Zildo Gallo
Criança
feliz
Tira
catota do nariz
A
criança tira à vista
O
adulto na encolha
Assim
evolui a humanidade
Da
infância alegre
À
sisuda maturidade
Economista pela PUC Campinas, Mestre e Doutor em Geociências pela UNICAMP, professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente (Mestrado e Doutorado) da UNIARA - Araraquara - SP
Zildo Gallo
Criança
feliz
Tira
catota do nariz
A
criança tira à vista
O
adulto na encolha
Assim
evolui a humanidade
Da
infância alegre
À
sisuda maturidade
Zildo Gallo
Sábado de Aleluia de 1966.
Naquele dia já muito distante, nos idos da minha infância, na frente do Bar
Bacan, que ficava na Avenida Campos Sales, no município de Americana/SP, dois
eventos inesquecíveis para mim aconteceram, um bem na sequência do outro: a
Malhação de Judas e o Pau de Sebo.
Lembro-me
nitidamente de estar com um pedaço de pau nas mãos e que batia com todas as
minhas forças num boneco feito de roupas velhas e recheado com palha de milho,
acho que era palha de milho, disso não tenho muita certeza. Hoje, entendo que
vivenciava com meus amigos um processo catártico, onde desforrávamos as nossas
frustrações infantis.
Na
frente do Bar Bacan havia uma área livre bastante grande, que se aprofundava, a
partir da calçada, para dentro do terreno construído. Naquela área muitas
coisas aconteciam, inclusive a Malhação de Judas e o Pau de Sebo, como naquele
ano de 1966. Também me lembro vagamente de uma festa junina, com quadrilha,
fogueira e tudo o mais.
Muitas
coisas aconteciam nesse bar, que não era apenas um bar onde, nos fins de tarde,
os operários têxteis faziam uma parada rápida para um trago
de cachaça no meio do trajeto até as suas moradias. Lá também funcionava uma
mercearia onde muitas famílias do entorno compravam pelo sistema de caderneta.
Também havia uma cancha de bocha muito frequentada por jogadores de toda a
cidade.
Lembro-me que naquele bar eu adquiri as primeiras figurinhas da minha vida. Tratavam-se de
figurinhas de um álbum chamado Olé, que premiava as folhas preenchidas. Era
possível ganhar vitrolas, bicicletas e até um Fusca, entre muitos outros prêmios.
Não era fácil preencher as folhas com as estampas de jogadores de futebol. Não
enchi nenhuma folha, mas me lembro de um vizinho que ganhou um jogo de taças de
cristal bem vistoso. Não sei de nenhum ganhador do Fusca, o prêmio mais desejado.
Lembro-me que o bar também virou um local de trocas das figurinhas repetidas.
Voltemos
ao que interessa, ao Pau de Sebo, um tronco de eucalipto bem comprido, fincado
no chão e lambuzado de sebo, muito sebo. No topo havia um punhado de prêmios,
muitos prêmios, basicamente guloseimas variadas. O objetivo era escalá-lo e
receber a recompensa. No meio do caminho havia prêmios menores, que serviam de
estímulo.
Naquele
dia não consegui amealhar nenhum prêmio, apesar das inúmeras tentativas. Depois
de um certo tempo, com os meninos já todos lambuzados, alguém nos informou que,
se passássemos terra no corpo, ficaria mais fácil a subida. Ficamos lambuzados
e vermelhos de terra. Hoje, olhando para trás, não acredito nisso, acho que foi
pura sacanagem.
Já exaustos e desanimados, eu e meus companheiros vimos a chegada de um menino mais velho. Alguém nos avisou que ele era o Rei do Pau de Sebo. Realmente era. Rapidinho ele escalou até o topo e pegou tudo e enfiou num embornal que levava pendurado no pescoço. Tinha de tudo: doce de abóbora, de batata doce, paçoca, suspiro, maria mole, pé-de-moleque, balas, chicletes, bombons Sonho de Valsa, cigarrinhos de chocolate pan, dropes de anis e o desejadíssimo chocolate Diamante Negro e mais outras delícias.
Fiquei
com uma baita inveja e também com um sentimento de grande injustiça. Achava que
os moleques maiores não deviam participar da disputa. Acho que os outros moleques
sentiam as mesmas coisas, embora não comentássemos a respeito. Não me lembro de nenhuma menina participando da brincadeira do pau de sebo naquele ano. O machismo começava bem cedo naquela época. Apesar de tudo, devo
admitir, foi muito divertido.
Zildo Gallo
Põe-se
a apedrejar
Os
pés a caminhar
Põem-se
a chutar
Os
lábios a abençoar
Põem-se
a amaldiçoar
Humanas
condições...
Inevitáveis
condições?
Há
que se transcender
As
condições humanas
Se
esse é o preço
Que
se tem a pagar
Pela
permanência continuada
Da
paz... da paz... da paz...
Tudo
pela paz!
Inclusive a transcendência...
Zildo Gallo
Na sua realidade burra
De carregar pesos humanos
Esforços terceirizados
Asnos do mundo todo
Uni-vos!
Uni-vos!
Empaquem todos!
Empaquem juntos!
Vocês só têm a perder
As suas rédeas curtas
E o pau duro
No lombo dolorido
Zildo Gallo
As
casas têm seus números
As
pessoas também têm
Seus
nomes e seus números
E
habitam as ruas com seus nomes
E
as casas com seus números
Bem
facilmente acháveis elas são
Assim
são as cidades hoje
Com
seus citadinos cidadãos
Cada
vez mais numerados
E cada vez mais encontrados
Zildo Gallo
Caem os impérios
A
vida continua
Arruínam-se
as casas
A
vida se molda
Restam
humanos solitários
Brincando
de não morrer
Inglória
peleja
Busca
alucinada
Em
esticar a existência
VITA
BREVIS!
CARPE
DIEM!
Zildo Gallo
Na
lagoa a vida subsistirá
Torçamos
pelo coaxar dos sapos
Para
que também possamos subsistir
Aqui
neste vasto e belo mundo
Assim
é a vida na Terra
Uma
aliança delicada entre mamíferos
E
batráquios e tudo o mais
Uma
corrente de elos delicados
Mas poderosos
Que
não pode ser rompida
SAPO,
COAXA!
ZILDO GALLO
Cadê a velha e bela Curitiba,
Aquela cidade-poema de Paulo
Leminski,
Poeta em delírio divino a
misturar
Trótsky, Jesus e Bashô?
Tudo se misturava e tudo ficava
certo,
Numa improvável liberdade
manifesta.
Em que poderoso feitiço ela se
prendeu
E se perdeu?
Que sombra estranha desceu
Sobre suas ruas, avenidas e
parques?
Kawazu lunar, em desespero, te
pedimos:
Vocaliza seu mágico canto,
Um haicai de encantamento,
Naquele lago de águas serenas,
Bem debaixo das robustas grades
Da imponente Ópera de Arame,
E devolve o brilho a essa urbe
Que, muito mais que de repente,
se transformou
Em tenebroso presídio das
esperanças,
Das alegrias,
Dos sonhos
E das liberdades.
COAXA, KAWAZU CURITIBANO!