terça-feira, 20 de outubro de 2015

A conversão de São Francisco: uma loucura divina

Zildo Gallo


São Francisco de Assis (1182-1226) é uma figura singular na história da humanidade. Ele era filho do comerciante italiano Pietro di Bernadone dei Moriconi e de Pica Bourlemont, de origem francesa. Os seus pais faziam parte da burguesia da cidade de Assis e eram tidos como ricos. O menino Francisco cresceu e se tornou um jovem muito popular entre os amigos pelas suas extravagâncias, pela paixão por aventuras, pelas roupas finas, pelo gosto pelas bebidas e por sua liberalidade com o dinheiro. Contudo, ele sempre se mostrava bondoso. Também era fascinado pelas histórias de cavalaria e desejava ganhar fama como herói. Assim, no ano de 1202, alistou-se como soldado na guerra que Assis travava contra Peruggia, quando foi capturado e permaneceu preso por cerca de um ano.
Quando libertado caiu doente, com episódios de febre que duraram quase todo o ano de 1204. Ali apareceram as afecções que o acompanhariam por toda a sua vida: problemas de visão e digestivos Em 1205, depois de recuperado, tentou novamente a carreira militar, engajando-se no exército papal que lutava contra Frederico II. Entretanto, desistiu da empreitada por conta de um sonho que o mandava de volta para casa. Assim o fez. Depois disso, em Assis, durante uma algazarra com seus amigos, teria sido tocado pela presença divina, e desde aquele momento, começou a perder o interesse por seus antigos hábitos e passou a mostrar preocupação pelos pobres e a manifestar desejo por uma vida religiosa.
Antes de adotar a via religiosa para a sua vida, Francisco viverá episódios ligados à fé e aos pobres e necessitados, mas o episódio da sua conversão definitiva é ímpar. Vale a pena relatá-lo. Certa feita ele entrou para orar na igreja de São Damião e ali ele teria ouvido a voz de Cristo, que lhe chamou a atenção para o estado de ruína da igreja e pediu-lhe para que ele a restaurasse. Então, ele voltou para sua casa, pegou diversos tecidos caros da loja do pai e os vendeu a baixos preços no mercado. Em seguida, voltou para a igreja e doou todo o dinheiro ao padre, para que ele reformasse o prédio.
Quando soube disso o pai ficou enfurecido e mandou que o buscassem. Assustado, Francisco escondeu-se em um celeiro, onde um amigo levava comida todos os dias. Passado algum tempo, ele decidiu revelar-se e, diante do povo de Assis, numa confissão pública, autoacusou-se de preguiçoso e desocupado. As pessoas acharam que ele tinha enlouquecido e divertiam-se com isso. O pai ouviu o tumulto e o levou para casa, acorrentando-o no porão.
Alguns dias depois, por compaixão, sua mãe livrou-o das correntes, e Francisco foi buscar refúgio junto ao bispo. O pai partiu atrás dele e o acusou de gastar sua fortuna, reclamando uma compensação pelo que ele havia tirado sem licença de sua loja. Então, para a surpresa geral, Francisco despiu todas as suas belas roupas e as colocou aos pés do pai, renunciando, com esse ato, a sua  herança. Depois pediu a bênção do bispo e partiu, completamente nu, para iniciar uma vida de pobreza ao lado do povo. Nunca mais retornou a sua casa. O bispo viu nesse gesto um sinal de Deus e se tornou seu protetor pelo resto da vida. Assim começou a trajetória de São Francisco de Assis.
Como há muito tempo estou ligado às questões ambientais e desde muito cedo adotei uma militância política de esquerda, por conta de uma preocupação permanente com a concentração das riquezas no mundo, São Francisco de Assis tornou-se uma referência para mim, mesmo na época (já distante) em que me considerava essencialmente materialista. Até estudei a sua biografia. Coisas do passado... Então, certa feita, em março de 2002, eu resolvi homenageá-lo com um poema, relembrando aquele momento insólito da sua conversão. Eis o poema:

À NUDEZ DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS

Quando Francisco,
Em ato de tresloucada paixão,
Livrou-se das amarras
Que ao passado lhe prendiam,
Livrou-se, também,
De histórias de duvidosa honra,
Histórias largadas ao chão,
Junto com suas vestes,
Misturadas ao pó da estrada.

E, na sua absoluta pobreza,
Tornou-se o mais rico dos homens,
Possuidor de grande tesouro
Que com todos repartia:
O amor pelas criaturas
E a compaixão pelos que sofrem.

E, desde então,
A delicada bondade
Tornou-se imbatível força
E atirar sementes aos pássaros
Um ato que nos religa
Ao espírito da criação.

Zildo Gallo, Santa Bárbara d’Oeste, SP, 07 de março de 2002

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

UMA QUESTÃO DE SENSIBILIDADE

Zildo Gallo


Num dia desses do mês de junho de 2015, passando ao lado da Catedral da Sé, na cidade de São Paulo, eu e minha companheira Claudia, vimos um garoto deitado no chão, ao lado da igreja, completamente drogado. Ele devia ter no máximo de 15 anos de idade, não mais que isso, era muito jovem. Ficamos indignados e da minha parte, naquele dia, permaneceu um incômodo que me acompanhou e por isto resolvi escrever este artigo.
A praça está tomada por viciados e a população passa por eles sem notá-los, pois eles se tornaram algo parecido com as pedras do calçamento, que são pisadas e não percebidas. São elementos da paisagem, elementos grotescos, que não merecem ser reparados, que não nos dizem respeito. Todos passam por eles, apressados (São Paulo é uma cidade apressada), e ninguém desvia o olhar, nem um pouquinho sequer, da sua trajetória, para observá-los, ainda que de relance.
Enquanto professor, nas minhas aulas, dirigidas a um público seleto de pós-graduandos (mestrado e doutorado), eu tenho repetido a mesma pergunta para cada turma nova: "quem aqui não tem nenhum membro na família que esteja na condição de usuário de drogas?" A maioria deles, às vezes a totalidade, permanece calada, em silenciosa confirmação. Eis a conclusão que cheguei há algum tempo: hoje, a toxicomania tornou-se epidêmica, espraiou-se por toda a sociedade, toda mesmo, independente da origem social de cada um dos adictos.  Ouso chamá-la de epidemia do século XXI.
Como é possível que ainda tenha tanta gente que considera o consumo de drogas como caso de polícia e não de saúde pública, como de fato ele é? Essa mudança de enfoque é mais que necessária para que se possa efetivamente dar um salto de qualidade no combate a essa epidemia, que, nos dias de hoje, atinge todos os extratos sociais, indistintamente, em todo o território nacional.

A droga é um elemento já posto para a sociedade contemporânea. Eu a considero como um aprofundamento (um mergulho nas profundezas do negativo) das características maléficas da moderna "sociedade de consumo". Neste sentido, eu reproduzo aqui o meu artigo "Keep Walking: como sutilmente o mercado produz a brevidade das coisas ou como as pessoas estão ficando cada vez mais hedonistas e individualistas" (3 de maio de 2015, neste blog), com o objetivo de deixar bem clara esta minha consideração. Ao fazê-lo, sei que corro o risco de ser considerado "careta" (conservador) pelos mais "libertários", é um risco... Ao artigo!

Keep Walking: como sutilmente o mercado produz a brevidade das coisas ou como as pessoas estão ficando cada vez mais hedonistas e individualistas

Zildo Gallo

No meu artigo "O roubo da bola de capotão", neste blog, eu falei sobre a criação contínua de desejos na economia de mercado dos dias de hoje. O lançamento de novos produtos todos os anos, tornando os anteriores "obsoletos", tornou-se a forma de ser do mercado. Criou-se uma orgia consumista que envolve uma complexa estrutura de marketing e propaganda a serviço da indústria. Praticamente a grande maioria da propaganda foca nos prazeres imediatos como forma de apelo às compras; os apelos de caráter erótico são bons exemplos disso (existe apelo mais imediato que esse?).
Há algumas décadas os meios de comunicação associados aos marqueteiros têm plasmado sub-repticiamente a ideia de que devemos consumir rápido, tirando o máximo proveito dos bens de consumo hoje, pois novos estão por vir num futuro próximo. No mercado da informática isso fica muito claro, pois ficamos sempre correndo atrás dos lançamentos todos os anos. Na indústria da moda isso virou rotina há muito tempo, há muitas décadas, e as coleções são lançadas ano a ano, conforme as estações do ano, ininterruptamente.
Tamanho massacre midiático não poderia deixar de produzir estragos comportamentais nos consumidores. Os mais jovens, que já nasceram dentro desse esquema tendem a viver na superfície e no imediatismo. A busca do prazer imediato tornou-se algo normal, tornou-se a forma de ser das novas gerações. O mercado está produzindo um ser humano essencialmente hedonista: viver significa buscar o máximo prazer, o tempo todo e em todo lugar. É óbvio que isso não é possível, a vida não é assim, não é um banquete orgiástico permanente.
Um bom exemplo disso é o incentivo ao consumo de bebidas alcoólicas. Já notaram que as propagandas de cerveja são, em sua maioria, voltadas ao público jovem, com chamamentos erotizados? Se ainda não notaram, observem. O máximo de prazer em cada garrafa e, quanto mais garrafas, mais e mais prazer, esta é a ideia subjacente nas entrelinhas de cada apelo publicitário. Do consumo de bebidas, que em termos de prazer tem seus limites bastante estreitos, para o consumo de drogas ilícitas, cujos limites são bem mais largos, é um pulo, um pulo bem curtinho. As drogas proporcionam um prazer imediato bem mais intenso. Se o objetivo é a busca pelo maior prazer o mais rápido possível, as drogas estão aí para isso, ou não? Os nossos jovens apenas estão buscando o que lhes é sugerido todos os dias pela propaganda e pela indústria. Eles são conduzidos a isso e depois são criminalizados por isso. Como eu já disse no artigo citado acima: a HIPOCRISIA é a grife número um do mercado.
As bebidas alcoólicas são vendidas à luz do dia, legalmente, e as outras drogas são vendidas às escondidas pelo crime organizado, que se enraizou em todos os extratos da sociedade, em todas as classes sociais, assim como os consumidores de drogas ilícitas; a toxicomania virou um grande negócio e movimenta fortunas diariamente. A propaganda de bebidas alcoólicas, com destaque para as cervejas, que são ofertadas como se não o fossem, abrem caminho para as drogas ilegais de forma subliminar, quando vende a ideia do logo, do eterno agora, da felicidade já.
Quando é o momento de consumir bebidas? É agora, a todo momento. O prazer está no consumir e elas não podem fazer mal algum; vejam o perfil dos consumidores: rapazes e raparigas "sarados", sensuais, alegres e despreocupados! A propaganda chama os jovens a entrarem nessa tribo, que podemos chamá-la de Tribo do Agora, cujo lema é: não deixe para consumir depois o que você pode consumir nesse instante. O seu grito de guerra é: já! já! já!
As propagandas não incentivam só o hedonismo, elas também propõem um estilo de vida individualista, onde você se tornará, o melhor, o mais visível, o único, consumindo os produtos que são anunciados para todos e que serão consumidos por muitos. É um paradoxo, mas a sociedade de consumo é mesmo paradoxal: como alguém pode ser diferente ao consumir uma ou outra marca anunciada que muitos consumirão? Um consumista contumaz responderia que ele está seguindo a onda, a moda. Bom, se ele segue a onda, ele é apenas mais um seguidor. Ser diferente é seguir a onda? Acho que o consumismo emburrece as pessoas...
Um ótimo exemplo de propaganda que incentiva o individualismo é a do uísque escocês Johnnie Walker, que é a marca de uísque mais distribuída no mundo, sendo vendida em quase todos os países. Bem, a linha de uísques da Johnnie Walker (Johnnie Walker White Label, Johnnie Walker Red Label, Johnnie Walker Black Label,  Johnnie Walker Green Label, Johnnie Walker Gold Label e Johnnie Walker Blue Label) não é acessível a todos por conta do preço, mas mesmo assim é muito acessada, a exclusividade é bem relativa. Todavia, consideremos que ela é mais acessível aos extratos de maior renda, deixando muitos consumidores de bebidas alcoólicas de fora por conta das restrições financeiras.
O slogan da Johnnie Walker é Keep Walking, que em português significa "continue andando", é um elogio ao homem que caminha em frente, sem parar, convicto da sua trajetória solitária, despreocupado em relação ao seu entorno; o que importa é ele próprio e o seu contínuo caminhar. Em português temos uma expressão para isso: "cagando e andando". A expressão popular explica a proposta da propaganda de forma cristalina: ande para frente, seguro do seu caminhar e não se afete com os que estão no seu caminho, apenas caminhe, caminhe sempre, sempre em frente: simplificando: cague para todos (desculpem a expressão chula).
Olhando para as propagandas de bebidas de forma geral, é possível concluir que elas, através de apelos sensuais e individualistas, incentivam o desenvolvimento de dois vícios graves para a convivência dos seres humanos em sociedade: o hedonismo e o individualismo. Na verdade, ambos são irmãos inseparáveis, pois eles se alimentam mutuamente. Uma sociedade baseada nos prazeres imediatos e no individualismo consumista tenderá a se degradar; parece que, neste momento, estamos vivendo um processo de degradação, onde os vícios são colocados acima das virtudes. A sociedade de consumo com a sua máquina publicitária propaga, o tempo todo, elogios e mais elogios ao vício. Gostaria que me provassem o contrário ou que, pelo menos, me compreendessem, pois é muito angustiante chegar a esta conclusão de forma solitária.


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Consolidação dos artigos sobre agroecologia

Zildo Gallo

Com a finalidade de facilitar aos leitores a compreensão sobre  as questões que envolvem a agroecologia e a produção saudável de alimentos, com destaque para aqueles desprovidos de agrotóxicos, eu reuni numa única postagem todos os artigos que se relacionam de alguma forma com o assunto. Caro leitor, antes de ler os artigos, sugiro que de uma olhada no quadro abaixo, que aponta as vantagens da produção orgânica de café. Vamos aos artigos.




Abaixo os transgênicos e viva o Reino do Butão!

Zildo Gallo - Postado
Transgênicos são produtos criados pela engenharia genética com a introdução de genes de organismos (animais ou vegetais) em outros seres vivos que nunca se cruzariam naturalmente. Essa nova tecnologia permite introduzir um gene de bactéria ou de vírus em espécies de arroz, soja, milho, tomate, batata ou qualquer outro tipo de vegetal. Neste sentido, as variações possíveis são muitíssimas.
O argumento mais forte dos ambientalistas, dos pequenos agricultores, consumidores e de parte da comunidade científica contra a comercialização imediata dos organismos geneticamente modificados (OGMs) é o de que eles podem trazer riscos ainda desconhecidos para a saúde e para o meio ambiente. Não existe consenso no meio científico sobre a segurança dos OGMs. Uns defendem os benefícios dessa tecnologia e sua aplicação imediata e outros afirmam que são necessários estudos independentes de longo prazo observar as consequências de sua introdução na natureza e na alimentação humana e dos animais.
Os motivos às resistências aos OGMs variam conforme os grupos sociais: 1) pequenos agricultores temem ficar dependentes das empresas que produzem sementes e agrotóxicos; 2) entidades de defesa do consumidor querem alimentos sadios e exigem o direito de se saber quais produtos são elaborados com OGMs e; 3) ambientalistas temem o efeito que eles podem ter sobre os ecossistemas.
Antes de se permitir a comercialização dos transgênicos, vários cuidados deveriam ser tomados para garantir a segurança de que nenhuma dos problemas levantados pelos seus opositores aconteçam, tais como:
1) Aumento das alergias. Quando se introduz um gene de um organismo em outro, novos compostos podem ser formados, alterando proteínas e aminoácidos do organismo que recebeu o gene. Explicando: o gene de uma espécie que causa alergia em uma pessoa, ao ser transportado para uma outra espécie, pode levar à transferência desta característica alergênica;
2) Aumento da resistência antibiótica. Alimentos transgênicos contendo genes que criam resistência a antibióticos provocariam a transferência desta característica para bactérias existentes no organismo humano. O DNA transgênico ingerido em alimentos poderia recombinar-se no estômago e no intestino, transferindo às bactérias da flora intestinal a resistência a antibióticos, ou seja, em caso da necessidade do uso de antibióticos, pode ocorrer a diminuição da eficácia desses remédios, o que é um risco para a saúde pública;
3) Riscos Ambientais. A perda de biodiversidade, o crescimento de ervas daninhas resistentes a herbicidas, o aumento do uso de agrotóxicos e a perda da fertilidade natural do solo seriam os principais riscos ambientais. Os perigos que os transgênicos podem oferecer ao meio ambiente são muitos e ainda não foram bem avaliados.Por exemplo, com a inserção de genes resistentes aos agrotóxicos, as pragas e plantas invasoras poderão adquirir a mesma resistência, o que pode exigir o uso de quantidades cada vez maiores de agrotóxicos nas plantações, contaminando os alimentos, a água e o solo;
4) Poluição genética. Através da polinização, genes introduzidos nas plantas podem ser passados para plantas nativas ou outras plantas cultivadas não transgênicas, havendo o risco de causar a extinção de espécies e modificações nos ecossistemas. Isso está acontecendo com o milho em vários países, pois o pólen de milho transgênico tem fertilizado milhos nativos, modificando-os;
5) Surgimento de superpragas. É possível o surgimento de superpragas e matos resistentes a herbicidas. Com o tempo, "naturalmente", as pragas e ervas daninhas das lavouras transgênicas poderiam adquirir resistência a herbicidas, exigindo maior uso de agrotóxicos pelos agricultores, aumentando a poluição da água e do solo e a quantidade de substâncias tóxicas nos alimentos;
6) Aumento das substâncias tóxicas nos alimentos. Existem plantas e micro-organismos que produzem toxinas para se defenderem dos inimigos naturais, como os insetos, por exemplo. Caso genes desses organismos sejam introduzidos em alimentos transgênicos, o nível dessas toxinas aumentará, o que irá causar danos à saúde dos consumidores desses produtos. Ainda são poucos os estudos sobre a toxicidade dessas substâncias introduzidas nas plantas. Elas estão entrando na composição dos nossos alimentos sem estudos prévios que garantam segurança, como é obrigatório para outros aditivos, como corantes, acidulantes, aromatizantes etc.;
7) Eliminação de insetos benéficos. Os transgênicos podem matar os insetos benéficos para a agricultura e afetar a vida microbiana do solo, impactando a natureza. O uso pesado de herbicidas nos cultivos com variedades em que se introduziu resistência a agrotóxicos, como é o caso da soja Roundup Ready, por exemplo, pode afetar a capacidade de multiplicação das bactérias que retiram o nitrogênio do ar e o fixam no solo, deixando de acontecer a fertilização natural que esta leguminosa propicia;
8) Dependência tecnológica. Existe o temor da criação de dependência por parte dos agricultores em relação aos fornecedores de sementes. A técnica de fabricação dos transgênicos é cara e as pequenas empresas de sementes poderiam ser excluídas do mercado e os grandes grupos passariam a dominá-lo com as suas patentes, ditando os preços e as regras. A monopolização das sementes por grandes empresas assusta os pequenos agricultores. Com os transgênicos, o agricultor pode perder o controle sobre seu principal insumo, a semente, ficando nas mão das empresas de biotecnologia. As sementes devem ser tratadas com patrimônios da humanidade.

No Brasil, para dar segurança ao consumidor de que ele pode escolher não consumir transgênicos, ainda existe a obrigatoriedade do uso do selo indicativo da presença de OGMs nas embalagens dos produtos colocados à venda. O selo é representado pela letraT maiúsculo dentro de um triângulo amarelo (ver figura abaixo).

Tal proteção está prestes a desaparecer. A Câmara dos Deputados aprovou em 28 de abril de 2015 o Projeto de Lei 4.148/08  do deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), que acaba com a obrigatoriedade de se estampar o símbolo de transgenia nos rótulos de produtos que contém organismos geneticamente modificados (OGM) destinados ao consumo humano. O texto modificou a Lei 11.105/2005 que determinava a obrigação de exibir o selo.
O fim da exigência do selo colocou em oposição deputados da bancada ruralista e defensores do meio ambiente. Estes últimos argumentaram que o projeto retira o direito de o consumidor saber o que está comprando. O selo torna visível o produto transgênico e facilita a escolha do consumidor. Informações com letras minúsculas e muito técnicas nas embalagens estão muito longe de ter o mesmo alcance.

As informações aos consumidores têm que ser as mais fáceis e visíveis possíveis, pois a sua autonomia no processo de escolha deve ser preservada o tempo todo. Por que os representantes do agronegócio se arvoram no direito de dificultar as informações aos consumidores? Do que eles têm medo? Não confiam na qualidade dos OGMs? Ao contrário deles, os defensores dos produtos orgânicos fazem questão de estampar o seloProduto Orgânico Brasil, por que será? (veja a figura abaixo)

Como defensor da agroecologia e como consumidor de produtos desprovidos de agrotóxicos e que não agridem a natureza, sinto-me agredido pela aprovação do Projeto de Lei e acredito que os meus companheiros defensores da natureza também sentiram o mesmo. Além disso, o direito a informação rápida e fácil deve ser uma das condições sine qua non da democracia que se pretende democracia. Trata-se de um projeto de caráter antidemocrático, sem dúvida alguma, aprovado por uma maioria de deputados conservadores que se formou a partir da última eleição, infelizmente. Numa democracia o pensamento conservador tem o seu espaço, seu direito de existir e de se expressar, mas ele não tem o direito de obstruir a democracia, que é o que ele está fazendo quando propõe mecanismos que dificultam as escolhas de cada cidadão. A informação acessível é essencial para a prática democrática.
Após a aprovação pela Câmara dos Deputados a matéria foi para o Senado. O IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor está em campanha para influenciar os senadores para  que eles revertam a decisão dos deputados. Você que agora está lendo este texto pode participar desse movimento acessando o link do IDEC. Transcrevo aqui as palavras de alerta do IDEC sobre os riscos que corremos caso o Projeto de Lei 4.148/08 seja definitivamente aprovado:
"Caso o projeto de lei seja aprovado, corremos sério risco de saúde, pois compraremos alimentos como óleos, bolachas, margarinas, enlatados e papinhas de bebê sem saber se são seguros ou não. Atualmente, cerca de 92,4% da soja e 81,4% do milho do País são de origem transgênica. É essa produção crescente e acelerada que leva para a mesa do consumidor um alimento disfarçado ou camuflado que não informa sua real procedência."

POR OUTRO LADO, DO OUTRO LADO DO MUNDO, NA ÁSIA, NUM PEQUENO PAÍS, ENCRAVADO ENTRE DOIS GIGANTES, A ÍNDIA E A CHINA (VER FIGURA ABAIXO), NO REINO DO BUTÃO, ACONTECEU ALGO DE EXTRAORDINÁRIO PARA O MEIO AMBIENTE E PARA A AGROECOLOGIA. ESTE PAÍS, COM CERCA DE 700 MIL HABITANTES, CUJO GOVERNO (TRATA-SE DE UMA MONARQUIA CONSTITUCIONAL, CUJO PODER ENCONTRA-SE NAS MÃOS DO PARLAMENTO) HAVIA SURPREENDIDO O MUNDO HÁ ALGUNS ANOS COM A IDEIA DO ÍNDICE FIB (FELICIDADE INTERNA BRUTA), EM CONTRAPOSIÇÃO AO PIB (PRODUTO INTERNO BRUTO), RECENTEMENTE, REFORÇOU SUA INTENÇÃO EM CONTRIBUIR PARA A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO NOSSO PLANETA TERRA.



O PRIMEIRO-MINISTRO, JIGMI Y. THINLEY, ANUNCIOU RECENTEMENTE A INSTITUIÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL ORGÂNICA, QUE QUER TORNAR, ATÉ 2020, O BUTÃO O PRIMEIRO PAÍS DO MUNDO COM AGRICULTURA 100% ORGÂNICA. ESTAMOS EM 2015, FALTA POUCO TEMPO. QUE BELEZA! NESTE SENTIDO, O GOVERNO BUTANÊS DECIDIU ELIMINAR, AOS POUCOS, AS IMPORTAÇÕES DE AGROTÓXICOS E FERTILIZANTES QUÍMICOS DA ÍNDIA. TRATA-SE DE UMA DECISÃO CORAJOSA PARA UMA NAÇÃO DE TÃO PEQUENA DIANTE DA CHINA E DA ÍNDIA (1,3 BILHÃO E 1,2 BILHÃO DE HABITANTES, RESPECTIVAMENTE), CUJA BASE ECONÔMICA É AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA, TURISMO E PRINCIPALMENTE A VENDA DE ENERGIA HIDRELÉTRICA PARA OS INDIANOS. TRATA-SE DE UM PEQUENO DAVI CERCADO POR DOIS GIGANTESCOS GOLIAS.

HÁ QUE SE RESSALTAR O PIONEIRISMO (DE NOVO!) DO PEQUENO REINADO PARLAMENTARISTA, CUJA MAIORIA DOS HABITANTES PRATICA O BUDISMO COMO RELIGIÃO. ASSIM COMO MUITOS PAÍSES TÊM SE INSPIRADO NO BUTÃO PARA ADOTAR O FIB NO LUGAR DO PIB (INDICADOR DE ASPECTO MERAMENTE QUANTITATIVO), ELES PODERIAM MUITO BEM REFLETIR A RESPEITO DA CONVERSÃO DE SEUS CULTIVOS PARA MÉTODOS MAIS SUSTENTÁVEIS, ADOTANDO A AGROECOLOGIA.

LONGA VIDA AO REINO DO BUTÃO! VIVA A AGROECOLOGIA! ABAIXO OS TRANSGÊNICOS!

LINK DO IDEC: WWW.IDEC.ORG.BR/MOBILIZE-SE/CAMPANHAS/FIM-DA-ROTULAGEM-DOS-ALIMENTOS-TRANSGENICOS-DIGA-NO#2


As abelhas de Gavião Peixoto: um holocausto ainda impune

Zildo Gallo - 


A mortandade de abelhas (imagem acima) tem se tornado coisa rotineira em Gavião Peixoto (SP) e, repetidas vezes, o município tem aparecido nas manchetes dos jornais como vítima dos agrotóxicos utilizados nas fazendas localizadas no seu território, com destaque para os da cana-de-açúcar, que costumam ser lançados por aviões sobre as plantações, numa exibição que lembra a Esquadrilha da Fumaça com seus voos rasantes, só que se trata, neste caso, de uma fumaça assassina a serviço de um imenso holocausto entomológico. Eis algumas notícias sobre o assunto em questão, existem várias outras:
·     Em 06/12/2013, o portal G1 da Rede Globo estampava a seguinte notícia: "Agrotóxico usado na cana mata dois milhões de abelhas, dizem apicultores" (1).
·   Em 18/02/2014, o mesmo portal noticiou: "2 agrotóxicos mataram 4 milhões de abelhas em Gavião Peixoto, diz laudo" (2).
·      Em 23/05/2015, o portal registrou: "Agrotóxico causou morte de abelhas em Gavião Peixoto, SP, aponta laudo" (3).
A cana-de-açúcar não é vilã solitária nesses crimes ambientais. A notícia de 18 de fevereiro de 2014 indicava que o uso de dois agrotóxicos lançados em lavouras de feijão, café e soja poderia ter sido o responsável pela morte de mais de quatro milhões de abelhas em Gavião Peixoto, conforme resultados de exames feitos nas abelhas por um laboratório. Ocorre que a presença da cana é muito mais ostensiva e muito mais visível, por conta das imensas extensões de terra ocupadas com o seu cultivo na região de Araraquara (SP), onde fica Gavião Peixoto. No meu artigo "Nada de venenos: um pouco sobre a agricultura orgânica", neste blog, eu registrei que muitos agricultores familiares também fazem uso de agrotóxicos, imitando esta prática nem um pouco recomendável do agronegócio, infelizmente...
Estou escrevendo sobre as abelhas de Gavião Peixoto, mas todas as abelhas, de todo o mundo, estão correndo risco de extinção, devido ao uso demasiado de defensivos agrícolas. Seria uma imensa tragédia para a vida na Terra, pois elas são fundamentais no processo de polinização no reino vegetal. Trata-se de imensa estupidez, uma espécie de suicídio indireto. Será que a ciência com os seus braços tecnológicos desenvolverão insetos mecânicos para o serviço da polinização? Ridículo! Será que os brasileiros farão como os chineses, que estão usando trabalhadores rurais, aos montes, para polinizarem manualmente as plantas, pelo fato de terem perdido as abelhas e muitos outros insetos polinizadores? Bem... a China tem muita gente no campo, muita gente mesmo, o que não é o nosso caso. A imagem abaixo mostra camponeses da China polinizando com as suas mãos uma plantação de frutas; um retrato que mostra até onde pode chegar a irresponsabilidade humana (4).


Para se compreender a gravidade da questão em relação aos insetos polinizadores, em particular com as abelhas, é sabido hoje que as abelhas já existiam nas mesmas formas que as atuais há cerca de 42 milhões de anos e durante todo esse tempo elas fizeram o seu trabalho diário e incansável de polinizar e produzir mel. Quanto à apicultura, é provável que já no neolítico os homens praticavam alguma forma de apicultura, pois existem informações de que, um pouco mais adiante, nos primórdios da civilização, o povo sumério, que se estabeleceu na Mesopotâmia por volta de 5.000 a. C. e fundou as primeiras cidades do planeta, já usava o mel.
Os povos da antiguidade tinham grande consideração pelas abelhas e pelo seu produto, o mel. A consideração era tanta que o grande filósofo grego Aristóteles fez os primeiros estudos científicos a respeito das abelhas, utilizando uma colmeia cilíndrica feita com ramos de árvores entrelaçados com uma mistura de argila e estrume bovino. A criação de abelhas era tão importante na Grécia antiga que Sólon, o grande legislador ateniense, dedicou-lhe vários artigos no conjunto das suas leis. Por conta da poluição, depois de 42 milhões de anos, a humanidade pode estar arriscando a sobrevivência desses animaizinhos fantásticos e extremamente úteis à natureza e aos homens. Não é muita estupidez? Dá para imaginar a natureza sem esses bichinhos?
A agricultura da cana-de-açúcar está no topo das maldades praticadas ao meio ambiente no Estado de São Paulo. Além dos agrotóxicos, tem o desrespeito com a vegetação nativa e com os animais silvestres. Os recursos hídricos são superutilizados e há casos de destruição de nascentes e de contaminação dos recursos hídricos, tanto superficiais como subterrâneos. As relações trabalhistas sempre foram muito complicadas e há muito pouco tempo foram registrados casos de trabalho excessivo, inclusive com mortes. Ainda tem o agravante de que no estado mais populoso do Brasil a cana tem ocupado muitas terras de boa qualidade que poderiam estar produzindo alimentos. Pelo menos as queimadas estão diminuindo com o avanço da mecanização do corte. Como é possível considerar o etanol como um combustível ambientalmente correto, conforme propagam as usinas e os governos estaduais e federal, com tantas questões a serem resolvidas? O fato de ele ser uma energia renovável e não contribuir para o agravamento do aquecimento global (efeito estufa) não dá o direito aos produtores de abusarem das práticas ambientais inadequadas.
Em relação à cana-de-açúcar, uma das reclamações dos apicultores diz respeito à fumigação aérea, que esparrama veneno para todos os lados. Estou escrevendo sobre as abelhas de Gavião Peixoto e neste município está instalada uma fábrica da Embraer, que produz aviões, incluindo o Ipanema, sua aeronave agrícola, que está sendo produzido desde 1972. Atualmente ela fabrica, na sua unidade de Botucatu (SP), uma aeronave movida a etanol. Dizem que o álcool possibilita um melhor desempenho, além de apresentar baixos custos de manutenção e operação, acredito que sim. É óbvio que também cantam loas ao combustível correto do ponto de vista do meio ambiente, nem tanto, como já visto acima.
Assim, o combustível "ambientalmente correto" faz o Ipanema alçar voo e esparramar venenos aos quatro ventos, sobre os latifúndios monocultores do Brasil. No Estado de São Paulo ele sobrevoa os canaviais, fumigando-os, e eles, em retribuição, garantem a produção do combustível "limpo" do seu voo, num macabro círculo vicioso a serviço do gigantesco complexo agroindustrial energético-agroexportador.


Agora, falando aqui como advogado de defesa das nossas minúsculas e indefesas irmãzinhas, as abelhas: é muito sério, não dá mais! precisamos abolir os agrotóxicos da nossa agricultura, com destaque para a da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo. É possível fazer isso? Será que os grandes produtores rurais podem adotar práticas ambientalmente corretas? A resposta é:  sim! Para prová-lo, vou relatar na sequência um caso de sucesso de agricultura orgânica ligado ao setor sucroalcooleiro, aqui mesmo, no nosso estado Trata-se de um caso que se inicia pela produção de açúcar orgânico e posteriormente se estende para outros produtos. Refiro-me ao caso da Native, que se tornou referência nacional e internacional em termos de produtos agrícolas amigáveis ao meio ambiente.


A marca Native está bastante visível no mercado, pois as cafeterias disponibilizam aos consumidores os saquinhos individuais com o açúcar orgânico da marca e as gôndolas dos supermercados sempre têm as embalagens de 1 kg do açúcar e vários outros produtos seus à mostra. Líder mundial na produção e comercialização de açúcar e álcool orgânicos, a Native adotou a causa da sustentabilidade e tem levado seus produtos para mais de 60 países de todos os continentes do planeta. As suas usinas, São Francisco e Santo Antônio, mantêm um viveiro com capacidade de gerar milhares de mudas de árvores nativas da flora brasileira. Mais de um milhão de árvores já foram plantadas em centenas de hectares. A implantação de um modelo agrícola de produção diferenciado resultou na formação de uma teia alimentar que permite a convivência do agronegócio com mais de 300 espécies de animais vertebrados, sendo que 244 são raras, como a onça parda, o tamanduá bandeira, o lobo guará, entre muitas outras (5).
A Native tem vários produtos saudáveis, elaborados conforme os regulamentos da agricultura orgânica, com processos que aliam tecnologia com respeito ao solo, às florestas e aos animais. Além do açúcar, que é produzido sem queimadas e livre dos agroquímicos, ela desenvolveu várias parcerias com produtores orgânicos brasileiros e estrangeiros para oferecer aos consumidores produtos que compartilham dos mesmos princípios de sustentabilidade. Assim, ela  também atua nos segmentos de cafés, sucos, achocolatados e barras de chocolates, utilizando o cacau orgânico da Bahia, etc. Ela produz orgânicos e incentiva a sua produção através das suas parcerias, provando que é possível ao grande produtor rural produzir sem os venenos que matam os nossos insetos polinizadores, em particular as nossas irmãs abelhas que, além de prestarem um serviço de valor inestimável à natureza, produzem um alimento que pode ser classificado, no mínimo, como fantástico pelas suas qualidades nutritivas, o DOCE MEL.
Para não pairar dúvidas sobre o compromisso da Native com a sustentabilidade e com a agricultura orgânica, informo aqui que ela tem divulgado no seu site a cartilha sobre o selo de produtos orgânicos do Ministério da Agricultura, aquela ilustrada pelo cartunista e escritor Ziraldo, que teve a sua edição impressa impedida de circular por uma ação judicial da Monsanto, a polêmica e gigantesca multinacional fabricante de venenos e sementes transgênicas (6). Eu tratei deste assunto no artigo "Guerrilha agroecológica", neste blog, onde também divulgo a cartilha. Considero que divulgá-la é um ato de desobediência civil a serviço da defesa da vida saudável para todos os seres do nosso planeta. Visitem o site da Native! Divulguem a cartilha do selo ORGÂNICO BRASIL!
Vida longa às abelhas!

Referências
(1) http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2013/12/agrotoxico-usado-na-cana-mata-dois-milhoes-de-abelhas-dizem-apicultores-gaviao-peixoto.html
(2) http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2014/02/2-agrotoxicos-mataram-4-milhoes-de-abelhas-em-gaviao-peixoto-diz-laudo.html
(3) http://g1.globo.com/sp/araraquara-regiao/noticia/2012/05/agrotoxico-causou-morte-de-abelhas-em-gaviao-peixoto-sp-aponta-laudo.html
(4) http://www.apinews.com/pt/noticias-de-apicultura/item/12780-china-polinizacao-com-a-mao
(5) http://www.nativeorganicos.com.br/
(6) http://www.nativeorganicos.com.br/media/uploads/paginas/arquivo/cartilha_org.pdf

É de graça! Sobre a necessidade da refazenda.

Zildo Gallo - 


Lembro-me que, antes de me mudar com a minha família do meio rural do município de Borborema (SP) para a zona urbana de Americana (SP), no ano de 1963, eu nunca havia presenciado o comércio de frutas. Confesso que estranhei muito. Nos sítios, além das várias lavouras temporárias e dos cafezais, existiam pomares com grande variedade de frutas e, conforme cada época do ano, cada árvore frutífera oferecia a todos, de forma gratuita, os seus frutos. Trago na memória a época da jabuticaba, da goiaba e da manga, que eram as frutas que mais me atraiam. Por sua vez, mamões, bananas e melancias existiam o tempo todo, não eram frutas de época, não eram temporãs.

A partir do momento que passei a morar na cidade, a abundância frutífera e a gratuidade desapareceram. Demorou muito para me acostumar com o fato de que só comeria frutas se as comprasse na quitanda. Assim, por conta da pobreza, a minha alimentação piorou muito na cidade. Lembro-me nitidamente que havia no meio rural uma saudável troca de produtos entre os vizinhos, era uma troca permanente e rotineira. Até mesmo nas cidades pequenas tal fenômeno existia, pois era comum a existência de pomares e hortas nas residências urbanas. A gratuidade e a troca não mercantil ainda faziam parte do cotidiano das pessoas nos anos sessenta do século passado.

Hoje, quando a maioria esmagadora da população mora no meio urbano, as famílias perderam o hábito de cultivar pomares e hortas como antigamente se fazia e, por conta disso, o hábito da troca também desapareceu. Para muitos, esses hábitos chegam a parecer uma aberração, de tão comprometidos que estão com a ideia de que tudo tem um preço e que só é possível conseguir as coisas pagando com dinheiro por elas. A gratuidade parece algo pecaminoso, um pecado contra o mercado, contra a economia de mercado. Além disso, muitos se incomodam com a natureza no meio urbano; quem nunca ouviu alguém dizer que uma árvore frutífera suja a calçada? O afastamento da natureza é tal que muitas pessoas consideram folhas, flores e frutos como sujeira. Quem nunca viu uma senhora neurótica varrendo o tempo todo as folhas da calçada?

Vou contar uma história. Nos anos de 1988 e 1989, eu morei com minha família no bairro Santa Genebra em Campinas (SP). Ao lado da minha casa morava uma mulher neurótica por limpeza, que se incomodava demais com as folhas que caíam das árvores. Teve um dia que ele se irritou tanto e passou muito mal, tendo que ser internada num hospital. As folhas caíam e ela varria e, mal ela acabava de varrer, as folhas caíam de novo e ela retomava a varrição e assim sucessivamente... Ela não conseguia deixar a calçada livre das folhas e isso a deixava doente. A saída que sua família encontrou foi contratar

Todavia, mesmo no meio urbano, é comum encontrar ruas ou áreas livres com árvores frutíferas plantadas. É provável que algum migrante saudoso do meio rural e do estilo de vida gratuito tenha generosamente plantado as árvores para que qualquer transeunte pudesse delas se beneficiar. Trata-se de altruísmo verdadeiro, pois o benefício atinge os desconhecidos, incluindo aí os passarinhos  e  outros animais que também aproveitam as frutas da época.

A natureza tornou-se estranha para muita gente, muita gente mesmo, e será preciso que elas retomem o contato com ela para  que, a partir daí, tornem-se suas defensoras.Muito do processo de destruição ambiental vem da ignorância das pessoas sobre a natureza e os fenômenos naturais. Fazer hortas domésticas e plantar árvores frutíferas nas casas, nas ruas e nos espaços públicos ajudam na interiorização do entendimento de que o alimento do nosso corpo vem da terra, da sua fertilidade, e que não tem nenhum problema ela nos oferecer os seus frutos gratuitamente, pois é assim que acontece na natureza selvagem, não controlada pelo mercado, pelo capital. Não é nenhum pecado apanhar uma fruta do pé e não pagar por ela. Meu Deus! colocamos preço em tudo...

Vou mais longe, pois considero que deveria ser uma política pública a disseminação de árvores frutíferas pelas praças, parques, ruas, avenidas escolas etc. Além disso, as prefeituras poderiam estimular nos habitantes o hábito do cultivo de hortas e pomares nas suas residências. Acho que a segurança alimentar dos cidadãos aumentaria bastante com isso e, mais importante ainda, esse poderia ser o começo da reconexão com a natureza, que é essencial no atual momento do planeta Terra. Estou sugerindo uma refazendacomo aquela da belíssima canção de Gilberto Gil, que nos ensina que a vida vem em ciclos, nos moldes da natureza:

Refazenda

Abacateiro acataremos teu ato
Nós também somos do mato como o pato e o leão
Aguardaremos brincaremos no regato
Até que nos tragam frutos teu amor, teu coração
Abacateiro teu recolhimento é justamente
O significado da palavra temporão
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão
Abacateiro sabes ao que estou me referindo
Porque todo tamarindo tem o seu agosto azedo
Cedo, antes que o janeiro doce manga venha ser também
Abacateiro serás meu parceiro solitário
Nesse itinerário da leveza pelo ar
Abacateiro saiba que na refazenda
Tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar
Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
Guariroba

Nada de venenos: um pouco sobre a agricultura orgânica

Zildo Gallo - 


Aqui no meu blog, eu escrevi dois artigos sobre agroecologia com os seguintes títulos: "Guerrilha agroecológica" e "Guerrilha agroecológica 2". Por que a expressão guerrilha agroecológica? Por um simples motivo: a população do planeta e toda a natureza estão sendo envenenadas e maltratadas pelo agronegócio, que tem buscado com exclusividade a maximização do seu lucro, seu principal objetivo, enquanto divulga a fala hipócrita de que está combatendo a fome no mundo. A fome no mundo persiste com muita força e a natureza, por sua vez, tem vivido um aumento expressivo do seu estado de deterioração. Como exemplo de deterioração, podemos citar  a destruição das florestas brasileiras (Mata Atlântica, Cerrado, Amazônia etc.) para a criação de gado e o plantio de commodities (soja, milho, cana-de-açúcar etc.) para a exportação. Para mudar esse quadro é preciso muita paciência e muito argumento e, assim, aos poucos, vai-se ganhando corações e mentes para as causas ambientais e da alimentação segura, como num processo de guerrilha, que começa num pequeno foco e a partir daí se expande até atingir a maioria.
Na verdade, quem produz alimentos para a população brasileira não é o agronegócio, mas a agricultura familiar, que se faz representar pela imensa quantidade de pequenas propriedades espalhadas por todo país. Ocorre que muitos pequenos produtores também acabaram por adotar a "revolução verde", por conta de políticas governamentais equivocadas, que remontam o período dos "anos de chumbo", da ditadura militar, e do assédio das grandes corporações internacionais de insumos agrícolas, com toda sua parafernália química (venenos e fertilizantes químicos), que propunha acabar com a fome do planeta, o que, de fato, não ocorreu, como já foi dito acima. Assim, a expressão "guerrilha ecológica" faz muito sentido, pois se trata de enfrentar inimigos poderosos com poucas armas, todavia poderosas, já que se fundamentam no conhecimento sobre a natureza, sobre a vida na Terra. A agroecologia assenta-se sobre os processos naturais (ecológicos) e não sobre os insumos artificiais produzidos pela agroindústria.
Então, de forma bem simples, pretendo neste artigo passar algumas informações bem rápidas sobre como o consumidor pode, pela sua opção por produtos orgânicos, contribuir para o avanço da agroecologia e para preservação e recuperação da natureza degradada. Alguns consumidores podem dizer que os produtos orgânicos são mais caros e, hoje, eles têm razão. A massificação do consumo e o aumento expressivo (tem que ser expressivo) do número de produtores implicarão na queda dos preços dos produtos agrícolas, com certeza, é uma questão de tempo apenas; precisa acontecer.
Para ser o mais claro e o mais simples possível, lancei mão das informações constantes na cartilha ilustrada pelo cartunista e escritor Ziraldo para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. No ano de 2009, o Ministério produziu a cartilha "O olho do consumidor" para divulgar o novo selo para produtos orgânicos. Contudo, diante da possibilidade de ter os seus interesses contrariados, a empresa Monsanto, fabricante de agrotóxicos e de sementes transgênicas, conseguiu, através da justiça, embargar a sua distribuição, que seria naquele momento de 620 mil exemplares. Com a proibição, muitos defensores da agricultura orgânica passaram a divulgá-la pela internet. Acredito que, de lá até hoje, a divulgação pelo meio eletrônico tem sido eficiente, muito mais eficiente que a divulgação através das cartilhas impressas. No meu blog eu divulgo a cartilha no artigo "Guerrilha agroecológica". Então, comecemos do início, pelo entendimento do que são os produtos orgânicos:
·    Os produtos orgânicos são sempre produzidos com a preocupação primeira de não prejudicar o meio ambiente, pois ela acontece sem destruir os recursos naturais (água, solo e matas);
·   Os produtores valorizam as espécies de plantas e animais da nossa natureza, de cada um dos nossos ecossistemas (Mata Atlântica, Cerrado, Amazônia etc.);
·      Todos os trabalhadores que participam da sua produção devem ter condições dignas de trabalho e remuneração adequada que lhes garantam boas condições de vida em sociedade;
·     O solo deve ser protegido dos desgastes infringidos pela produção contínua e sempre deve manter as suas condições sanitárias preservadas; a biodiversidade de insetos e micro-organismos é um bom sinal da sanidade do solo (solo saudável produz plantas saudáveis);
·    O produtor que opta pela agricultura orgânica também não pode cultivar transgênicos, pois eles sempre põem em risco a enorme diversidade de variedades existentes na natureza (transgênicos são plantas e animas que sofreram a introdução de genes retirados de outras espécies por cientistas a serviço das corporações internacionais do agronegócio).
Quanto aos transgênicos, para confirmar a questão da divulgação da agricultura orgânica como uma guerra de guerrilha (cultural) eu relatei, no artigo "Guerrilha agroecológica 2: o império transgênico contra-ataca", que a Câmara dos Deputados aprovou em 28 de abril de 2015 o Projeto de Lei 4.148/08  do deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), que acaba com a obrigatoriedade de se estampar o símbolo de transgenia nos rótulos de produtos que contém organismos geneticamente modificados (OGM) destinados ao consumo humano. O texto modificou a Lei 11.105/2005 que determinava a obrigação de exibir o selo, que é representado pela letra T maiúscula dentro de um triângulo. Parte significativa do Congresso Brasileiro está a serviço do agronegócio, com seus venenos e seus transgênicos, e só um combate constante e crescente no campo das ideias para reverter essa desvantagem contra a agricultura saudável. Neste momento, o PL 4.148/08 encontra-se no Senado e é para ele que devemos dirigir o nosso embate ideológico. Caso o PL seja definitivamente aprovado, a única garantia de que não estaremos consumindo transgênicos será pelo selo de produto orgânico. Efetivamente, a sua aprovação é uma violência contra a liberdade de escolha do cidadão.
No artigo citado acima eu faço alguns questionamentos, que considero pertinentes e por isso repito-os aqui: "As informações aos consumidores têm que ser as mais fáceis e visíveis possíveis, pois a sua autonomia no processo de escolha deve ser preservada durante todo o tempo. Por que os representantes do agronegócio se arvoram no direito de dificultar as informações aos consumidores? Do que eles têm medo? Não confiam na qualidade dos OGM? Ao contrário deles, os defensores dos produtos orgânicos fazem questão de estampar o selo Produto Orgânico Brasil, por que será?"
Só para exemplificar a seriedade da questão, relato aqui uma experiência vivida por mim há poucos dias no Makro Atacadista, em Campinas (SP). Enquanto procurava óleo de cozinha, notei que todas as embalagens, de todas as marcas, de óleo de soja estampavam com o triângulo da transgenia. Pensei: "olha a gravidade de se retirar o selo!" Comprei óleo de canola, como já havia planejado anteriormente. Só compro derivados de soja que sejam orgânicos (com selo), pois o risco de que sejam transgênicos é muito alto, o mesmo acontece com o milho e seus derivados, nos dias de hoje.
Para um produto ser efetivamente orgânico, é expressamente proibido o uso de agrotóxicos de qualquer tipo que possam contaminar os alimentos e o meio ambiente. Dessa maneira, os venenos não passarão para os organismos das pessoas que produzem e consomem produtos orgânicos, como acontece no caso da agricultura convencional, aquela praticada com maior ênfase pelo agronegócio, com o incentivo das grandes empresas agroquímicas. Alguns produtos são muito contaminados por venenos, como nos casos do tomate e do morango (veja meu artigo "O sapo e os morangos", neste blog).
Os consumidores quando optam pelos orgânicos contribuem para manter a sua saúde e a dos agricultores, para preservar o meio ambiente e para melhorar a qualidade de vida dos pequenos produtores rurais, que terão seus produtos valorizados numa prática de comércio justo, onde todos ganham (consumidores e produtores) e não só os grandes atravessadores, como geralmente acontece na agricultura convencional, aquela baseada nos insumos agroquímicos (venenos e fertilizantes).
Para que os consumidores saibam se os produtos são orgânicos ou não, o governo federal criou um sistema oficial de controle. A partir de 2010, todo produto orgânico, exceto aqueles vendidos diretamente pelos agricultores familiares estão sendo vendidos com o selo SISORG - Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica. Veja o selo abaixo.


Na cartilha do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento são apresentados detalhes sobre as exigências para que um produto seja considerado orgânico e sobre os vários processos de certificação dos produtores. Não acho necessário registrar tais detalhes aqui. Para tanto acesse o endereço <http://www.redezero.org/cartilha-produtos-organicos.pdf>. Caso você encontre dificuldades para conseguir a cartilha, solicite-me pelo e-mail zildogallo@gmail.com, que prontamente enviarei.
É possível encontrar produtos orgânicos verdadeiros que são vendidos sem o selo SISORG. Produtores da agricultura familiar podem fornecê-los em feiras, pequenos mercados ou entregá-los nas residências. A garantia de que são verdadeiramente orgânicos dá-se pelo vínculo a uma Organização de Controle Social (OCS) cadastrada nos órgãos do governo. A OCS pode ser uma associação, uma cooperativa ou consórcio de produtores que seja capaz de cuidar do cumprimento das regras da produção orgânica. O consumidor, por sua vez, tem o direito de saber o que está comprando, quem produziu e a que OCS ele está ligado. Tais informações devem estar disponíveis ao consumidor.
Alimente-se bem! Nada de venenos!

O sapo e os morangos

Zildo Gallo - 


É comum, extremamente comum, encontrar o morango como campeão disparado nos resultados de pesquisas sobre a presença de agrotóxicos em alimentos. Ele tem a casca fina e rugosa, o que o torna adequado ao armazenamento de resíduos. Além disso, ele tem um ciclo curto de floração e frutificação, não dando tempo para os venenos se dissiparem. Para agravar a situação, muitos produtores costumam usar componentes químicos que não deveriam ser utilizados no seu cultivo; um deles é a vinclozolina, que se trata de um fungicida muito usado na cultura do feijão (1).
Além de usarem agrotóxicos, é corriqueiro os agricultores brasileiros não respeitarem as normas de uso dos pesticidas que, muitas vezes, eles desconhecem. Outra coisa muito importante que geralmente passa ao largo é o intervalo de segurança, ou seja, o tempo entre a aplicação do veneno e a colheita dos alimentos. É comum a colheita acontecer antes do período indicado, aquele que, em tese, garantiria a dissolução do veneno. No caso do morango, como foi dito acima, a situação é bem mais grave, pois o tamanho do seu ciclo nem permite uma dissolução adequada. Conclusão: só coma morangos orgânicos, estes não contêm resíduos de agrotóxicos.
Por que estou falando de morangos? Simples, porque eu já plantei morangos. No início dos anos 80, eu morava com meus pais em Americana (SP), num bairro periférico chamado Jardim Alvorada. A nossa casa tinha um quintal de bom tamanho e como meu pai havia se aposentado, ele se dedicava ao cultivo de hortaliças. Nenhum produto químico era usado na plantação, pois ela era fertilizada com esterco de gado bovino. A terra era muito rica em microbiodiversidade, com a presença de muitos insetos benignos e de minhocas, muitas minhocas... Meu pai, o senhor Aristides, que era um amante da pesca, tinha um estoque infindável de iscas de excelente qualidade a sua disposição. Desde aquela época descobri empiricamente uma verdade: um solo saudável produzirá plantas saudáveis (ver meu artigo "Meditações a partir da horta doméstica da minha casa", neste blog (2)).

Eu, no auge da minha juventude, trabalhava numa jornada de oito horas diárias e nas horas vagas exercia a minha militância política, que era muito intensa. Não me sobrava muito tempo, não tinha o mesmo tempo que meu pai para me dedicar à horticultura. Mesmo assim, resolvi fazer alguma coisa, resolvi plantar morangos. Comecei com um canteiro pequeno e rapidamente o seu tamanho multiplicou-se. Como o meu pai, no trato da sua horta, eu nunca usava agroquímicos e para fertilizar a terra também usava o esterco bovino, que era bem disponível na região por conta do Instituto de Zootecnia de Nova Odessa (IZ), que fazia divisa com o nosso bairro. Para garantir que os morangos não se sujassem em contato com a terra do canteiro, eu espalhava palha de arroz entre as mudas, funcionava muito bem e, além disso, tal proteção saía-me gratuita e era natural, bem diferente daqueles plásticos que os agricultores estendem no chão, entre os pés de morangos.
Num dia qualquer, enquanto eu cuidava da minha plantação, retirando com as mãos o mato que crescia no meio dela, acabei por encontrar escondido entre as folhagens um sapo. Era um sapo grande, grande mesmo. Olhei para ele, achei-o bonito, imponente, e decidi que ele poderia permanecer no quintal, se ele assim o desejasse. Falei com meus pais sobre isso. Eles, que nasceram e cresceram no meio rural, não estranharam. Assim, o sapo lá permaneceu por muito tempo.
Estabelecemos uma parceria útil aos dois lados: o sapo tinha a moradia garantida num terreno úmido e cheio de bichinhos e, em contrapartida, ele controlava a população de insetos para mim, comendo-os. Acho que tinha comida em quantidade suficiente, pois a sua permanência estendeu-se por um tempo bem longo, não consigo precisar quanto.
Tanto a horta do meu pai como a minha plantação de morango prosperaram. A horta era mais que suficiente para o nosso consumo e, por conta disso, os vizinhos começaram a comprar hortaliças do nosso quintal. Isso garantia uma renda extra, que era muito bem-vinda. Por sua vez, a produção de morangos, que só aumentava, levou-me a intentar outras experiências. Comecei a produzir geleia de morango e aprendi a fazer tortas iguais àquelas que vemos nas prateleiras envidraçadas das confeitarias. Contudo tinha uma diferença, eu costumava fazer tortas enormes, do tamanho de pizzas, com muitos morangos. Era um certo exagero, confesso, mas eram saborosíssimas, pois afirmo, sem nenhuma dúvida: os morangos orgânicos são muito mais saborosos, acreditem!
A minha parceria com o sapo foi longa e muito útil, sem dúvida nenhuma. Aliás ele acabou se tornando um tipo de animal doméstico e como qualquer animal desse tipo, vivia tentando entrar em casa. A minha mãe, a dona Aparecida, enxotava-o com uma vassoura, mas ele sempre tentava... Um dia, assim como ele tinha aparecido, ele desapareceu. Acredito que tenha se cansado da vida longe dos animais da sua espécie e tenha resolvido voltar ao seu brejo de origem. Perto da minha casa, nas terras do IZ, passava o rio Quilombo e nas suas margens normalmente alagadas deveriam existir muitos sapos. Acho que ele voltou para lá depois de viver uma experiência diferente entre animais de outra espécie.
Eu, por minha vez, continuei produzindo morangos e fazendo geleias e tortas. Só parei com essas atividades quando me mudei de Americana. Corria o ano de 1986, quando eu e minha namorada Claudia decidimos morar juntos e nos mudarmos para Bauru (SP), por conta de mudanças no campo do trabalho. Meu pai continuou com a sua horta, mas não se interessou pelos morangos. Depois disso nunca mais os plantei, mas sei como fazê-lo, garanto! Hoje cuido de uma horta na minha residência em Campinas, mas não consigo ver espaço suficiente para iniciar um cultivo de morangos; o terreno livre da minha casa em Campinas (SP) é menor que o de Americana. Contudo, a ideia não me sai da cabeça e, de alguma forma, pretendo pô-la em prática, algum dia... Se algum sapo aparecer e topar uma parceria, será bem vindo.
(1) Ranking do veneno (artigo extraído da revista Saúde). Disponível em: http://www.agrisustentavel.com/toxicos/ranking.htm. Acesso: 30 de maio de 2015.
(2) http://zildo-gallo.blogspot.com.br/2015/02/meditacoes-partir-da-horta-domestica-da.html
PS.: Informe-se sobre a agroecologia e sobre os alimentos saudáveis. A internet tem muitos sites que tratam do assunto; o endereço citado acima é um deles.

GUERRILHA AGROECOLÓGICA 2: O IMPÉRIO TRANSGÊNICO CONTRA-ATACA

GUERRILHA AGROECOLÓGICA

Meditações a partir da horta doméstica da minha casa






A QUE VIM