terça-feira, 6 de maio de 2025

TRAMA NATURAL

 ZILDO GALLO

 

Foto: Fábio Durand/EPUSP

 

Num salto bem ligeiro,

Salvei o filhote bem-te-vi

Do ataque do teiú certeiro.

Uns reprovariam:

Interferiu na trama da natureza.

Outros apoiariam:

Salvou o frágil passarinho, que beleza!

Eu digo:

Também sou natureza

E é da minha natureza,

Com toda certeza,

A compaixão e a empatia.

É só isso... fiz com alegria.

O lagarto buscou outra refeição

E o bem-te-vi me agradeceu,

No seu pequenino coração:

Bem te vi! Bem te vi!

Também eu bem que te vi...

 


 

quinta-feira, 1 de maio de 2025

TRÊS POEMAS AO ACASO

 ZILDO GALLO

 


 ANDARILHAR

 

Enquanto a vida erra

Zanzando pela terra

De sossego em sossego

De guerra em guerra

Entre o vale e a serra

Entre a selva e o deserto

Entre a morada e o relento

Entre o alarido e o silêncio

Entre a dor e a alegria

Entre a espera e a esperança

Entre a vida e a morte

Cadê o sentido?

O sentido é a caminhada

Andarilhos que somos...

 

PREDOMÍNIO

 

Enquanto predomina o capital

Predomina todo mal

Disfarçado em benesses

Em prazeres e quereres

Ilusão imediata na matéria

Que sobre a vida impera

Que sobre o espírito opera

Mas que dia após dia

Envelhece e apodrece

E o espírito clama por asas

Para livre poder voar

Para livre poder sonhar

 

O VOO DA SERPENTE

 

Rasteja a serpente

Sem pernas para caminhar

Sem asas para voar

Rasteja e se esconde

Sua sina é se esconder

Em silêncio transitar

Nas sombras de um mundo

Que lhe é hostil

A sombra é o seu domínio

A luz seu infortúnio

Toda sombra nos assusta

Toda serpente também

A serpente não pode

E não deve voar

Não nos assustemos

Com o voo da serpente

 

 

TRAMA NATURAL