mundo de uma forma muito sábia e amorosa, tomando como ponto de partida a visão de mundo de São Francisco de Assis (1182-1226), que tinha um olhar amoroso para com a natureza, com todas as suas criaturas. No introito da Carta, o Papa cita o "Cântico das Criaturas", de São Francisco de Assis, lembrando que ele comparava a Terra ora como uma irmã nossa, ora como uma boa mãe, que nos segura nos seus braços. Conforme o Sumo Pontífice, crescemos pensando que éramos os donos da natureza e passamos a saqueá-la com violência. Para ele, a violência que está no coração humano "vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos". Assim, os homens esqueceram-se de que são terra, que os seus corpos são constituídos pelos elementos químicos do planeta e que respiram o seu ar e bebem da sua água.
Para que fique cristalina aos olhos, corações e mentes dos leitores deste pequeno artigo, a visão de mundo de São Francisco de Assis e o porquê de ela ser surpreendentemente contemporânea, a ponto de, mais que merecidamente, inspirar a Carta Encíclica do Papa, reproduzo abaixo o seu poema:

Cântico das Criaturas
Altíssimo, Omnipotente, Bom Senhor
Teus são o Louvor, a Glória,
a Honra e toda a Bênção.
Louvado sejas, meu Senhor,
com todas as Tuas criaturas,
especialmente o senhor irmão Sol,
que clareia o dia e que,
com a sua luz, nos ilumina.
Ele é belo e radiante,
com grande esplendor;
de Ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã Lua e pelas estrelas,
que no céu formaste, claras.
preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor.
pelo irmão vento,
pelo ar e pelas nuvens,
pelo sereno
e por todo o tempo
em que dás sustento
às Tuas criaturas.
Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã água, útil e humilde,
preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor,
pelo irmão fogo,
com o qual iluminas a noite.
Ele é belo e alegre,
vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor,
pela nossa irmã, a mãe terra,
que nos sustenta e governa,
produz frutos diversos,
flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor,
pelos que perdoam pelo Teu amor
e suportam as enfermidades
e tribulações.
Louvado sejas, meu Senhor,
pela nossa irmã, a morte corporal,
da qual homem algum pode escapar.
Louvai todos e bendizei o meu Senhor!
Dai-Lhe graças e servi-O
com grande humildade!

São Francisco de Assis (http://www.paroquias.org/oracoes/?o=133)

Referências
GALLO, Zildo. Ethos, a grande morada humana: economia, ecologia e ética. Itu, SP: Ottoni Editora, 2007.
PAPA FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si' - Sobre o Cuidado da Casa Comum. São Paulo: Paulinas, 2015.


A QUE VIM