quinta-feira, 16 de julho de 2015

Nada de venenos: um pouco sobre a agricultura orgânica

Zildo Gallo


Aqui no meu blog, eu escrevi dois artigos sobre agroecologia com os seguintes títulos: "Guerrilha agroecológica" e "Guerrilha agroecológica 2". Por que a expressão guerrilha agroecológica? Por um simples motivo: a população do planeta e toda a natureza estão sendo envenenadas e maltratadas pelo agronegócio, que tem buscado com exclusividade a maximização do seu lucro, seu principal objetivo, enquanto divulga a fala hipócrita de que está combatendo a fome no mundo. A fome no mundo persiste com muita força e a natureza, por sua vez, tem vivido um aumento expressivo do seu estado de deterioração. Como exemplo de deterioração, podemos citar  a destruição das florestas brasileiras (Mata Atlântica, Cerrado, Amazônia etc.) para a criação de gado e o plantio de commodities (soja, milho, cana-de-açúcar etc.) para a exportação. Para mudar esse quadro é preciso muita paciência e muito argumento e, assim, aos poucos, vai-se ganhando corações e mentes para as causas ambientais e da alimentação segura, como num processo de guerrilha, que começa num pequeno foco e a partir daí se expande até atingir a maioria.
Na verdade, quem produz alimentos para a população brasileira não é o agronegócio, mas a agricultura familiar, que se faz representar pela imensa quantidade de pequenas propriedades espalhadas por todo país. Ocorre que muitos pequenos produtores também acabaram por adotar a "revolução verde", por conta de políticas governamentais equivocadas, que remontam o período dos "anos de chumbo", da ditadura militar, e do assédio das grandes corporações internacionais de insumos agrícolas, com toda sua parafernália química (venenos e fertilizantes químicos), que propunha acabar com a fome do planeta, o que, de fato, não ocorreu, como já foi dito acima. Assim, a expressão "guerrilha ecológica" faz muito sentido, pois se trata de enfrentar inimigos poderosos com poucas armas, todavia poderosas, já que se fundamentam no conhecimento sobre a natureza, sobre a vida na Terra. A agroecologia assenta-se sobre os processos naturais (ecológicos) e não sobre os insumos artificiais produzidos pela agroindústria.
Então, de forma bem simples, pretendo neste artigo passar algumas informações bem rápidas sobre como o consumidor pode, pela sua opção por produtos orgânicos, contribuir para o avanço da agroecologia e para preservação e recuperação da natureza degradada. Alguns consumidores podem dizer que os produtos orgânicos são mais caros e, hoje, eles têm razão. A massificação do consumo e o aumento expressivo (tem que ser expressivo) do número de produtores implicarão na queda dos preços dos produtos agrícolas, com certeza, é uma questão de tempo apenas; precisa acontecer.
Para ser o mais claro e o mais simples possível, lancei mão das informações constantes na cartilha ilustrada pelo cartunista e escritor Ziraldo para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. No ano de 2009, o Ministério produziu a cartilha "O olho do consumidor" para divulgar o novo selo para produtos orgânicos. Contudo, diante da possibilidade de ter os seus interesses contrariados, a empresa Monsanto, fabricante de agrotóxicos e de sementes transgênicas, conseguiu, através da justiça, embargar a sua distribuição, que seria naquele momento de 620 mil exemplares. Com a proibição, muitos defensores da agricultura orgânica passaram a divulgá-la pela internet. Acredito que, de lá até hoje, a divulgação pelo meio eletrônico tem sido eficiente, muito mais eficiente que a divulgação através das cartilhas impressas. No meu blog eu divulgo a cartilha no artigo "Guerrilha agroecológica". Então, comecemos do início, pelo entendimento do que são os produtos orgânicos:
·    Os produtos orgânicos são sempre produzidos com a preocupação primeira de não prejudicar o meio ambiente, pois ela acontece sem destruir os recursos naturais (água, solo e matas);
·   Os produtores valorizam as espécies de plantas e animais da nossa natureza, de cada um dos nossos ecossistemas (Mata Atlântica, Cerrado, Amazônia etc.);
·      Todos os trabalhadores que participam da sua produção devem ter condições dignas de trabalho e remuneração adequada que lhes garantam boas condições de vida em sociedade;
·     O solo deve ser protegido dos desgastes infringidos pela produção contínua e sempre deve manter as suas condições sanitárias preservadas; a biodiversidade de insetos e micro-organismos é um bom sinal da sanidade do solo (solo saudável produz plantas saudáveis);
·    O produtor que opta pela agricultura orgânica também não pode cultivar transgênicos, pois eles sempre põem em risco a enorme diversidade de variedades existentes na natureza (transgênicos são plantas e animas que sofreram a introdução de genes retirados de outras espécies por cientistas a serviço das corporações internacionais do agronegócio).
Quanto aos transgênicos, para confirmar a questão da divulgação da agricultura orgânica como uma guerra de guerrilha (cultural) eu relatei, no artigo "Guerrilha agroecológica 2: o império transgênico contra-ataca", que a Câmara dos Deputados aprovou em 28 de abril de 2015 o Projeto de Lei 4.148/08  do deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), que acaba com a obrigatoriedade de se estampar o símbolo de transgenia nos rótulos de produtos que contém organismos geneticamente modificados (OGM) destinados ao consumo humano. O texto modificou a Lei 11.105/2005 que determinava a obrigação de exibir o selo, que é representado pela letra T maiúscula dentro de um triângulo. Parte significativa do Congresso Brasileiro está a serviço do agronegócio, com seus venenos e seus transgênicos, e só um combate constante e crescente no campo das ideias para reverter essa desvantagem contra a agricultura saudável. Neste momento, o PL 4.148/08 encontra-se no Senado e é para ele que devemos dirigir o nosso embate ideológico. Caso o PL seja definitivamente aprovado, a única garantia de que não estaremos consumindo transgênicos será pelo selo de produto orgânico. Efetivamente, a sua aprovação é uma violência contra a liberdade de escolha do cidadão.
No artigo citado acima eu faço alguns questionamentos, que considero pertinentes e por isso repito-os aqui: "As informações aos consumidores têm que ser as mais fáceis e visíveis possíveis, pois a sua autonomia no processo de escolha deve ser preservada durante todo o tempo. Por que os representantes do agronegócio se arvoram no direito de dificultar as informações aos consumidores? Do que eles têm medo? Não confiam na qualidade dos OGM? Ao contrário deles, os defensores dos produtos orgânicos fazem questão de estampar o selo Produto Orgânico Brasil, por que será?"
Só para exemplificar a seriedade da questão, relato aqui uma experiência vivida por mim há poucos dias no Makro Atacadista, em Campinas (SP). Enquanto procurava óleo de cozinha, notei que todas as embalagens, de todas as marcas, de óleo de soja estampavam com o triângulo da transgenia. Pensei: "olha a gravidade de se retirar o selo!" Comprei óleo de canola, como já havia planejado anteriormente. Só compro derivados de soja que sejam orgânicos (com selo), pois o risco de que sejam transgênicos é muito alto, o mesmo acontece com o milho e seus derivados, nos dias de hoje.
Para um produto ser efetivamente orgânico, é expressamente proibido o uso de agrotóxicos de qualquer tipo que possam contaminar os alimentos e o meio ambiente. Dessa maneira, os venenos não passarão para os organismos das pessoas que produzem e consomem produtos orgânicos, como acontece no caso da agricultura convencional, aquela praticada com maior ênfase pelo agronegócio, com o incentivo das grandes empresas agroquímicas. Alguns produtos são muito contaminados por venenos, como nos casos do tomate e do morango (veja meu artigo "O sapo e os morangos", neste blog).
Os consumidores quando optam pelos orgânicos contribuem para manter a sua saúde e a dos agricultores, para preservar o meio ambiente e para melhorar a qualidade de vida dos pequenos produtores rurais, que terão seus produtos valorizados numa prática de comércio justo, onde todos ganham (consumidores e produtores) e não só os grandes atravessadores, como geralmente acontece na agricultura convencional, aquela baseada nos insumos agroquímicos (venenos e fertilizantes).
Para que os consumidores saibam se os produtos são orgânicos ou não, o governo federal criou um sistema oficial de controle. A partir de 2010, todo produto orgânico, exceto aqueles vendidos diretamente pelos agricultores familiares estão sendo vendidos com o selo SISORG - Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica. Veja o selo abaixo.


Na cartilha do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento são apresentados detalhes sobre as exigências para que um produto seja considerado orgânico e sobre os vários processos de certificação dos produtores. Não acho necessário registrar tais detalhes aqui. Para tanto acesse o endereço <http://www.redezero.org/cartilha-produtos-organicos.pdf>. Caso você encontre dificuldades para conseguir a cartilha, solicite-me pelo e-mail zildogallo@gmail.com, que prontamente enviarei.
É possível encontrar produtos orgânicos verdadeiros que são vendidos sem o selo SISORG. Produtores da agricultura familiar podem fornecê-los em feiras, pequenos mercados ou entregá-los nas residências. A garantia de que são verdadeiramente orgânicos dá-se pelo vínculo a uma Organização de Controle Social (OCS) cadastrada nos órgãos do governo. A OCS pode ser uma associação, uma cooperativa ou consórcio de produtores que seja capaz de cuidar do cumprimento das regras da produção orgânica. O consumidor, por sua vez, tem o direito de saber o que está comprando, quem produziu e a que OCS ele está ligado. Tais informações devem estar disponíveis ao consumidor.

Alimente-se bem! Nada de venenos!

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