Zildo Gallo
Aqui
no meu blog, eu escrevi dois artigos sobre agroecologia com os seguintes
títulos: "Guerrilha agroecológica" e "Guerrilha agroecológica 2".
Por que a expressão guerrilha
agroecológica? Por um simples motivo: a população do planeta e toda a
natureza estão sendo envenenadas e maltratadas pelo agronegócio, que tem buscado
com exclusividade a maximização do seu lucro, seu principal objetivo, enquanto divulga
a fala hipócrita de que está combatendo a fome no mundo. A fome no mundo
persiste com muita força e a natureza, por sua vez, tem vivido um aumento expressivo
do seu estado de deterioração. Como exemplo de deterioração, podemos citar a destruição das florestas brasileiras (Mata
Atlântica, Cerrado, Amazônia etc.) para a criação de gado e o plantio de
commodities (soja, milho, cana-de-açúcar etc.) para a exportação. Para mudar
esse quadro é preciso muita paciência e muito argumento e, assim, aos poucos, vai-se
ganhando corações e mentes para as causas ambientais e da alimentação segura,
como num processo de guerrilha, que começa num pequeno foco e a partir daí se
expande até atingir a maioria.
Na
verdade, quem produz alimentos para a população brasileira não é o agronegócio,
mas a agricultura familiar, que se faz representar pela imensa quantidade de
pequenas propriedades espalhadas por todo país. Ocorre que muitos pequenos
produtores também acabaram por adotar a "revolução verde", por conta
de políticas governamentais equivocadas, que remontam o período dos "anos
de chumbo", da ditadura militar, e do assédio das grandes corporações internacionais
de insumos agrícolas, com toda sua parafernália química (venenos e
fertilizantes químicos), que propunha acabar com a fome do planeta, o que, de
fato, não ocorreu, como já foi dito acima. Assim, a expressão "guerrilha
ecológica" faz muito sentido, pois se trata de enfrentar inimigos
poderosos com poucas armas, todavia poderosas, já que se fundamentam no
conhecimento sobre a natureza, sobre a vida na Terra. A agroecologia assenta-se
sobre os processos naturais (ecológicos) e não sobre os insumos artificiais
produzidos pela agroindústria.
Então,
de forma bem simples, pretendo neste artigo passar algumas informações bem
rápidas sobre como o consumidor pode, pela sua opção por produtos orgânicos,
contribuir para o avanço da agroecologia e para preservação e recuperação da
natureza degradada. Alguns consumidores podem dizer que os produtos orgânicos
são mais caros e, hoje, eles têm razão. A massificação do consumo e o aumento
expressivo (tem que ser expressivo) do número de produtores implicarão na queda
dos preços dos produtos agrícolas, com certeza, é uma questão de tempo apenas;
precisa acontecer.
Para
ser o mais claro e o mais simples possível, lancei mão das informações
constantes na cartilha ilustrada pelo cartunista e escritor Ziraldo para o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. No ano de 2009, o
Ministério produziu a cartilha "O
olho do consumidor" para divulgar o novo selo para produtos orgânicos.
Contudo, diante da possibilidade de ter os seus interesses contrariados, a
empresa Monsanto, fabricante de agrotóxicos e de sementes transgênicas,
conseguiu, através da justiça, embargar a sua distribuição, que seria naquele
momento de 620 mil exemplares. Com a proibição, muitos defensores da
agricultura orgânica passaram a divulgá-la pela internet. Acredito que, de lá
até hoje, a divulgação pelo meio eletrônico tem sido eficiente, muito mais
eficiente que a divulgação através das cartilhas impressas. No meu blog eu
divulgo a cartilha no artigo "Guerrilha agroecológica". Então,
comecemos do início, pelo entendimento do que são os produtos orgânicos:
· Os produtos
orgânicos são sempre produzidos com a preocupação primeira de não prejudicar o
meio ambiente, pois ela acontece sem destruir os recursos naturais (água, solo
e matas);
· Os produtores
valorizam as espécies de plantas e animais da nossa natureza, de cada um dos
nossos ecossistemas (Mata Atlântica, Cerrado, Amazônia etc.);
· Todos os
trabalhadores que participam da sua produção devem ter condições dignas de
trabalho e remuneração adequada que lhes garantam boas condições de vida em
sociedade;
· O solo deve ser
protegido dos desgastes infringidos pela produção contínua e sempre deve manter
as suas condições sanitárias preservadas; a biodiversidade de insetos e
micro-organismos é um bom sinal da sanidade do solo (solo saudável produz
plantas saudáveis);
· O produtor que
opta pela agricultura orgânica também não pode cultivar transgênicos, pois eles
sempre põem em risco a enorme diversidade de variedades existentes na natureza
(transgênicos são plantas e animas que sofreram a introdução de genes retirados
de outras espécies por cientistas a serviço das corporações internacionais do
agronegócio).
Quanto aos transgênicos, para confirmar a questão da divulgação da
agricultura orgânica como uma guerra de guerrilha (cultural) eu relatei, no
artigo "Guerrilha agroecológica 2: o império transgênico
contra-ataca", que a Câmara dos Deputados aprovou em 28 de abril de 2015 o
Projeto
de Lei 4.148/08 do deputado Luis Carlos
Heinze (PP-RS), que acaba com a obrigatoriedade de se estampar o símbolo de transgenia
nos rótulos de produtos que contém organismos geneticamente modificados (OGM)
destinados ao consumo humano. O texto modificou a Lei 11.105/2005 que
determinava a obrigação de exibir o selo, que é representado pela letra T maiúscula dentro de um triângulo.
Parte significativa do Congresso Brasileiro está a serviço do agronegócio, com
seus venenos e seus transgênicos, e só um combate constante e crescente no
campo das ideias para reverter essa desvantagem contra a agricultura saudável.
Neste momento, o PL 4.148/08 encontra-se no Senado e é para ele que devemos
dirigir o nosso embate ideológico. Caso o PL seja definitivamente aprovado, a
única garantia de que não estaremos consumindo transgênicos será pelo selo de
produto orgânico. Efetivamente, a sua aprovação é uma violência contra a
liberdade de escolha do cidadão.
No artigo citado acima eu faço alguns questionamentos, que considero
pertinentes e por isso repito-os aqui: "As
informações aos consumidores têm que ser as mais fáceis e visíveis possíveis,
pois a sua autonomia no processo de escolha deve ser preservada durante todo o
tempo. Por que os representantes do agronegócio se arvoram no direito de
dificultar as informações aos consumidores? Do que eles têm medo? Não confiam
na qualidade dos OGM? Ao contrário deles, os defensores dos produtos orgânicos
fazem questão de estampar o selo Produto
Orgânico Brasil, por que será?"
Só para exemplificar a seriedade da questão, relato aqui uma experiência
vivida por mim há poucos dias no Makro Atacadista, em Campinas (SP). Enquanto
procurava óleo de cozinha, notei que todas as embalagens, de todas as marcas,
de óleo de soja estampavam com o triângulo da transgenia. Pensei: "olha a
gravidade de se retirar o selo!" Comprei óleo de canola, como já havia
planejado anteriormente. Só compro derivados de soja que sejam orgânicos (com
selo), pois o risco de que sejam transgênicos é muito alto, o mesmo acontece
com o milho e seus derivados, nos dias de hoje.
Para
um produto ser efetivamente orgânico, é expressamente proibido o uso de
agrotóxicos de qualquer tipo que possam contaminar os alimentos e o meio
ambiente. Dessa maneira, os venenos não passarão para os organismos das pessoas
que produzem e consomem produtos orgânicos, como acontece no caso da
agricultura convencional, aquela praticada com maior ênfase pelo agronegócio,
com o incentivo das grandes empresas agroquímicas. Alguns produtos são muito contaminados
por venenos, como nos casos do tomate e do morango (veja meu artigo "O
sapo e os morangos", neste blog).
Os
consumidores quando optam pelos orgânicos contribuem para manter a sua saúde e
a dos agricultores, para preservar o meio ambiente e para melhorar a qualidade
de vida dos pequenos produtores rurais, que terão seus produtos valorizados
numa prática de comércio justo, onde todos ganham (consumidores e produtores) e
não só os grandes atravessadores, como geralmente acontece na agricultura convencional,
aquela baseada nos insumos agroquímicos (venenos e fertilizantes).
Para
que os consumidores saibam se os produtos são orgânicos ou não, o governo
federal criou um sistema oficial de controle. A partir de 2010, todo produto
orgânico, exceto aqueles vendidos diretamente pelos agricultores familiares
estão sendo vendidos com o selo SISORG - Sistema Brasileiro de Avaliação da
Conformidade Orgânica. Veja o selo abaixo.
Na
cartilha do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento são
apresentados detalhes sobre as exigências para que um produto seja considerado
orgânico e sobre os vários processos de certificação dos produtores. Não acho
necessário registrar tais detalhes aqui. Para tanto acesse o endereço <http://www.redezero.org/cartilha-produtos-organicos.pdf>. Caso você encontre
dificuldades para conseguir a cartilha, solicite-me pelo e-mail zildogallo@gmail.com, que
prontamente enviarei.
É
possível encontrar produtos orgânicos verdadeiros que são vendidos sem o selo
SISORG. Produtores da agricultura familiar podem fornecê-los em feiras, pequenos
mercados ou entregá-los nas residências. A garantia de que são verdadeiramente
orgânicos dá-se pelo vínculo a uma Organização de Controle Social (OCS) cadastrada
nos órgãos do governo. A OCS pode ser uma associação, uma cooperativa ou
consórcio de produtores que seja capaz de cuidar do cumprimento das regras da
produção orgânica. O consumidor, por sua vez, tem o direito de saber o que está
comprando, quem produziu e a que OCS ele está ligado. Tais informações devem
estar disponíveis ao consumidor.
Alimente-se
bem! Nada de venenos!
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