quinta-feira, 8 de setembro de 2016

O SIGNIFICADO PROFUNDO DA EPOPÉIA DE GILGAMESH

Esta crônica foi publicada originalmente em 18 de novembro de 2014 com o seguinte título: A Epopeia de Gilgamesh ou o verdadeiro sentido da vida. Por conta das imensas e incontáveis turbulências vividas nos dias de hoje pela humanidade em todos os quatro cantos do nosso planeta, resolvi republicá-lo hoje, dia 8 de setembro de 2016. Á crônica!

A Epopeia de Gilgamesh ou o verdadeiro sentido da vida (18/11/2014)

Zildo Gallo

          
Neste artigo reporto-me à primeira epopeia registrada por escrito pela humanidade, onde já aparecem relatos que comporão muitos anos depois o Antigo Testamento da Bíblia, livro sagrado de judeus e cristãos. Só tenho o fito de extrair ensinamentos universais dessa obra. Trata-se do poema épico sobre as aventuras Gilgamesh, rei semilendário de Uruk, na Mesopotâmia. As aventuras aconteceram há vários milênios,  na primeira metade do terceiro milênio a.C. Fábio Konder Comparato (2006, pp. 689-691), em Ética: Direito, Moral e Religião no Mundo Moderno, faz uma leitura no mínimo interessante sobre essa obra, com o objetivo de se apro­ximar do entendimento sobre o verdadeiro sentido da vida humana, uma questão ética fundamental. Serão relata­das, a seguir, bem resumidamente, a lenda e a interpreta­ção de Comparato a seu respeito.
Gilgamesh era um rei absolutista, que utilizava todos os homens jovens como mão de obra em construções faraônicas e como soldados em batalhas inter­mináveis. Também utilizava todas as mulheres jovens para satisfazer seus desejos pessoais. Tal situação revoltava os habitantes e, acolhendo as suas queixas, a deusa Aruru resolveu criar com barro um antagonista para enfrentar Gilgamesh. Assim nasceu Enkidu, que vivia como selvagem no meio dos animais da floresta.
Ao saber da existência de Enkidu, Gilgamesh decide atraí-lo para a cidade, utili­zando os serviços de uma sedutora cortesã. Depois de sete noites e seis dias mantendo relações amorosas com a enviada de Gilgamesh, o selvagem foi domes­ticado e conven­cido por ela a se estabelecer no meio urbano.
Quando chegou a Uruk e foi apresentado a Gilgamesh, Enkidu ficou indig­nado ao vê-lo procurar manter relações sexuais com uma noiva de um cidadão de Uruk logo após a ceri­mônia de casa­mento. Então, os dois iniciaram um violento combate que estremeceu toda a vizinhança. Após a longa luta os dois se reconciliaram e tornaram-se grandes amigos. Tempos depois ambos decidiram fazer uma expedição à floresta dos cedros (atual Líbano), para eliminar o monstro Hum­baba. Além desse feito, ainda mataram al­guns leões e, voltando para Uruk, mataram o touro celeste, uma heresia...
Por ter ofendido a deusa Ishtar, Enkidu morre, o que faz Gilgamesh lembrar da sua mera condição de mortal. Assustado pela perspectiva da morte, ele faz uma longa viagem para encontrar Utanapishti, que, após sobreviver ao dilúvio, tornou-se imortal. No meio do cami­nho a bondosa deusa Siduri o adverte de que jamais será um imortal, condição reservada apenas aos deuses. Em lugar de procurar a imortali­dade, diz a deusa a Gilgamesh que ele apenas deveria voltar à cidade, desfrutar dos pequenos pra­zeres da vida, cuidar carinhosamente de sua mãe e buscar ser feliz com sua esposa.
Apesar da advertência, Gilgamesh decide continuar e acaba encontrando Uta­napishti. Este também lhe adverte, dizendo que seu desejo de se tornar imortal é insen­sato. Então, Gilgamesh pergunta por que só ele, Utanapishti, entre todos os humanos, tornou-se imortal. Então, Utanapishti conta detalhadamente a história do dilúvio. Foi assim: o deus Enlil decidiu, em sua fúria, destruir a humanidade. Utanapishti foi avisado em sonhos pelo deus Ea sobre a catástrofe e recebeu instruções para construir um barco para si e sua família, capaz de abrigar também artesãos e técnicos de todo tipo, bem como exemplares de cada uma das espécies de animais. Cessado o dilú­vio, Enlil caiu em arrependimento e, para compensar, concedeu vida eterna a Utanapishti e sua es­posa.
Após ouvir essa história, Gilgamesh decidiu voltar para Uruk, convencido de que, como os homens não podem desejar a imortalidade, a sabedoria consiste apenas em procurar o que está verdadeiramente ao seu alcance: uma vida alegre e pacífica entre os seus.
Para Comparato (2006, p. 691), a grande lição que se deve tirar dessa antiga lenda é que a convi­vência pacífica de povos e indivíduos, ainda que destinados todos a desapa­recer um dia, é preferível à insensata busca pela imortalidade. “Para os seres hu­manos, viver não é um simples existir biológico. O verdadeiro sentido de nossas vidas reside na convivência harmoniosa entre todos, sem exceções”.

Referência

COMPARATO, Fábio Konder. Ética, direito, moral e religião no mundo moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

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