sexta-feira, 25 de novembro de 2016

É JUSTO? (10)

Zildo Gallo

Garimpar imagens na imensidão da internet e observá-las pode ser um bom exercício para compreender o mundo nos dias de hoje. Muitas vezes as imagens falam por si mesmas, como nas fotografias de Sebastião Salgado, mas elas podem (servem) para ilustrar crônicas e poemas como é o caso do meu poema "Dia de pescaria". Uma imagem pode ajudar na compreensão de textos, pode? Ela pode falar mais que os textos. À imagem e ao poema!


Dia de pescaria

Alegrias!
Hoje é dia de pescaria
De buscar o meu sustento
No desembocar do sólido fluxo
Resíduo de estranho cheiro
A jusante
Um efluente
Da sociedade afluente
As sobras das gentes ricas
Longe das vistas sistemáticas
Estáticas
Do consumo que se consome
Que a todos consome.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

É JUSTO? (9)

Zildo Gallo

Garimpar imagens na imensidão da internet e observá-las pode ser um bom exercício para compreender o mundo nos dias de hoje. Muitas vezes as imagens falam por si mesmas, como nas fotografias de Sebastião Salgado, mas elas podem (servem) para ilustrar crônicas e poemas como é o caso do meu poema Fuga ao incerto. Uma imagem pode ajudar na compreensão de textos, pode? Ela pode falar mais que os textos. À imagem e ao poema!


FUGA AO INCERTO

Pegar a nau
Para um futuro
Milhas náuticas
Muitas milhas
Uma fuga do nada
Miserável nada
Violento nada
Mas perto
Muito perto
Rumo ao possível
Incerto
Muito incerto
Mas longe
Muito longe

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O PEQUENO BUTÃO: UM GRANDE EXEMPLO PARA O MUNDO

Zildo Gallo

O Butão é um país pequeno da Ásia, bem pequeno mesmo, e tem sua economia baseada na agricultura, na extração florestal e na venda de energia hidroelétrica para a vizinha Índia. A agricultura, essencialmente de subsistência, e a criação de animais, são os meios de vida para 90% da sua população. Trata-se de uma economia camponesa. É considerada uma das menores e "menos desenvolvidas" economias do mundo sob o ponto de vista dos cânones do pensamento econômico contemporâneo, que enxerga a riqueza como o conjunto de bens e serviços transacionados nos mercados. Entretanto, apesar da sua visível pequenez, já há algum tempo, o Butão passou a surpreender o mundo. Um exemplo: nos idos de 2004, ele foi o primeiro país do planeta a banir o consumo público e a venda de cigarros. Não é bom isto? Alguém discorda?
Este país, com apenas cerca de 700 mil habitantes, que possui um governo calcado numa ainda recente mas já sólida monarquia constitucional, já havia surpreendido o mundo há alguns anos com a ideia do índice FIB (Felicidade Interna Bruta) em contraposição ao PIB (Produto Interno Bruto), como indicador da produção de riqueza dos países. Recentemente, ele reforçou a sua intenção de contribuir para a sustentabilidade ambiental do nosso planeta Terra. Parece muita pretensão para um "nanico", mas não é, acreditem...
           

O seu Primeiro Ministro, Jigmi Y. Thinley anunciou recentemente a instituição da Política Nacional Orgânica, que pretende transformar, até 2020, o Butão num produtor 100% orgânico. Estamos no fim de 2016, falta muito pouco tempo para que isso se consuma. Que coisa boa! Assim, o governo butanês decidiu eliminar, aos poucos, a importação de agroquímicos da Índia; um cantinho da Terra sem agrotóxicos, já é alguma coisa...
Trata-se de uma decisão bem corajosa para uma nação tão pequena, caso seja comparada à China e à Índia (1,3 bilhão e 1,2 bilhão de habitantes, respectivamente). Trata-se de um pequeno Davi cercado por dois gigantescos Golias (ver figura acima). Há que se ressaltar o pioneirismo (de novo!) do pequeno reino parlamentarista, cuja maioria dos seus habitantes pratica o Budismo com religião. Assim como muitos países têm-se inspirado no Butão para olhar para o índice FIB no sentido de enxergar os limites do PIB (indicador de aspecto meramente quantitativo) como marcador da riqueza nacional, eles poderiam bem refletir a respeito da conversão de seus cultivos para métodos mais sustentáveis, adotando a prática da agroecologia.
Todavia, parece que o pequeno Davi está fazendo escola. Recentemente, no Ocidente, a rica Dinamarca, um país com padrões excelentes de vida, também resolveu abolir a agricultura tradicional, baseada no uso intensivo da química, dando como prazo também o ano de 2020. E viva a Dinamarca!
É importante ressaltar aqui nesta pequena crônica a imensa sabedoria da decisão política pela agroecologia, pois a maior parte da população butanesa é composta por camponeses que vivem do trabalho na terra. A adoção desta forma de cultivo do solo tende a fixar as pessoas no campo, já que é bem mais intensiva em trabalho que a agricultura convencional, aquela da Revolução Verde. Assim, o Butão continuará sendo caracterizado pelas pequenas e bucólicas cidades e ele só tem a ganhar com isso, continuará sendo um reino feliz.
LONGA VIDA AO REINO DO BUTÃO! VIVA A AGROECOLOGIA! ABAIXO OS TRANSGÊNICOS E OS AGROQUÍMICOS!


Thimphu, capital do Butão, ao fundo os Himalaias.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

RESENHA: Sobre "A história das coisas", agora o livro.

Zildo Gallo


Muitos leitores já devem ter visto o vídeo The Story of Stuff (A História das Coisas), que se tornou um fenômeno na internet e foi traduzido em muitos idiomas, sendo acessado por milhões de pessoas no mundo todo. O filme é um desenho animado bem curto (20 minutos) e pode ser acessado na sua versão em português no seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=MWUHurprTVA. Ele trata de como pode ser possível enfrentar os danos ambientais provocados pelo consumo humano sem limites e predatório.

Diante do sucesso extraordinário do vídeo, Annie Leonard, lúcida jornalista e cientista ambiental americana, produziu o livro A história das coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que consumimos. O seu livro foi editado no Brasil pela Zahar em 2011 e representa o trabalho incansável da autora que passou décadas rastreando o tráfico internacional de lixo, combatendo a prática da sua incineração e estudando em profundidade a economia dos materiais em muitos países.

Annie Leonard analisa os cinco estágios da economia de materiais: extração, produção, distribuição, consumo e descarte, descrevendo os seus impactos sobre a natureza e sobre a humanidade, apontando os limites num planeta finito de uma forma de consumo que se pretende infinita. De quantos planetas Terra precisamos para atender os desejos artificialmente criados pelas corporações multinacionais nos corações e mentes dos consumidores? A resposta a esta questão é fundamental no atual estágio da história da humanidade.

Neste livro polêmico, ela aprofunda o tema do vídeo e explica detalhadamente a origem das matérias-primas e como os bens são produzidos, distribuídos, consumidos e descartados. Apesar do grande mal que a autora aponta na moderna economia de materiais, ela se apresenta de forma otimista, mostrando que está ao alcance de todos redirecionarem os rumos desse sistema econômico desperdiçador e poluidor, propondo alterações no modo extrair-fazer-descartar e também mudanças mais simples no dia a dia das pessoas, de modo a tornar o consumo de bens mais sustentável.

Sugiro para aqueles que já viram o vídeo que leiam o livro. Trata-se de leitura indispensável a todos aqueles cidadãos que estão verdadeiramente preocupados com este momento delicado da história ambiental do nosso planeta. Àqueles que ainda não viram o vídeo, sugiro que o façam e logo em seguida leiam o livro.
           
Referência

LEONARD. Annie. A história das coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que consumimos. Rio de Janeiro, Zahar, 2011.

A QUE VIM