AO MINEIRINHO POETA

Zildo Gallo

https://catracalivre.com.br/wp-content/uploads/2013/03/drumond-de-andrade.jpg

Estou aqui sozinho e cismando...

Mundo mundo vasto mundo...

O mundo não é só dos Raimundos,

É também dos Josés e Marias.

Será o mundo uma rima perdida

Num poema do saudoso Drummond?

O mundo vai muito... muito além

Da Itabira do ouro breve e tardio

E do ferro dos tempos presentes.

Contudo, as montanhas itabiranas

Pariram riqueza muito maior,
Uma riqueza de verdade:

Carlos Drummond de Andrade,

O poeta que veio para ser gauche

Nas províncias da Terra Brasilis,

Que ainda está por se descobrir.

Uma terra que se encontra além

Das muitas casas entre bananeiras,

Nesta vida besta e bem devagar,

Olhada devagar pelas janelas,

Mas com um vasto coração.

HAIKAI DE ORIGAMI

Zildo Gallo

http://origamiincorporadora.com.br/origami/

Folhas dobráveis

Mãos meditando formas

As aves voam

REZA

Zildo Gallo

https://cruzterrasanta.com.br/terco-em-madeira-de-oliveira-com-terra-de-belem/49/111/

Só rezando Ave Maria

Neste vale de lágrimas

Toda hora e toda dia

Com fé na penitência

Que venha a Santa Cura

Nesta curta existência

O Senhor está contigo

Peço que a Ele me apresente

Pra que Ele esteja comigo

Em cada conta do Rosário

Senhora Divina Mãe

Suavize o meu Calvário

Amém! Amém! Amém!

MENINO E JABUTICABA

Zildo Gallo

https://www.viveiroambiental.com.br/produto/jabuticaba-sabara

Moleque, chega de jabuticaba!

Saia debaixo desse pé, já já!

Você quer se explodir?

Já pra dentro, vem pra cá!

Você quer se entupir?

De jeito e maneira,

Não saio mesmo, não.

Entupimento... entupimento...

Que me importa?

Eu bem que me aguento.

Na sombra da jabuticabeira,

Só enxergo as pretinhas,

Bem redondinhas,

Bem docinhas... bem docinhas...

O resto tudo é bobeira.

Purgante de rícino!

Nem ligo... tô nem aí,

Nem um bocadinho,

Para os nós no intestino.

Vou chupar é bem tudinho.

Jabuticaba demora tanto...

Por que demora tanto assim,

Alguém aí me diz?

Se eu me entupir...

Ara sô, me entupo bem feliz!

MIND THE GAP (poema londrino)

Zildo Gallo

https://en.wikipedia.org/wiki/Mind_the_gap

Cuidado com o vão

E com os caminhos

De aventuras vãs

De amores vãos

O chão tem armadilhas

Em especial aos viajantes

De estradas underground

É só um sinal de alerta

Aos caminhantes ensonados

Mind the gap

Mind the gap

Sem nenhuma repressão

Viajar é necessário

 

https://www.jn.pt/mundo/mundo-insolito/interior/a-historia-da-viuva-do-mind-the-gap-3098581.html

MANGA ESPADA (manga chupada)

Zildo Gallo

Empunhar a espada dourada,

Suculenta abundância,

E verter o caldo amarelo na língua,

Saboreá-lo e senti-lo descendo,

Saborosa densidade,

Goela abaixo

E lambuzar-se sem dó

De cima até embaixo.

Não tem como chupar manga

No mais completo dos prazeres

Com a etiqueta de bons modos,

Tentando menino educado parecer.

A doce manga sempre nos remeterá

Aos nossos mais primitivos,

Aos nossos mais selvagens

Dos prazeres bem escondidos.